As aventuras de uma jovem intelectual envolvem muitos livros, leituras, escritos, “viagens” e muita criatividade. Sou formada em filosofia. Mas aí já rola o desconforto: rotulo-me. Como se isso definisse a minha verdadeira essência, como se eu não tivesse uma real identidade, até mesmo, como se eu não fosse uma pessoa, fosse uma coisa. Estamos sendo e estando coisificados. Em seguida perguntam-me: Você faz o que? Eu penso, sempre penso... : Estudo! Estudo, pesquiso e escrevo. Assim como estou escrevendo para vocês agora, para que leiam e reflitam.
Partindo desta premissa, não posso escrever algo que não seja relevante para a vida prática de vocês. Certo? Errado. Vou contra a aplicação de um conceito preciso. Escrevo sobre algo abstrato, e que abrange o todo. E certamente não deve ser tomado como “auto-ajuda”. Pois a filosofia deve ser cultivada, semeada (no sentido literal) e não usada como um “manual”. A importância da propagação do saber filosófico é essencial para que as verdadeiras mudanças ocorram.
Como já disse “eu” estudo. Mas estudo o que? Estudo Teoria Crítica, Walter Benjamin (e a turma da Escola de Frankfurt). Mas o que isso tem haver com a sua vida? O que se pretende? Qual a finalidade? Aliás, finalidade é uma palavra muito em uso. É comum dizermos: para que serve? Qual o seu fim? O que importa é como iremos usar isso em benefício próprio. Como obteremos mais sucesso.
Hoje, a sociedade está tão fragmentada, dilacerada que o sentido de totalidade está perdido. Ao contrário do que se pensa, o indivíduo não está mais autônomo, livre, do que no final do século XIX. As amarras sociais estão confortavelmente dispostas. O indivíduo circula por esse “hiper-campo” de bens de consumo dependendo cada vez mais do sistema que o oprime. A liberdade foi perdida. Cabe a filosofia retomar a Razão. Ou em outras palavras fazer a revolução, mas como?
A filosofia da história de Benjamin já dizia que a emancipação dos indivíduos está muito ligada à imagem. A imagem daquilo que está abandonado, esquecido, do “fantasmagórico”. Já o teatro, a poesia de Bertolt Brecht (Perguntas ao operário que lê) o complementa. Numa postura quase didática prepara a classe operária, para aquilo que Benjamin conceitua como “rememoração”. Pois será através dessa rememoração que as atrocidades do passado vêem a mente e pode-se ter consciência de todo o mal que a humanidade cometeu. Pois como Benjamin afirmou em suas “Teses sobre o conceito de história” (1940): “Todo monumento de cultura é também um monumento de barbárie”. Assim, quando vemos as pirâmides do Egito, temos os milhares de escravos. Ou quando na convencional aula de história ouvimos sobre Alexandre, o grande, nunca paramos para pensar que ele não chegou às Índias sozinho. Mesmo aqui no Brasil, a questão dos indígenas oprimidos pelos colonizadores está sendo varrida para baixo do tapete a mais de 500 anos.
Um dos diversos papéis sociais da filosofia é esse, propor o esclarecimento. Nas minhas breves linhas de divagações queria explicitar, expor, apontar, delimitar. Para que a compreensão de algo tão importante não acabe se perdendo neste tempo em que a aparência, o consumo e as relações pessoais enfraquecidas estão em voga.
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8 comentários:
“Todo monumento de cultura é também um monumento de barbárie”.
De fato. Queria ler mais coisas que escreve.
Cadastrei no "Google Notícias" o termo: Marilena Chauí. Toda vez que isso sai na Internet, recebo um alerta do Google e corro para ler. Um desses alertas me levou ao site "Bom Dia Bauru", onde li uma entrevista sua (cujo nome da filósofa aparece). Lá há o endereço do seu blog, que visitei, gostei e adicionei aos meus favoritos.
Acho que isso é tudo.
Ah! Já ia esquecendo: Começo em 2008 o curso de Filosofia aqui na minha cidade (Santos/SP).
Um abração e parabéns pelo blog.
t.
obrigada pela visita...pode mandar as suas duvidas ou sugestoes.
blogmaster
Entrei no seu blog, espero que continue entrando aqui e que aprecie o curso de filosofia...
obrigada
Tenho todas e mais algumas dúvidas (que as pessoas ainda não possuem), serve?
Sugestões: continue.
;)
ué, serve, sobre o que você quer saber? Se interessa por algum autor?
Talvez voc� leia, talvez n�o.
Marcuse (Razao e Revolu�o):
"A filosofia atinge sua meta quando formula a vis�o de um mundo no qual se realiza a raz�o. Se neste momento a realidade reunir as condi�es necess�rias para materializar a raz�o, o pensamento pode deixar de se referir ao ideal. [...]. O �pice da filosofia � pois, ao mesmo tempo sua renuncia" p.34
e para completar a mensagem
"A teoria preserva a verdade mesmo se a pr�tica revolucion�ria se desvia de seu caminho pr�prio. A pr�tica segue a verdade, e n�o a verdade � pratica"p.276
eu nem ia por, mas Adorno � fora do comum, merece:
"Quem quiser [...] a verdade da vida [...] tem que investigar sua configura�o alienada"
espero que voc� esteja bem..
to com saudades,
bjs
Daniel
Lixo!!!! huahuahuahuahuahuahua... Bjão Ju!
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