quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pneu furou, acenda o farol, acenda o farol!

Caro leitor, tem dias que tudo parece acontecer com a gente. Sabe, não fatos isolados, mas uma avalanche de coisas. Isso nos dá uma sensação de estar fora do nosso corpo. Como se estivéssemos descolados do próprio corpo e nos projetássemos para fora. Pelo menos eu me sinto assim. Não sei você. Mas, com certeza, você, leitor, deve sentir alguma estranheza especifica quando seu dia está tomado por uma soma desenfreada de coisas.
Não sou dramática, sou realista. Temos muitas coisas para fazer, exigem-se muito de nós. Falo em nós, porque acredito que não estou “nessa” sozinha. Falo em nós, porque acredito que muitos têm esse sentimento. O sentimento de que 24 horas é pouco. O sentimento que o dia passa rápido demais.
A rapidez, a eficiência, a produtividade está sempre em primeiro plano. Temos metas, objetivos. Temos que gerar lucro, sempre. Mesmo no âmbito intelectual, ou até mesmo, artístico temos que seguir estas regras.
Eu vou ser bem sincera, quero mais sossego, uma casa no campo pelo menos por 15 dias no mês seria muito agradável. Sem o barulho dos motores, das buzinas, o caminhão (chatérrimo) do gás, e dos produtos de limpeza, se não me engano, Pamambi.
Quem não assistiu, assista, o clássico sempre atual “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, mesmo nos anos 1930, esse sentimento do rápido, do transitório e do efêmero já fazia parte do universo dos indivíduos. A alienação no trabalho, na vida, no lazer, na produção é fato consumado e permanente – pelo menos nesse sistema econômico.
Desde a revolução industrial estamos caminhando para o colapso do próprio homem, do próprio SER HUMANO. A subjugação do homem pelo próprio homem, ou seja, o domínio do homem por outro homem.
Mas eu estou fugindo do tema que eu propus para mim mesma nesta semana. Eu comecei falando em dias ruins, e acabei deixando no ar que todos os dias podem ser ruins no sistema capitalista, no qual poucos pensam e muitos executam, como na dicotomia execução-produção.
Mas o filosofar tem dessas coisas, a divagação é sempre um risco. Mas foi uma fuga consciente, porque esse tema da alienação e da nossa perda da identidade é realmente mais interessante, do que o meu dia ruim. Só porque no meio da madrugada o pneu do meu carro furou, o estepe estava murcho, e a bateria acabou, não é motivo de fúria e indignação para eu escrever aqui.
Temos que nos indignar sim pela nossa falta de tempo e tolerância, pela venda de nossas horas livres. Porque você sabe né? Nós vendemos a nossa força e nosso tempo para o patrão, quando aceitamos um emprego. E o valor que você vende o seu tempo livre é justo? Está justa a divisão dos lucros?
Eu não tenho aqui – neste pequeno e valioso espaço – pretensão alguma em fazer algum tipo de revolução. O próprio Marx já tinha “se ligado” de que o tempo para se fazer a revolução havia passado, que a tomada de consciência dos operários estava longe de acontecer. O século XX chegou, aumentou a classe média, e todos estavam atrelados em demasia ao sistema econômico ao adquirir bens de consumo. Esse trabalhador já era alienado o suficiente e não se reconhecia mais nos produtos que produzia.
Então, o que nos resta fazer? Cruzar os braços e ver o quanto robóticos nos tornamos?
O poeta Thiago de Mello, em “Os estatutos do homem”, sintetiza o sentimento de indignação que está me consumindo e me entristecendo. Mas neste trecho do Artigo XIII, a esperança de dias melhores me alegra: “Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras”. A esperança é sempre positiva.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Pôr em prática!

Uma semana em nome da pátria, em nome da independência, da emancipação. Os antagonismos estão sempre presentes em nosso dia a dia. Coreanos são assassinados, roubados, ameaçados e coagidos. Aqui o fim de semana com as cores do arco íris da diversidade. Como a realidade é contraditória, as dualidades estão sempre dando o tom.
Ao mesmo tempo em que avançamos frente ao preconceito, regredimos violentamente em outros momentos.
As pessoas preferem escolher um determinado dia para permitir a diversidade, mas o que deveria, sim, ser regra é a escolha da diversidade todos os dias.
Um dia para comemorar, para festejar a diversidade é pouco diante da realidade de nossa sociedade. Eu acredito que ao escolhermos um determinado dia estamos limitando, determinando. Direitos iguais para todos os seres humanos! Sempre!
O ser humano é engraçado – ironizando para não cair num pessimismo sem fim – abre algumas concessões e se fecha em outras. Mas no caso não o ser humano, mas a humanidade em si, envolvendo todos os seus aspectos e âmbitos históricos.
O terror aplicado aos coreanos em São Paulo, pela “Mooca Chapa Quente” (MCQ), uma gangue com mais de 60 adolescentes e jovens, ilustra o problema principal: do preconceito com as diferenças. O modus operandi da MCQ, segundo o jornal O Globo, “consiste em pichar seus símbolos nas casas de orientais e descendentes para sinalizar que a residência é o próximo alvo. O sinal verde para o assalto também pode ser detectado por um plástico ou pano amarrado no portão da casa. Os criminosos espancam vítimas, ameaçam atear fogo a seus corpos e exibem orgulhosos o dinheiro roubado e o armamento do grupo em sites da internet”. O que mais me assusta é essa necessidade de exibir como um troféu os crimes, a internet tem a função de podium para aquele que mais-violência dissipar.
Portanto vamos refletir, vamos analisar a situação proposta pela semana da diversidade. Temos que ser mais HUMANOS, temos que nos unir, amai uns aos outros, no sentido extremo de amor pleno. Coreanos, gays, deficientes, brancos, negros, índios, todos juntos! Não importa a etnia, o credo ou a opção de vida, nem a condição de vida.
Muitos falam que em Bauru tivemos, no último domingo, a “parada gay”. No entanto, eu acredito que a proposta desta mobilização é muito mais abrangente. Porque o título é “Parada da Diversidade”, no sentido amplo, no sentido de respeitarmos aquilo que a sociedade civil estabeleceu como diferente.
Porque devemos ser de determinada forma? Como estabelecemos os nossos padrões? O que é certo ou errado? Todas as respostas estão calcadas na História, assim mesmo com “H” maiúsculo, uma história da História universal, às vezes, como no caso de Hegel, personificada no Espírito Absoluto. Analisando todo o percurso cultural-histórico temos o preconceito como algo enraizado. Essas barreiras têm que ser vencidas. Temos que pôr em prática a nossa Razão, não uma razão instrumental, tecnificada, mas sim uma Razão que englobe todo o caráter emancipatório do homem. Porque se não focarmos nessa Razão (maior), podemos cair novamente num estado de exceção, onde o fascismo reina. Onde a violência é o motor que une todos num clima de terror.
Não podemos voltar aos tempos da 2ª Guerra Mundial, onde o preconceito pelo diferente trouxe tantas dores. A ordem é amar, sempre. Amar o ser humano em geral, não restringir, não particularizar. Não adianta nos fecharmos em gangues, tribos ou turminhas, temos que nos relacionar com o mundo e com todos!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Lixo: para onde vamos mandá-lo?

Você já parou para pensar para aonde vai todo o lixo que produzimos? Se fossemos ingleses seria fácil esta questão. Era só mandar tudo num container para algum país da América do Sul, mais especificamente, o Brasil. Na verdade não foi apenas um container, mas sim 56! Ou melhor, 900 toneladas de lixo comum. Leia-se camisinhas e fraldas usadas, seringas, restos de comida... Dizem que havia até brinquedos com recados para fossem dados às crianças brasileiras. Simplesmente um absurdo, que só poderia partir de uma monarquia decadente. Vale lembrar que isso parece ser uma prática comum dos países da Europa, que mandam seu lixo para a África e Ásia. E não é só lixo, propriamente dito, que eles andam mandando pra outros países… tem o “lixo” de gente também.
O mundo está inflado, super populoso e, ainda por cima, sem consciência ecológica.
Mas a culpa é de quem?
A culpa é do sistema capitalista de produção, que só sabe incentivar o consumo e a produção desenfreada.
O problema todo teve início quando a burguesia comprou a sua liberdade e saiu por ai desbravando mares, conquistando territórios e ampliando mercados. Com o aumento da produção surgem as fábricas, com as fábricas surgem o proletariado. E toda uma lógica de consumo.
Taylor em seu livro, Princípio de administração científica, propõe a racionalização da produção, com a finalidade da produção em massa. Já Henry Ford introduz a linha de montagem na produção automobilística, que século XX se expande, a partir dos EUA, para todos os ambientes, visando mais eficiência.
O mundo só pensava em produzir para o consumo desenfreado. Sem consciência das agressões ambientais.
Ainda hoje, no século XXI, temos a ilusão de uma consciência ambiental. Separar o lixo ainda é uma luta, as pessoas têm preguiça. Ao invés de consertar um aparelho quebrado preferimos jogar fora (mas aonde é o fora?) e comprar um novo, porque a lógica capitalista afirma que é mais barato comprar um aparelho tecnológico novo, do que consertar. Realmente, arrumar fica caro, é mais vantajoso ter um aparelho novo com nova tecnologia, mas é vantajoso para quem? Aposto que para o nosso planeta e para os técnicos em conserto não.
Há duas semanas uma equipe de cientistas e ambientalistas partiu de São Francisco, nos EUA, em busca do que alguns chamam de "A Ilha do Lixo" – um redemoinho de lixo no Oceano Pacífico formado por mais de seis milhões de toneladas de plástico. O amontoado de lixo flutua à deriva entre a Califórnia e o Japão.
A que ponto chegamos? É como arrastar para debaixo do tapete a sujeira. Não temos aonde por em terra, joga-se no mar.
Segundo o site portaldomeioambiente.org.br, “o redemoinho foi descoberto em 1997 pelo oceanógrafo Charles Moore. Ele ignorou os alertas de não passar pela região, onde faltam ventos e correntes, e acabou descobrindo o acumulado de lixo. Durante a viagem, o oceanógrafo encontrou pedaços de garrafas, sacos plásticos, seringas e uma variedade enorme de outros objetos de plástico em vários estados de conservação, já que, devido à ação do sol e dos ventos, o material se desintegra em fragmentos pequenos que flutuam durante anos, obedecendo às correntes marítimas”.
Só para termos dimensão do lixo que está lá. Ele é duas vezes maior do que a superfície do estado norte-americano do Texas. É muito lixo!
Mais de uma década descoberto e ninguém fez nada para resolver o gigantesco problema. Porque o lixo está em águas internacionais, ou seja, não é do governo de nenhum país. Mas isso não significa que não influencie todos os países do mundo. Peixes estão morrendo, águas são poluídas, e o problema é de quem? Vamos olhar com mais carinho e consciência para o nosso lar, o nosso planeta!