segunda-feira, 9 de março de 2009

A passagem da aura da obra de arte para a sua reprodutibilidade técnica

(Texto publicado no Jornal da Cidade de Bauru em 22/02/2009)
A partir das décadas de 1920 e 1930 começaram os estudos e a avaliação da cultura popular. Os fenômenos marcantes foram o advento do cinema, do rádio, a produção e o consumo em massa, a ascensão do fascismo e o amadurecimento das democracias liberais em alguns países. O fato da cultura tornar-se reproduzida infinitamente – graças ao desenvolvimentos tecnológicos – trouxe problemas consideráveis sobre arte e cultura na sociedade. Os pensadores da cultura de massa não consideram o cinema como arte, pois no seu processo de elaboração e exibição, o filme não possui a “aura” de uma obra de arte autêntica; nem pode ser cultura folk porque não se originam mais do “povo”.
Junto com a imprensa popular, o rádio e o cinema foram os primeiros meios de comunicação de massa tipicamente modernos e estiveram ligados aos regimes totalitários para o uso de propaganda, transmitindo a ideologia oficial do regime fascista porque permitiam o controle centralizado e alcançavam vasta audiência. Isso gerou receio e angústia por meio dos intelectuais que estudaram o crescimento da sociedade e da cultura de massa estimulando as discussões sobre tais temas.
Dentre estes intelectuais estava Walter Benjamin, tido por alguns como membro da conhecida “Escola de Frankfurt”, mas na verdade ele nunca se filiou, era considerado um “companheiro de viagem”. Benjamin escreveu um dos ensaios teóricos sobre arte popular mais lido no século XX: “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (1936). Mas o que, afinal, ele afirmava neste ensaio?
Benjamin avalia à sua maneira, os efeitos da produção e do consumo de massa e da tecnologia moderna, sobre o status da obra de arte, assim como suas implicações às formas contemporâneas de arte popular e cultura popular. Segundo ele, a obra de arte, devido a sua original imersão em rituais e cerimônias religiosas, adquire uma espécie de “aura”, que atesta sua autoridade e imparidade, sua singularidade no tempo e espaço. Estabelecendo-se no centro de práticas religiosas, a obra de arte adquiriu uma função ritualística, e sua aura é associada à religião até a Renascença. Nesse período iniciou-se a luta pela autonomia artística que tentou provar que a obra de arte era única em seu próprio direito, independente de qualquer consideração religiosa e que ser um artista era uma vocação singular, privilegiada através do conhecimento da verdade da existência humana. Essas idéias reforçaram-se no movimento da "arte pela arte", de meados ao final do século XIX. Foi uma reação à emergência da industrialização capitalista e da comercialização da cultura e as ameaças que ambas representavam à aura da obra de arte.
São esses efeitos da época da reprodutibilidade técnica que Benjamin aborda no ensaio em questão. Seu primeiro exemplo é a fotografia que permite uma grande variedade de cópias. Para ele, a técnica da reprodução destaca do domínio da tradição o objeto reproduzido na medida em que ela multiplica a reprodução, substitui a existência única da obra por uma existência serial. E, na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao encontro do espectador, em todas as situações, ela atualiza o objeto reproduzido. Esses dois processos resultam num violento abalo da tradição. E o seu agente mais poderoso é o cinema.
Mas isto não é condenável aos olhos de Benjamin. Ele aponta um lado positivo no cinema, apesar da obra de arte ter perdido a “aura” e a sua autonomia, ela tornou-se mais acessível, atingindo às massas. O valor de ritual passa para valor de exibição, a sociedade do espetáculo estava se delimitando. Outro fator positivo que se pode identificar com o cinema é que ele preparava as massas para a vida no mundo contemporâneo, na medida em que o espectador, através da montagem rápida e com cortes era “vacinado” contra as psicoses do mundo a sua volta. Assim, pela primeira vez, nas palavras de Benjamin, o cinema abriu as portas para o inconsciente ótico.
Juliana de Souza, mestranda em Filosofia pela Unesp de Marília e professora da USC. Atua nas áreas de Estética, Teoria Crítica, Ética e Filosofia Cotemporânea.

Verão

Eu gosto de amarelo. Mas não o amarelo-sol que invade as nossas casas dos dias quentes de março. Dizem: Estamos em “pleno verão”. Com certeza é pleno, em toda a sua temperatura elevada, que parece sugar nossas energias, levando-nos a um estado de embriaguez.

Estranhamento



Tudo me parece mais interessante do que a minha dissertação, nem as teclas me são familiares, a mira não é atraente, o sentido das palavras se desfaz. Pensar em mil coisas, coisas que são importantes que dão ânsia são, certamente, urgentes também. Contudo há coisas mais urgentes, como a minha vida acadêmica. A vida acadêmica é solitária e obscura, pelo menos para mim. Mesmo esse texto (?) que era para ser algo alegre, já toma ares taciturnos. Já quero me lamentar e sofrer, porque a vida é tão injusta, por que o porque do por que? Será o meu “eu lírico”, um eu lírico romântico? Daqueles do tipo dos jovens obscuros, como Álvares de Azevedo? Será que estou a procura de uma alcova? Ou apenas sou uma inconformada com a realidade existente, vigente e atual? Ou ainda, conscientizo-me de que essa reflexão me alerta como eu estou próxima da lírica surrealista e do espírito critico de Walter Benjamin? Acho mais louvável e próspero que eu realmente me identifique com a temática da pesquisa, fico com a terceira questão. Mas não sou arrogante para afirmar que sou algum tipo de Nadja, nem conheço Paris...Apenas me idenfico.