domingo, 30 de agosto de 2009

Tô Só

(Crônica de Hilda Hilst para o "Correio Popular" de Campinas-SP)

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.

* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959.

(Segunda-feira, 16 de agosto de 1993)
“Irreconhecível
Me procuro lenta
Nos teus escuros.
Como te chamas, breu?
Tempo.”
Hilda Hilst: Da Morte, Odes Mínimas

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um quilo de sal

Por que muitas vezes nos sujeitamos às situações que nos causam desconforto? Será falta de personalidade em dizer não a tais situações?
Ela, por muito tempo, não sabia como agir... Segurava o desconforto. Angustiada, tentava não estourar. Mas sempre estourava, porque aquilo não fazia parte do seu universo. Ela não suportava mais o desgaste que ele provocava em sua vida. Não queria assumir que o melhor a fazer era jogar tudo para o alto e o mandar para “o raio que o parta”! Tomar uma atitude sempre é difícil, doloroso. Doloroso para quem toma a atitude, doloroso para quem toma o pé na bunda.
Mas quando a situação é insustentável não se tem muita escolha. Mudar é quase impossível. O mundo se tornou muito individualista, ninguém quer ceder, ninguém quer perder. Nesse grande jogo as regras não são claras, e o coração sempre sai ferido.
O que mais impressiona os sentimentos dela é a falta de sentimentos dele. Ele não tem caráter, não sabe que mentir compulsivamente é uma patologia.
Ela, as vezes estando com ele é triste (mesmo ele afirmando que nunca faz por mal). Está cansada de ouvir que ele é imaturo, parece que todos tentam encobrir o desvio de caráter dele. Ela tenta enxergar coisas boas. Mas as ruins acabam se sobressaindo em alguns momentos.
O que ela pode fazer? Qual atitude tomar em relação a ele?
Seria melhor dar um fim em tudo, seria o mais ajustado, o mais racional. Mas ela sofre, com as coisas do coração não há razão, não “rola” teorizar muito. É paixão, sentimento instintivo, bem-querer. O racional não se aplica ao amor.
A felicidade existe entre eles, apesar de não ser constante, mas o que é constante? O que é certo ou errado? Quem é dono da verdade absoluta para afirmar ou negar com certeza plena? Eles deveriam ser mais unidos em meio a esse mundo de desunião. Eles são jovens – e alguns podem até dizer – que são inexperientes. Mas eles têm esperança em um dia morarem juntos. Acreditam profundamente que a culpa da desunião é a diferença geográfica.
* * *
(Só mais uma taça de vinho, já estou terminando essa história, que pode ser minha como pode ser sua).
* * *
Ela é astuta, ele é de touro. Ele não tem regras, ela é metódica. Ambos são geniosos. E nenhum gosta de café. Mas acreditam que combinam na diferença. O relacionamento é como uma relógio analógico, você tem que conseguir acertar os ponteiros, apesar deles não serem iguais, eles tem que caminhar juntos (tanto os ponteiros como o relacionamento). Ou como um amigo cearense me disse uma vez: “manter um relacionamento é comer um quilo de sal junto!”.
O ser humano é um ser social, por natureza vive em comunidades se relacionando, sempre. Aí notamos como é antinatural o homem querer se individualizar cada vez mais, se isolar, e ficar sem uma parceira, ou parceiro. O caminho é o da compreensão, da tolerância, da partilha, da amizade sincera. Sim, amizade! Porque não existe um relacionamento amoroso sem você ser amiga (o) do seu amado (a). Enfim, companheirismo no sentido pleno da palavra.
Mais uma coisa eu soube por ai, resumindo toda esta história... Ela o ama, e ele a ama também. Morrem de saudades e de ciúmes. Outro dia me falaram que eles planejam se ver, sempre que possível, e continuar juntos.
P.S. 1: Esta é uma história fictícia. Qualquer semelhança é mero acaso.
P.S. 2: Houve um erro de digitação no texto da semana passada, é Aldous e não Adous, “comi” o “l”.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os admiráveis reality shows

Na reta final, o reality show da Rede Record, A Fazenda, prova que a fórmula de agrupar pessoas reais e não personagens de um enredo ficcional dá certo.
Mas será que o enredo é realmente ficcional? Os cortes e as edições não privilegiam alguns? Há quem diga que o ator, ex-global, cantor (?), Dado Dolabella é o favorito ao prêmio de um milhão de reais. Segundo o jornal Extra On Line, “a família do ator decidiu pagar para pessoas votarem pela permanência dele no programa numa lan house do Rio. Os votos pela web tem o mesmo peso dos feitos por SMS e pelo telefone.” Quando da disputa de Dado com Pedro Leonardo e Danni Carlos.
O engraçado é quando termina o programa ou se é eliminado, o discurso é sempre o mesmo, para todos o importante é participar. Ter uma experiência de vida única num programa televisivo! Mas o que vemos é o interesse pelo dinheiro, e pela fama (que também pode trazer dinheiro).
Mas se você pensa que isso é coisa de 10 anos para cá, está enganado.
O fenômeno dos reality surge nos anos 1970, nos Estados Unidos, quando uma série – An American Family – retrata o divórcio, e a declaração de homossexualismo por parte de um dos filhos. (Já podemos notar como o efeito surpresa, ou melhor, revelação dá o toque especial deste formato). Nos anos 1980 outros programas surgem, como COPS e The Real World (Na real, MTV). Em 1999 John de Mol patenteia o formato Big Brother. E aí a história nós conhecemos... Survivor ou No Limite, é só adaptar para o país e seguir a mesma fórmula! A TV brasileira importou vários reality: Aprendiz, Supernanny, Esquadrão da Moda, Troca de Família, Astros, Ídolos, 10 anos mais jovem... Tem para todos!
E qual é o motivo de tanto sucesso? Faço o mesmo questionamento em relação ao Orkut. Analisado chega-se a conclusão de que o Orkut é um reality com proporções menores, mas o mecanismo de superexposição é o mesmo. Parece-me que as pessoas sentem necessidade, ou até mesmo, carência em suas relações humanas reais. Desta forma projetam-se em um avatar ou em um profile, para suprir necessidades. Com os programas em formato reality é a mesma coisa, há essa projeção, porque os participantes são pessoas reais, que mostram a sua realidade. Fica mais fácil, a partir desta ideologia, prender a atenção do telespectador.
O livro do escritor, hoje considerado cult, Adous Huxley, O Admirável Mundo Novo (1931), retrata através de uma “fábula” futurista uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não há vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos. Hoje a sociedade está organizada e fundamentada em torno dos aparatos tecnológicos, temos câmeras públicas em ruas, estradas, escolas, elevadores. E isso é demonstrado no livro. Então não é de se espantar achemos normal um bando de gente confinada, como gado mesmo, sendo filmada. Porque em nosso dia a dia já estamos sendo monitorados, e dê certa forma, também estamos confinados. A diferença está apenas na dimensão do espaço de confinamento.
Em um mundo no qual as pessoas se preocupam com assuntos alienantes e de pouco conteúdo emancipatório, não é de se assustar que no Top 10 da Internet quem está no topo das buscas é a Mulher samambaia, seguido do resumo das novelas. Do quase reality Edir Macedo e Campeonato Brasileiro. Do sonho: resultado da Mega Sena. Do fetiche: Juliana Paes. Das buscas funcionais como, futebol ao vivo e Climatempo.com.br. E as lanterninhas do Top 10, Ashley Tisdale (nunca tinha ouvido falar, dizem que é cantora) e Madonna (que nas últimas de net está se agarrando ao seu Jesus). Mais uma vez me pergunto e jogo para vocês se questionarem: Qual será o futuro desta sociedade?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Agir intencionalmente bem

Gripe suína, dias dos pais, indulto, volta às aulas, Sarney... O que fazer? Sobre o que falar? O que realmente nos importa? Esta semana assisti em duas emissoras diferentes uma coisa que me chocou – deve ser porque eu tenho muito nojo ou porque é nojento mesmo –, africanos comem ratos, inteiros, tipo espetinho de rato! Por isso repito: o que nos importa?
O sistema econômico mundial não funciona. Muitos têm uma vida digna, milhares não sabem o que é dignidade. O ser humano está se esquecendo da própria humanidade. Não nos importa mais quem é o outro, ou qual é a necessidade do outro.
O filósofo alemão Immanuel Kant no livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes fala da moral, do agir moral, do que é eticamente correto (é claro que não é um livro tipo manual, como agir moralmente bem em cinco minutos). Grosso modo o livro trata destas questões.
Kant acredita que ter boa vontade é a condição de toda a moralidade. Não importa se você saciou a fome de dez pessoas ou de uma, o que importa é a boa intenção. A vontade é boa quando agimos por dever, e não conforme o dever (que pode não ser moralmente boa). Quando uma pessoa age conforme o dever, ela pode estar movida por interesses egoístas. É o caso do vendedor que é honesto com os clientes visando apenas o lucro. Ele não engana, não rouba, não viola as leis. Exteriormente e legalmente a sua ação está dentro daquilo que deve ser feito. Mas o que está por detrás deste ato é promover o seu próprio negócio. Segundo Kant ele não agiu moralmente bem, porque, a sua ação foi apenas um meio para atingir um fim pessoal.
O valor moral de uma ação está sempre na intenção, logo, moralidade e legalidade – para Kant – não são sinônimos. Explicando: se a moralidade são as ações realizadas por dever, a legalidade engloba as ações que estão em conformidade com o dever, e que podem muito bem terem sido realizadas com fins egoístas. Para o filósofo, o que deve determinar o agir é a lei moral. Essa lei moral é constituída pelos nossos valores morais. Não se trata de saber se devo mentir ou não devo. Trata-se de encontrar o que está na base da minha opção pela mentira ou pela honestidade.
"Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal", ou seja, não faça nada que não possa ser adotado como exemplo para o mundo. Assim, a fórmula kantiana não nos diz para agirmos desta ou daquela maneira, não nos dá o conteúdo da lei, apenas nos indica a forma como devemos agir.
Contudo, nos dias atuais notamos que está cada vez mais distante de nossa realidade seguir uma vida moralmente plena. Agir conforme o dever, apenas porque tem que se agir desta forma acaba sendo a regra. Não usamos a nossa Razão, e nos esquecemos dos valores morais.
Infelizmente a maioria das pessoas só se interessa em ajudar o próximo visando um meio para obter algo. Com isso o ser humano acaba sendo instrumentalizado. Ele é um degrau a ser subido para se chegar ao topo, ao tão esperado sucesso.
A regra do dia é ser bem sucedido, ganhar bem, mesmo que para isso precise passar por cima de outras pessoas. Desta forma, não vemos o outro como um ser igual, um ser humano. Vemos como um objeto, uma coisa. Assim, ele acaba coisificado pelo sistema, e ao ser coisificado, vira um número, um dado nas estatísticas.
E qual a solução para este fim terrível? A meu ver, temos que ter uma boa educação e uma boa formação moral, com valores e virtudes bem definidos, para termos condições de identificar as mazelas de nossa sociedade vigente. O começo para a mudança é prestar mais atenção naqueles que estão ao nosso lado, e assim por diante, como em uma corrente.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ida ao teatro: Obscena Senhora D

Impresso sobre a peça impecável. Boa fotografia, bom resumo. Boas expectativas sobre a peça. Há alguns anos sou fã, se assim pode se dizer, de Hilda Hilst (escritora de Jaú, conhecida mais no mundo do que no Brasil). Seria uma honra ver uma encenação de “Obscena Senhora D”.
Munida do meu ingresso de estudante – sim, ainda sou estudante, mesmo sendo professora – fui ao SESC na última quinta-feira. Gosto do SESC acho que lá as coisas funcionam, uma amiga me transportou (lembrem-se ainda estou me reabilitando), parou na vaga de deficientes para eu não ter que andar tanto. E não é que as coisas lá funcionam mesmo! Logo que descemos as escadas o guardinha correu dizendo que a vaga era para deficientes, eu expliquei o caso, falei do joelho operado e ele disse: Mas e se a polícia passar? O carro não tem adesivo de deficiente! Eu fiquei com isso na cabeça, e cheguei a conclusão de que eu mesma não tenho carro próprio! Então essas vagas são apenas para deficientes com carro próprio? Se uma amiga te leva ela não tem direito de estacionar ali?
Chegamos quinze minutos antes do horário. Como não haviam lugares marcados entrei na fila. Entramos no teatro, aconchegante, com o problema de não ser inclinado, ou seja, quem estava na quarta fileira – meu caso – já não enxergava muita coisa. A Obsecena Senhora D. já estava no palco, mas as luzes ainda estavam acesas. Nisso uma senhora, quase obscena, levanta e faz o seu ato. Dizendo que estava incomodada com o barulho, e que a peça já havia começado (para ela poderia ser). No entanto, a peça não havia começado de fato. Mas a Obscena Senhora D. já provocava o público presente. Isto é o mais legal e interessante do teatro, ele incomoda, provoca, instiga, e o público participa. O ator encena diante do público mesmo, e não diante de um aparato tecnológico, como os atores de cinema e tv.
Apagaram-se as luzes e a peça começou. Todo um frisson tomou conta daquela sala, as pessoas estavam inquietas e não sabiam qual reação ter diante da atriz que encenava Hillé ou Senhora D. Alguns riam, outros ficavam parados. A minha dúvida é se riam porque achava engraçado ou achava que deveria rir. Logo as indagações metafísicas surreais tomaram o tom: "E o que foi a vida? Uma aventura obscena, de tão lúcida". As pessoas presentes se inquietavam nas poltronas, tentavam entender o monólogo que estava diante dos seus olhos. A atriz provocava, estava impecável como a obscena. No vão da escada de sua casa escura, essa obscena Senhora D. nos contempla através dos buracos dos olhos das máscaras. Para falar "dessa coisa que não existe mas é crua e viva, o Tempo", para cuspir em nosso rosto a pequenez, a perdição humana, para dizer que "ninguém está bem, estamos todos morrendo". Enquanto se dissolvem no aquário peixes pardos recortados em papel. O monólogo aguça ainda mais a imaginação do público, temos que montar mentalmente a narrativa e as cenas. Contudo a peça não fica cansativa e nem vulgar, apesar de obscena. Sons, gritos, urros, rouquidões. Impossível aventurar-se no texto de Hilst sem entrega. Inútil munir-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso envolve como águas – às vezes lodosas, às vezes claras – e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo onde tudo pode acontecer. Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. Sempre se pode gostar de porcos. Gostar de gente, também. Espero que depois de terem assistido a essa peça ninguém tenha saído ileso. Como não se sai, afinal, da própria vida.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Terapia para todos!

Fazer terapia devia ser direito de todos. Sempre pensei que fazer análise devia ser serviço prestado pelo SUS. Terapia é muito caro, uma sessão custa em média cem reais. Quem pode pagar? Apenas pessoas que ganham razoavelmente bem, ou seja, os mais favorecidos na esfera social. Contudo, há alguns lugares, como universidades, que oferecem esse serviço a preços mais acessíveis (geralmente com estudantes de psicologia).
Outra coisa. Infelizmente em nosso país muitas pessoas (o senso-comum) têm preconceitos enraizados – desde não sei quando – que mistificam a prática de ser analisado. A maioria acredita que quem procura ajuda psíquica ou é louco ou não tem capacidade de resolver os próprios problemas. Mas não é nada disso.
É muito interessante você marcar um horário, posicionar as suas idéias, falar e, principalmente, se escutar. O exercício de escutar a si mesmo é o lance mais importante. Quando paramos e nos escutamos podemos refletir a atitude que tomamos frente a um determinado problema ou situação. Quem nunca fez terapia fica imaginando e geralmente não entende quem faz.
Um alerta importante: se você quiser fazer terapia, procure se informar e pesquisar se o profissional escolhido é capacitado, e se estudou todas as vertentes do comportamento humano. Temos que tomar cuidado para não cair em armadilhas, ou em golpes de pessoas oportunistas.
Aqui no Brasil temos, em linhas gerais, a Psicoterapia Comportamental; a Breve (foca no problema atual); a Psicoterapia Corporal (trabalho com o corpo); a Psicanalística (Freud e seus seguidores) e a Psicoterapia Junguiana (baseada em Jung, dissidente de Freud).
* * *
Neste mundo moderno, no qual a velocidade e as relações inter-pessoais são fragmentadas e interesseiras, a terapia se torna imprescindível. O problema desta velocidade do mundo moderno em relação à terapia é justamente o seu “tempo de tratamento”. Muitos acham um absurdo fazer terapia por anos e anos, é mais fácil tomar um comprimido com ação imediata, dormir e esquecer as suas angustias, ao invés entender o porquê, o motivo que gera a angustia ou o trauma.
Temos temores e inquietações que muitas vezes não sabemos nem de onde surgem. A solidão nos assola mesmo quando estamos no meio da multidão.
A modernidade traz esse sentimento de pequenez diante da grandeza do mundo. Não nos entendemos e nem entendemos o outro. Georg Lukács em seu livro, A teoria do Romance (1916) – mesmo sendo considerado teoria literária – analisa o homem dentro do contexto das suas produções literárias; da epopéia ao romance.
Lukács fala-nos de um tempo em que não havia necessidade de filosofia, porque todas as explicações eram encontradas nos mitos. Esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas. O mundo era um universo fechado. Já o mundo atual ganhou em abrangência e incoerências, e o homem conheceu a solidão. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado.
Cito esse ensaio de Lukács por achar pertinente a discussão, e integrar o lado positivo do tratamento psicológico nos dias de hoje. Porque muitas destas neuroses, ansiedades e angustias que muitos médicos tratam com anti-depressivos (tarja preta) podem ser resolvidas na terapia. Na França é assim, o serviço público de saúde tratam muitas patologias com a terapia. Estudos de lá comprovam a eficácia do tratamento. Fora que reduz custos com medicamentos. O Estado adora redução de custos e de leitos em hospitais, poderia aderir a terapia para todos!