sábado, 3 de outubro de 2009

Chegadas e partidas

Manicuras. Cabeleireiros. Homens. Mulheres. Dentista. Médicos. Amigos. Pessoas, enfim. Cachorros. Gatos, Amores, Roupas, Medidas, Filmes, Moda, Estilos, Rótulos, Empregos.
Tudo nasce, cresce e morre. Esta é a lei de que nada é para sempre. Nem o nosso planeta durará para sempre. Do jeito que nós, indivíduos perenes, estamos tratando mal dele, logo logo se vai.
As pessoas acham que tem controle de suas vidas, mas depois acabam descobrindo que tudo pode mudar num segundo. E por quê? Justamente pela lei de que todos nós partiremos, vamos para o Nada. Ou para o paraíso?
Se formos para o paraíso reforçaremos a hipótese de que tudo é cíclico, tudo se reduz à “chegadas e partidas”. Mas, isto seria muito idealismo. Mas para o Nada também é um tédio. Nada recompensador.
A vida é, às vezes, tão sofrida, temos que nos esforçar tanto para sobrevivermos. Você tem de trabalhar, ganhar dinheiro, senão você não vive no capitalismo. Temos que vender as nossas horas do dia, para poder consumir.
Tudo o que nos cerca são produtos, produtos do capital, no entanto, também produtos culturais. Estamos rodeamos por bens de consumo. Somos materialistas. Damos valor ao objeto, atribuímos fetiches aos objetos, cultuamos.
É engraçado. Apegamos-nos tanto às coisas. Queremos dar valor de eternidade a tudo. Sendo que nem nós somos eternos. Queremos contar, contabilizar, nos agarramos tanto às datas e aos números, parece que estamos em contagem regressiva sempre.
O ser humano é dual, corpo e alma. Vive tentando se explicar, se entender. Nunca houve tanta gente procurando análise, terapia, yoga, pilates, rpg, academia. Cada um na sua “vibe”, mas procurando se compreender.
Compreender: palavra difícil. O ser humano é um ser social. Mas também é um ser egoísta, individualista ao extremo, vaidoso, orgulho. Tem ira e raiva. Tem paixões e ideais. Portanto, como se compreender?
A cada dia queremos superar. Ser melhor é condição de sobrevivência no sistema econômico no qual estamos inseridos. Ser melhor para quê? Para termos mais dinheiro, para termos mais prestígio, para termos fama?
Um dia tudo acaba. E o dinheiro continua a reinar. O seu orgulho partiu junto com você, os seus bens materiais foram divididos (em meio à quase sempre brigas). E logo ninguém mais se lembrará da sua existência.
Temos que realizar as nossas potencialidades de forma sadia e bem humorada. A busca da felicidade não pode se transformar num sonho deixado para o dia de amanhã. Aí você se pergunta: O que é a felicidade?
Cara pálida: eu não sei o que é felicidade, ninguém sabe. Ao menos tente descobrir o que te faz feliz. Cada um tem a sua individualidade – normal, sadia –, e dentro desta individualidade você deve descobrir.
Eu tento ser feliz escrevendo, dando aulas, tentando desmistificar as coisas que nos cercam, mas também tenho consciência de que isso é uma gota mínima no oceano. E um dia tudo isso se vai... ou não.
Para expressar um pouco o meu egoísmo, meu individualismo, e a minha vontade de ir contra a todas as partidas definitivas, cito um trecho do poeta surrealista (que tem um pouco a ver com essa miscelânea de hoje).
“...O puro intervalo que, de mim a esse outrem que é um amigo, mede tudo que há entre nós, a interrupção de ser que não me autoriza jamais a dispor dele, nem de meu saber dele (fosse para louvá-lo) e que, longe de impedir qualquer comunicação, nos relacionava um ao outro na diferença e às vezes no silêncio da palavra”. Maurice Blanchot, A Amizade.

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