Desde que decidi fazer
faculdade de filosofia as mais diversas pessoas chegaram até mim e perguntaram:
Mas você vai viver do que? Tem campo de trabalho? Vai ser professora? O que se faz com filosofia?
A partir destes
questionamentos externos a dúvida brotou até em mim, que estava tão segura do
que queria. E comecei, eu mesma, a pensar sobre essa tal de Filosofia. Se
realmente valia a pena terminar a graduação. Eis que agora não só terminei a
graduação, como já estou terminando um mestrado e sou, enfim, professora, como
muitos pensaram que seria o meu “fim”.
Agora com essa
oportunidade de escrever a vocês, leitores, eu gostaria de desmistificar, ao
menos um pouco, o que é a Filosofia. E para isso nada melhor do que começar com
problematizações, com questões.
Portanto, o que é essa
tal de Filosofia? Para que serve? O que fazemos com ela? Como usamos/aplicamos
a filosofia no nosso dia a dia? Tantas
perguntas sem respostas, pois “filosofia” não pode ser e nunca será um produto,
um bem de consumo. Não pegamos “filosofia”, não compramos “filosofia” no
supermercado, não comemos “filosofia”.
A filosofia é
estritamente abstrata. É coisa dos gregos antigos. E para espanto de muitos,
filosofia mesmo, só no Ocidente!
O pensamento filosófico
surge quando o homem começa a se perguntar o porquê das coisas, da natureza e
da vida prática. A partir daí o tal pensamento filosófico vai se estruturando,
na medida na qual o homem se pergunta o porquê de sua própria existência, e
tenta dar respostas a esse questionamento.
Muitas coisas que
achamos serem modernas ou contemporâneas, já haviam sido pensadas pelos gregos
antigos, como por exemplo, o átomo.
O nosso modo de agir é a
soma da nossa tradição, do nosso passado, da História.
É certo que alguns
filósofos influenciaram em maior ou menor intensidade na história, e isso se dá
exatamente pela história, é ela que escolherá quem será lembrado no futuro.
Mesmo quem pense não estar sendo influenciado pelo pensamento filosófico está
errado, já que desde muito tempo atrás tal pensamento emana por toda a história
os seus resultados.
O pensar racional, a
formulação de questionamentos e reflexões acerca de um determinado assunto pode
ser uma construção filosófica. O filósofo, ao contrário do que muito se pensa
por ai, não é aquele que tem uma formação acadêmica obrigatoriamente. É
filosofo quem consegue articular sobre vários assuntos que são importantes para
a sua essência, para a compreensão de sua existência no mundo. Filosofar é,
grosso modo, ter um pensamento racional, estruturado sobre os mais diversos
assuntos que permeiam a existência em geral. É saber articular. Pensar.
Hoje percebemos que a
filosofia está na “moda”, e tudo o que está em evidência corre riscos. O risco
que a filosofia está correndo é da sua banalização e da massificação do seu
potencial emancipatório, pelos livros de auto-ajuda que lotam as prateleiras
das livrarias e tem como promessa sanar a dor dos problemas da vida moderna, do
indivíduo dilacerado que não se compreende mais. Resta-nos agora juntar os
cacos da História e, a partir do pensamento racional e filosófico, tentar se
recompor.
Texto publicado no dia
29 de abril de 2009 para o Jornal Bom Dia de Bauru
Um comentário:
Me interesso por filosofia, mas não pretendo estudá-la para atuar profissionalmente; seria válido cursar filosofia apenas para aprender mais, estudando assuntos que, talvez, nunca entraria em contato por vontade própria?
Vejo um dilema: ao mesmo tempo que seria obrigado a aprender coisas que não me interessam, conheceria coisas que me ajudariam nas minhas próprias filosofias.
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