domingo, 26 de julho de 2009

Antecedentes: o movimento dadaísta (ou o espírito dadaísta)

O chamado movimento dadaísta era um movimento artístico e literário com um pendor niilista, que surgiu por volta de 1916, em Zurique, acabando por se espalhar por vários países europeus e também pelos Estados Unidos. Embora se aponte 1916 como o ano em que o romeno Tristan Tzara, o alsaciano Hans Arp e os alemães Hugo Ball e Richard Huelsenbeck seguiram novas orientações artísticas. E 1924 como o final desse caminho, a verdade é que há uma discrepância destas datas, quer ao início, quer ao final deste movimento, ou como preferem os seus fundadores, desta “forma de espírito”.
O movimento Dada – os seus fundadores recusam o termo Dadaísmo já que o ismo aponta para um movimento organizado que não é o seu – surge durante e como reação à I Guerra Mundial. Os seus alicerces são os da repugnância por uma civilização que atraiçoou os homens em nome dos símbolos vazios e decadentes.
Este desespero faz com que o grande objetivo dos dadaístas seja fazer tábua rasa de toda a cultura já existente, especialmente da burguesa, substituindo-a pela loucura consciente, ignorando o sistema racional que empurrou o homem para a guerra.
Dada reivindica liberdade total e individual, é anti-regras e ideais, não reconhecendo a validade, nem do subjetivismo, nem da própria linguagem. A sua “nomenclatura” pode ser um exemplo, no qual, Dada, que Tzara diz ter encontrado ao acaso num dicionário e não significa nada. Mas ao não significar nada, significa tudo.
Estes tipos de posições paradoxais e contraditórias são características deste movimento que reclama não ter história, tradição ou método. A sua única lei é uma espécie de anarquia sentimental e intelectual que pretende atingir os dogmas da razão. Cada um dos seus gestos é um ato de polemica, de ironia mordaz, de inconformismo. É necessário ofender e subverter a sociedade. Essa subversão tem dois meios: o primeiro os próprios textos, que embora sejam concebidos como forma de intervenção direta, eram publicados nas revistas do movimento como Der Dada, Die Pleite, Der Gegner ou Der blutige Ernst, entre muitas outras. O segundo, o famoso Cabaret Voltaire, em Zurique, cujas sessões eram consideradas escandalosas pela sociedade da época verificando-se freqüentes insultos, agressões e intervenções policiais.
Não é fácil definir Dada. Os próprios dadaístas contribuem dificultando. As afirmações contraditórias não permitem um consenso já que, enquanto consideram que definir Dada era anti-Dada, tentam constantemente fazê-lo. No primeiro manifesto, Tzara, afirma, que ser contra este manifesto significa ser dadaísta (!), o que confirma a arbitrariedade e a inexistência de cânones e regras neste movimento.
Os Dada procuram dissuadir os críticos, mais do que definir algo. Jean Arp, artista plástico francês ligado ao movimento de Zurique, ridiculariza a metodologia crítica escrevendo, que não era, nem nunca seria credível qualquer história deste movimento já que, para ele não eram importantes as datas, mas sim o espírito que já existia antes do próprio nome. Além disso Tzara afirma ser contra sistemas. O sistema mais aceitável é, por princípio, não ter nenhum.
Eles, também, são conscientemente subversivos. Ridicularizam o gosto convencional e tentam deliberadamente desmantelar as artes para descobrir em que momento a criatividade e a vitalidade começam a divergir: o que é destrutivo e construtivo, frívolo e sério, artístico e anti-artístico.
Embora se tenha espalhado por quase toda a Europa, o movimento Dada tem os núcleos mais importantes em Zurique, Berlim, Colônia e Hanover. Todos eles defendem a abolição dos critérios estéticos, a destruição da cultura burguesa e da subjetividade expressionista reconhecendo, como caminhos a seguir, a dessacralização da arte e a necessidade do artista ser uma criatura do seu tempo, no entanto, há uma evolução diferenciada nestes quatro núcleos.
O núcleo de Zurique – o mais importante durante a guerra – foi muito experimentalista e provocatório, embora um pouco restrito ao círculo do Cabaret Voltaire. Deste núcleo surgem duas das mais importantes inovações dadaístas: o poema simultâneo e o poema fonético. O poema simultâneo consiste na recitação simultânea do mesmo poema em várias línguas; o poema fonético, desenvolvido por Ball, é composto unicamente por sons, com predominância de sons vocálicos. Nesta última composição a semântica é completamente posta de parte. Já que o mundo não faz sentido para os dadaístas, a linguagem também não terá de fazer.
Estes tipos de composições, juntamente com o poema visual, também assente em princípios simultâneos, e a colagem, primeiro utilizada nas artes plásticas, são as grandes inovações formais deste movimento. O grupo de Berlim, mais ativo depois da guerra, está profundamente ligado às condições socio-políticas da época. Ao contrário do núcleo de Zurique realiza intervenções politizantes, próximas da extrema esquerda, do anarquismo e da proletkult (cultura do proletariado). Apesar de tudo, os próprios Dada têm consciência da sua anarquia para aderir a um partido político e que a responsabilidade pública era inconciliável com o espírito dadaísta. Os núcleo de Colônia e Hanover são menos significativos.
Os Dada destacam-se da sociedade em que estão inseridos pela revolta, pelos valores expressos nas suas obras, pelas convicções que defendem e pelas contradições que apresentam, muitas vezes exemplo da vitalidade e humor dos criadores.
O movimento tornou-se muito popular em Paris, para onde Tzara vive depois da guerra. Na capital francesa, ao contrário de Berlim e Nova Iorque, desenvolve-se bastante no campo literário. Esta ligação foi muito importante para a gênese do surrealismo que acaba por absorver o movimento no início da década de vinte, do século XX.
As fronteiras entre os movimentos Dada e surrealista são tênues, embora se oponham. O surrealismo mergulha as suas raízes no simbolismo, enquanto Dada se aproxima mais do romantismo. O primeiro é nitidamente politizado, enquanto o segundo é, na generalidade apolítico (com exceção do grupo de Berlim).


*Este é um trecho da minha - quase lendária - dissertação de mestrado em Filosofia.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

motivar

Estou muito bem hoje, acordei com vontade de mudar e motivar.
A mudaça já começou e, com certeza, irá transformar a minha vida substancialmente.
* * *
O limite é importante, não existe vida social sem limites. Ao transpor limites esbarramos na subjetividade do outro. E temos o risco de magoar.
* * *
Respeito e cuidado são virtudes.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

passos

sigo em frente, ou volto um passo atrás?

prosseguir?

(o medo e a coragem caminham juntos)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Experiência empírica

Estava pensando no decorrer destes dias no que escrever. O que seria interessante e ao mesmo tempo enriquecedor? De sexta para cá estive zanzando por ai e acabei encontrando o meu tema.
Como eu já disse em um texto anterior, “estou meio paradinha”, por causa de uma cirurgia no joelho que eu me submeti há quase 30 dias. Desta forma, sou uma “deficiente” temporária (já posso circular por aí com a minha muletinha).
Mas aonde eu quero chegar contando a vocês sobre a minha vida pessoal? Chegarei lá.
Na última sexta-feira, fui com a nossa colunista Camila à casa noturna Santa Madalena prestigiar a banda bauruense Move Over. Achei que seria moleza. Logo na entrada fui surpreendida com o primeiro obstáculo: uma escada!
Subi com a ajuda da minha fiel muleta e com a paciência da Camila.
O segundo obstáculo era cruzar o bar rumo ao camarim da banda.
Na minha cabeça as pessoas iriam ver que eu estava de muleta e abririam caminho. Tolice. Tinha que parar e cutucar as pessoas para poder abrir caminho.
No fim da noite fomos pagar os cartões de consumo, e uma garota pediu para passar na minha frente, eu deixei, a Camila ficou indignada com a falta de bom senso da menina.
No dia seguinte fiquei pensando sobre a minha aventura. E cheguei à triste conclusão de que um cadeirante, logo de cara, já não poderia assistir ao show da Move Over. A casa noturna, como muitas outras – para não falar todas – não tem acesso para deficientes. Uma pessoa que é impossibilitada de subir escadas teria que ser carregada para ter acesso ao palco. Na minha opinião, seria um tipo de humilhação depender de alguém para entrar em uma balada. Seria muito mais justo e humano ter acesso facilitado.
Conversando com um amigo advogado, ele afirmou que casas noturnas, bares, enfim, lugares que as pessoas freqüentam, só terão obrigatoriedade por lei em facilitar o acesso em 2013. Até lá as pessoas portadoras de necessidades especiais ficam sem ir à esses lugares?
No domingo tive outra experiência, que seria normal e corriqueira: fui ao supermercado. Como ainda não posso dirigir fui com a minha mãe. Falei para ela parar na vaga de deficientes. Justo, já que tenho certa dificuldade em caminhar. O supermercado Confiança Max possui duas vagas para deficientes ao lado do quiosque do MacDonald’s, o que leva a maioria das pessoas pensarem que são vagas que ninguém usa, e não há mal nenhum em estacionar ali. No lado oposto do estacionamento há vagas para idosos, e eu vi muitos não-idosos estacionados ali.
Essas atitudes me levam a crer que as pessoas não têm bom-senso. O bom-senso nos dias de hoje é uma postura tão cara, que se configura como uma Virtude.
Enfim, entrei no mercado e fiz a compra. Só que no decorrer me deu vontade de ir ao banheiro (coisa mais normal do mundo): outro transtorno.
Estava perto das bebidas e entrei no banheiro mais próximo, e era para deficientes. Claro que estava trancado à chave (nada pode ser fácil nesta vida). Pedi ao funcionário a chave, que mais parecia um bem precioso guardado em cofre. Cinco minutos depois ele aparece (contei no relógio). Numa dessas se estivesse muito apertada...
Achei que a missão “banheiro” já estava concluída quando olhei para o vaso sanitário e estava totalmente sujo (eu sei que não é legal falar sobre isso). Usem a criatividade e imaginem o “sujo”. A missão foi abortada por motivos óbvios.
Muitos podem pensar: O que essa menina quer saindo por ai? Por que não fica em casa? Ela está doente, não pode sair. Mas a verdade é que não estou doente, estou me recuperando, e parte da minha reabilitação é ter uma vida normal. O problema é que a configuração da mentalidade da nossa sociedade dificulta ainda mais o que já é difícil.
Vamos tentar ser menos egoístas, porque não sabemos o que nos aguarda no futuro.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

divagações...

é tão ruim ficar parado.

o tédio,
a tristeza,
estão me consumindo.

queria carinho, o seu.
mas quem é você?
pode me oferecer aquilo que eu busco?

estou a sua espera,
não demore...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Preguiça das relações

Hoje em dia temos – nitidamente – preguiça em nos relacionarmos com as pessoas. É muito mais fácil ficarmos reclusos no mesmo “grupinho” e não nos aventurarmos em novas relações pessoais (reais).
Um dos fatores que elevam o índice das pessoas não se interessarem mais no conhecer, no relacionar-se é a Internet. Mas aí você pode dizer: Mas com a Internet podemos conhecer pessoas, mandar e-mails, bater-papo. Sim, podemos fazer tudo isso e muito mais. Contudo as relações são superficiais.
Não há o contato, a troca de olhares ou a cumplicidade de uma relação mutua entre as pessoas. Esse contato verdadeiro, não virtual, está cada vez mais escasso, as pessoas se limitam, e essa limitação é confortável. Se não queremos falar com determinada pessoa, ao invés de resolvermos o nosso problema com ela, simplesmente, a bloqueamos ou deletamos.
A Internet é uma ferramenta, e não uma condição para nos inter-relacionarmos uns com os outros. Ela limita e corrompe. Porque o que fazemos no mundo virtual queremos transpor para a realidade. A realidade, que deve ser tomada como verdade, está sendo subjugada pela virtualidade.
Outro problema do mundo virtual está ligado à criminalidade. A maioria das pessoas acredita que as leis do mundo real não se aplicam ao mundo virtual. Criam um avatar, um fake, e podem tudo. Estão legalmente protegidos em suas casas diante do aparato tecnológico. É a partir desta mentalidade que casos de pedofilia cresceram tanto. A pedofilia sempre existiu no mundo, esse tipo de perversão é antiguíssimo. Mas com as possibilidades oferecidas pela virtualidade, a pedofilia, aumentou. Em uma reportagem do programa CQC (exibido às segundas, pela Band), na qual simulavam o quarto de uma adolescente de 15 anos, numa sala de bate-papo, vários homens maduros procuravam falar com a menina, e o único assunto era sexo e a exibição do órgão genital para sexo virtual. No mínimo asqueroso.
A meu ver isso é resultado dessa preguiça das relações, é muito mais fácil sexo virtual do que real, para pessoas sem conteúdo e com esse grau de perversão.
Os e-mails, por exemplo, são uma ótima ferramenta. Não apenas para nos comunicarmos, mas para divulgarmos eventos também. O perigo é o de se tornar uma forma para não se indispor com as pessoas, como nos bate-papos. Como assim? Ao invéz de solucionarmos uma situação frente-a-frente, mandamos um e-mail. É uma forma rápida de não ignorar o outro e ao mesmo tempo se livrar da situação indesejada. O perigo é se instaurar uma frieza, comparada ao fascismo.
As pessoas preferem dizer, “melhor não”, do que serem autênticos e sinceros. Acreditam que seja melhor falar por meias verdades do que na totalidade da verdade. Isso demonstra um traço de falta de personalidade. É mais fácil agir desta forma, porque conviver é difícil.
Viver em sociedade é comprometer-se. Fundamentalmente se comprometer com o outro, porque ninguém, por mais que queira, consegue viver sozinho e isolado completamente.
Nos dias de hoje esse comprometer-se é substituído de forma “higiênica”, pelos aparatos tecnológicos. E também, por causa do alto índice de criminalidade nos fechamos ainda mais. Não damos mais as mãos com medo de que nos levem o braço. Contudo, se pensarmos desta forma ficaremos sem nos relacionarmos. Como na letra exemplar de rap, A vida é desafio, dos Racionais Mc’s: “mundo moderno, as pessoas não se falam, ao contrário, se calam, se pisam, se traem, se matam”. Temos que mudar essa realidade, antes que nos tornemos seres não humanos.

domingo, 12 de julho de 2009

ciclos

mais uma vez recomeço.

é duro cair na real de que aquilo que idealizamos como o ideal, desmorone.
há ruinas.
há cacos.

as vezes temos que renunciar mesmo gostando, mesmo amando.
não é sempre que amar é sinonimo de felicidade.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Qual o valor?

Há algum tempo estou lendo um livro do Dostoievski, Os Demônios. Digo algum tempo remetendo um longo período, coisa que não é da minha preferência. Gosto de começar e terminar rapidamente as minhas leituras. Contudo, com tantas coisas e “prioridades” o livro não ficou nem em segundo, mas em décimo plano.
Como algumas pessoas que me cercam já sabem, estou paradinha – literalmente parada – por conta de uma cirurgia. Aí que a leitura volta a ter um destaque.
Enfim, pela manhã, lendo, encontrei uma passagem muito sugestiva para os nossos dias, que demonstra toda a atualidade e genialidade profética de Dostoievski (um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos). A passagem é a seguinte:
“Toda a dúvida está apenas em saber: o que é mais belo, Shakespeare ou um par de botas, Rafael ou o petróleo?”
A frase me deixou, literalmente, de orelha em pé.
A título de esclarecimento, o livro Os demônios foi escrito através da motivação de um episódio verídico: o assassinato do estudante russo I. I. Ivanov pelo grupo niilista (em linhas gerais é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”) liderado por S. G. Nietcháiev em 1869. Um ano depois o livro foi concebido, com fins assumidamente panfletários.
O autor analisando o crime cometido pelo grupo niilista profetiza o que acontecerá posteriormente no século 20. Ele consegue vislumbrar os cruéis fanatismos de Hitler e Stálin. Desta forma, os demônios do título do livro são traduzidos como a violência, a ignorância, o terrorismo e a impostura ideológica. Estes demônios alegóricos mesmo no nosso século, o 21, continuam vivos sob novos disfarces.
Mas e a frase que eu escolhi? Por que me deixou de orelha em pé?
Em minha opinião ela retrata não só o que se passava nas pessoas, ditas práticas, do final do século 19. Mas ainda em nosso tempo muitos pensam: o que é mais importante, uma obra de arte ou um barril de petróleo?
O belo, o moralmente belo, está há muito tempo em decadência. Muitos – e muitos que eu digo podem se dizer muitos povos – se importam muito mais com as cifras e o poder do capital, do que com a beleza.
Shakespeare não tem a mesma utilidade – e ser útil é muito importante – de um par de botas. O importante é o valor de uso, de uso literal. Assim muitos podem achar mais importante um par de botas do que ler e entender, efetivamente, Shakespeare.
Mas por qual motivo deixamos de acreditar no abstrato em nome do útil?
Passamos a dar mais valor àquilo que é útil, na medida em que o capital se tornou essencial. Quando passamos a nos sentir bem consumindo um produto concreto. Ou seja, um produto que podemos mostrar às outras pessoas. A sociedade capitalista tornou-se exibicionista e arrogante.
Seguindo essa linha, não podemos mostrar, de fato, o livro de Shakespeare que acabamos de ler. Mas podemos mostrar o carro zero km., financiado em várias parcelas. É isso o que realmente importa, infelizmente, em nossa sociedade. Mesmo se você não tenha dinheiro para pagar todas as parcelas do financiamento, quem se importa? Mas você está figurando pelas ruas com o seu carro zero.
Na sociedade contemporânea capitalista é assim. Já afirmava Guy Debord no seu livro A sociedade do espetáculo (1967), a mercadoria virou espetáculo. A arte e a beleza não cumprem mais o seu papel conciliador na sociedade.
Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens e as mercadorias de tudo o que lhes falta em sua existência real. Fica a reflexão: Como mudar algo já estabelecido e consentido por todos?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Os Movimentos Feministas: resistências verbais e não verbais

Sim, movimentos no plural. Descobri que não existe apenas um movimento feminista. Ao longo da história podemos notar várias manifestações pela igualdade das mulheres, configurando, assim, no plural.
Na Grécia Antiga a importância das mulheres era equivalente a dos escravos. Porque cidadão mesmo era só do sexo masculino e nascido por lá. Somente estes podiam participar da chamada democracia ateniense e ter a palavra na ágora (praça principal símbolo da democracia direta). Ou seja, para as mulheres nada.
Já na Roma Antiga elas eram consideradas perigosas. Principalmente quando tentavam reverter a situação vigente. Como no caso do uso dos transportes públicos. Porque os transportes públicos daquela época eram restritos aos homens-cidadãos. Mulher não era cidadã, logo, não podia usar esse serviço. Para todo lugar que a mulher romana queria se locomover tinha que ser a pé. Revoltadas marcaram hora com o Senado. Expuseram a situação. Mas não deu em nada. Continuaram a pé. O Senado Romano achou perigoso demais deixarem as mulheres se locomoverem usando os meios de transportes públicos, pois se abrissem essa exceção logo elas reivindicariam outras melhorias.
No longo período da Idade Média, ao contrário do que muitos podem pensar, o espaço de atuação política da mulher era maior. Elas atuavam em quase todas as profissões, e algumas freqüentavam universidades. Infelizmente na Renascença houve retrocesso e a caça às bruxas – milhares de mulheres foram queimadas vivas. Quem não se lembra de Joana d`Arc?
Todas essas primeiras vozes de contestação feminina que a história moderna registra se dirigem justamente contra a desigualdade sexual no acesso à educação e ao trabalho. As mulheres não queriam nada de extraordinário, não queriam tomar o poder de ninguém, apenas queriam e querem ser iguais.
Uma das formas de resistência e contestação feminina, não verbal, se configura quanto ao vestuário. É curioso notarmos que hoje as nossas roupas derivam, em parte, do estilo adotado pelas mulheres das classes média e operária do século 19, cujo comportamento não correspondia ao ideal feminino vitoriano da época.
Até no jeito de nos vestirmos tivemos que ir à luta!
As mulheres do século 19 romperam com o estilo dominante de vestuário – eficiente para manter fronteiras de gênero – quando começaram a trabalhar: as roupas tiveram que ser ágeis para facilitar os movimentos dentro do escritório, por exemplo.
Esse novo estilo, barato e descomplicado, cruzou as fronteiras de classe. Incorporava peças de roupa masculinas à vestimenta feminina (mas era distinto do cross-dressing), representava, consciente ou inconscientemente, uma forma de resistência ao estilo do vestuário dominante.
Representou uma espécie de inversão simbólica da mensagem dominante do vestuário feminino ao associá-lo ao masculino. Itens ligados à indumentária masculina ganharam novos significados. A tão esperada independência feminina estava a caminho. Contudo, o grau de controle social, na forma de hostilidade e zombaria que elas encontravam nos espaços públicos, tornou preferível uma forma amena de subversão simbólica: paletós e gravatas eram combinados com saias em vez de calças.
Somente na segunda metade do século 20 que as mulheres puderam usar calças. Graças às feministas lésbicas. As feministas dos anos 60 e 70 opunham-se às roupas da moda. Simone de Beauvoir definia a visão de moda das feministas, e criticava os discursos manipuladores sobre feminilidades latentes nos estilos de vestuário.
A primeira manifestação de massa do movimento de liberação feminina foi dirigida contra o concurso de Miss América em 1968, mais especificamente contra o estereótipo do corpo feminino como objeto sexual representado pelo concurso.
De lá para cá estamos em constante luta para a nossa igualdade.