Esta semana quero compartilhar uma experiência vivida no ensino. Como vocês já sabem sou professora universitária, e na última quinta-feira, eu e outra professora promovemos uma aula diferente. Combinamos de juntar as nossas turmas e trazer alguns convidados para falar sobre “Manifestação da fé”. Foi uma idéia incrível.
O resultado não poderia ter sido mais positivo!
Confesso que estava apreensiva. O que era natural, já que seria a primeira vez que estávamos fazendo uma “mesa redonda” com lideres religiosos de diversas crenças. Fiquei ansiosa para ver qual seria a postura e reação dos alunos.
Convidamos um pastor, um umbandista, um padre e representantes do budismo. Cada um falou sobre a sua fé, a sua ESCOLHA. Foi uma oportunidade, um momento em que muitos mitos e tabus foram dissipados. A desmistificação é um processo importante para a aquisição do conhecimento, da cultura e da formação de uma consciência moral.
O senso comum não pode mais ser calcado em mitologias modernas, temos que ser esclarecidos, pois a ignorância leva à violência e à intolerância.
Temos que parar de pensar que uma religião é melhor do que a outra. Imaginem se todos nós gostássemos apenas da cor preta? Ou da cor azul? É tudo uma questão de gosto, estilo, crença, cultura, enfim, de se sentir bem.
A grande busca de nossas vidas deve ser a felicidade, se sentir bem, independente do que os outros pensam. Uma felicidade fundada no presente, porque ninguém vive de passado e muito menos do que está por vir. Viver o hoje eticamente. Viver o hoje não fazendo mal a ninguém. Viver o hoje com a intensidade de uma vida desprendida de materialidade.
Charlatões estão por toda a parte, como em todas as esferas da sociedade: ensino, política, religião... Devemos usar o bom senso e saber escolher todos os lugares que freqüentamos. Tolerância e bom senso devem andar juntos, sempre.
A manifestação da fé deve ser algo pessoal, puro e íntegro. Algo realmente levado a sério e livre de julgamentos de valores, como “a minha fé é melhor do que a sua”. Desta forma, manifestações da fé de forma impositiva devem ser repensadas, porque podem incomodar pessoas de orientações religiosas diversas. Cito dois exemplos: romeiros saem por vai andando juntos e manifestando a sua fé de forma coletiva, isso não deve incomodar ninguém, já que eles estão expressando coletivamente a fé deles, para eles, para o Deus deles. Agora, na Copa do Mundo de 2010, a Fifa quer proibir qualquer manifestação coletiva da fé, neste caso a “proibição” é justificável. Explico: depois da final da Copa das Confederações, a seleção brasileira se reuniu dentro de campo para rezar pelo título conquistado do torneio, liderado por Kaká. Este gesto foi criticado pelo presidente da Federação de Futebol da Dinamarca, Jim Stjerne Hansen. Eu não sou adepta à proibições, mas no caso de uma Copa do Mundo estaremos em contato com muitas religiões e religiosidades, e impor a fé dos jogadores não é algo legal, já que pode ofender a outros. Não é o contexto apropriado.
Não me interpretem mal, mas atletas fazendo sinal da cruz ao entrar em campo, beijando anéis, medalhas de santos, cruzes e patuás que trazem pendurados em cordões e apontando aos céus como a agradecer pelo gol marcado. Ninguém tem nada a ver com isso, são manifestações individuais. Mas uma manifestação coletiva, explícita e organizada como um ritual religioso pode dar margem a críticas ao ser associada a um bem público. A religiosidade de cada um seja ela qual for merece respeito, da mesma forma como merece ser respeitada a falta de religiosidade daqueles que assim optaram a seguir a vida. O respeito e a liberdade são condições de uma boa vida, e de uma fé autentica.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Querer estar perto
Quando amamos nós vivemos num estado de suspensão. Queremos sempre o amado (a) por perto. No entanto o que “rola” é sempre a velha história da utopia de perfeição e até a utopia do auto-conhecimento. Queremos que o parceiro seja perfeito aos nossos olhos, mas ninguém consegue atingir a perfeição, justamente pelo fato da própria utopia do auto-conhecimento. Temos a ilusão de nos conhecermos. Mas o que sempre acontece é em algum momento da vida (ou todos os dias) nos perguntarmos: quem somos?
Como queremos nos conhecer, ter esse auto-conhecimeto e compreender o outro se nos dias atuais não temos tempo? E não só tempo, mas também paciência. Temos preguiça de nos relacionar. O que impera hoje é a máxima: “Eu não te ouço e você não me ouve”. Vivemos em um mundo surdo, só escutamos quando nos convém. Só ajudamos quando há interesses. Não nos relacionamos de forma fluídica e desinteressada. Acabamos fazendo o outro como meio, e não como um fim de uma ação.
Podemos pensar no amor. Em todas as suas configurações livres. Mas, o que é amar? O que é amar uma pessoa? Tive a liberdade de colocar aqui neste, “meu” pequeno espaço, um poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado “Quero”, que na minha opinião é belo e expressa o querer estar perto, o bem-querer, e está em sintonia comigo, e com certeza com muitos leitores e leitoras:
“Quero que todos os dias do ano; todos os dias da vida; de meia em meia hora; de 5 em 5 minutos; me digas: Eu te amo. Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo? Quero que me repitas até a exaustão que me amas; que me amas; que me amas. Do contrário evapora-se a amação; pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim. Exijo de ti o perene comunicado. Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais. Quero ser amado por e em tua palavra; nem sei de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso, a perfeita maneira de saber-se amado: amor na raiz da palavra e na sua emissão, amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial. No momento em que não me dizes: Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me, que nunca me amastes antes. Se não me disseres urgente repetido; Eu te amoamoamoamoamo, verdade fulminante que acabas de desentranhar, eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor”.
O amor é ordem, o caos a desordem. Sem amor não vivemos, o ser humano se alimenta de amor. O problema é quando a sociedade do consumo coloca os seus produtos no mesmo patamar do sentimento puro, aí o caos se instaura. As pessoas ficam confusas e não diferenciam uma necessidade fetichista de consumo com o amor desinteressado.
Homens e mulheres sentem a necessidade de ouvir e sentir o amor, o amor do amado (a). O belo poema de amor de Drummond enaltece o maior sentimento do ser humano. O texto desta semana é um apelo a todos os leitores e leitoras, para que pensem e reflitam se amam e estão sendo amados.
Não transfira para bens de consumo o potencial emotivo que reside dentro de você. Parece papo de “chalalá”, mas é verdade. Vamos realmente amar uns aos outros. E, principalmente, não esquecer de comunicar isso às pessoas, seja em palavra, texto ou gesto.
Como queremos nos conhecer, ter esse auto-conhecimeto e compreender o outro se nos dias atuais não temos tempo? E não só tempo, mas também paciência. Temos preguiça de nos relacionar. O que impera hoje é a máxima: “Eu não te ouço e você não me ouve”. Vivemos em um mundo surdo, só escutamos quando nos convém. Só ajudamos quando há interesses. Não nos relacionamos de forma fluídica e desinteressada. Acabamos fazendo o outro como meio, e não como um fim de uma ação.
Podemos pensar no amor. Em todas as suas configurações livres. Mas, o que é amar? O que é amar uma pessoa? Tive a liberdade de colocar aqui neste, “meu” pequeno espaço, um poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado “Quero”, que na minha opinião é belo e expressa o querer estar perto, o bem-querer, e está em sintonia comigo, e com certeza com muitos leitores e leitoras:
“Quero que todos os dias do ano; todos os dias da vida; de meia em meia hora; de 5 em 5 minutos; me digas: Eu te amo. Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo? Quero que me repitas até a exaustão que me amas; que me amas; que me amas. Do contrário evapora-se a amação; pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim. Exijo de ti o perene comunicado. Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais. Quero ser amado por e em tua palavra; nem sei de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso, a perfeita maneira de saber-se amado: amor na raiz da palavra e na sua emissão, amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial. No momento em que não me dizes: Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me, que nunca me amastes antes. Se não me disseres urgente repetido; Eu te amoamoamoamoamo, verdade fulminante que acabas de desentranhar, eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor”.
O amor é ordem, o caos a desordem. Sem amor não vivemos, o ser humano se alimenta de amor. O problema é quando a sociedade do consumo coloca os seus produtos no mesmo patamar do sentimento puro, aí o caos se instaura. As pessoas ficam confusas e não diferenciam uma necessidade fetichista de consumo com o amor desinteressado.
Homens e mulheres sentem a necessidade de ouvir e sentir o amor, o amor do amado (a). O belo poema de amor de Drummond enaltece o maior sentimento do ser humano. O texto desta semana é um apelo a todos os leitores e leitoras, para que pensem e reflitam se amam e estão sendo amados.
Não transfira para bens de consumo o potencial emotivo que reside dentro de você. Parece papo de “chalalá”, mas é verdade. Vamos realmente amar uns aos outros. E, principalmente, não esquecer de comunicar isso às pessoas, seja em palavra, texto ou gesto.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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lembrei! ufaa! detesto quando não consigo lembrar das minhas próprias idéias e devaneios. era sobre a autenticidade das obras de arte. estava pensando que hoje customizamos os bens de consumo que podem se encaixar como arte. p. ex. um quadrinho pintado, comprado há um tempo. eu sei que o quadrinho - mesmo sendo pintado à mão - ele é feito em série, ele pode conter em potencia a autenticidade da obra, mas não tem, mas com o seu uso ele pode vir a ter uma certa autenticidade. O seu "ter o objeto que pode vir a ser obra de arte" é uma idéia interessante. Pensei em várias outras coisas que se relacionam. Bom, apenas pensei, apenas idéias.
sábado, 3 de outubro de 2009
Chegadas e partidas
Manicuras. Cabeleireiros. Homens. Mulheres. Dentista. Médicos. Amigos. Pessoas, enfim. Cachorros. Gatos, Amores, Roupas, Medidas, Filmes, Moda, Estilos, Rótulos, Empregos.
Tudo nasce, cresce e morre. Esta é a lei de que nada é para sempre. Nem o nosso planeta durará para sempre. Do jeito que nós, indivíduos perenes, estamos tratando mal dele, logo logo se vai.
As pessoas acham que tem controle de suas vidas, mas depois acabam descobrindo que tudo pode mudar num segundo. E por quê? Justamente pela lei de que todos nós partiremos, vamos para o Nada. Ou para o paraíso?
Se formos para o paraíso reforçaremos a hipótese de que tudo é cíclico, tudo se reduz à “chegadas e partidas”. Mas, isto seria muito idealismo. Mas para o Nada também é um tédio. Nada recompensador.
A vida é, às vezes, tão sofrida, temos que nos esforçar tanto para sobrevivermos. Você tem de trabalhar, ganhar dinheiro, senão você não vive no capitalismo. Temos que vender as nossas horas do dia, para poder consumir.
Tudo o que nos cerca são produtos, produtos do capital, no entanto, também produtos culturais. Estamos rodeamos por bens de consumo. Somos materialistas. Damos valor ao objeto, atribuímos fetiches aos objetos, cultuamos.
É engraçado. Apegamos-nos tanto às coisas. Queremos dar valor de eternidade a tudo. Sendo que nem nós somos eternos. Queremos contar, contabilizar, nos agarramos tanto às datas e aos números, parece que estamos em contagem regressiva sempre.
O ser humano é dual, corpo e alma. Vive tentando se explicar, se entender. Nunca houve tanta gente procurando análise, terapia, yoga, pilates, rpg, academia. Cada um na sua “vibe”, mas procurando se compreender.
Compreender: palavra difícil. O ser humano é um ser social. Mas também é um ser egoísta, individualista ao extremo, vaidoso, orgulho. Tem ira e raiva. Tem paixões e ideais. Portanto, como se compreender?
A cada dia queremos superar. Ser melhor é condição de sobrevivência no sistema econômico no qual estamos inseridos. Ser melhor para quê? Para termos mais dinheiro, para termos mais prestígio, para termos fama?
Um dia tudo acaba. E o dinheiro continua a reinar. O seu orgulho partiu junto com você, os seus bens materiais foram divididos (em meio à quase sempre brigas). E logo ninguém mais se lembrará da sua existência.
Temos que realizar as nossas potencialidades de forma sadia e bem humorada. A busca da felicidade não pode se transformar num sonho deixado para o dia de amanhã. Aí você se pergunta: O que é a felicidade?
Cara pálida: eu não sei o que é felicidade, ninguém sabe. Ao menos tente descobrir o que te faz feliz. Cada um tem a sua individualidade – normal, sadia –, e dentro desta individualidade você deve descobrir.
Eu tento ser feliz escrevendo, dando aulas, tentando desmistificar as coisas que nos cercam, mas também tenho consciência de que isso é uma gota mínima no oceano. E um dia tudo isso se vai... ou não.
Para expressar um pouco o meu egoísmo, meu individualismo, e a minha vontade de ir contra a todas as partidas definitivas, cito um trecho do poeta surrealista (que tem um pouco a ver com essa miscelânea de hoje).
“...O puro intervalo que, de mim a esse outrem que é um amigo, mede tudo que há entre nós, a interrupção de ser que não me autoriza jamais a dispor dele, nem de meu saber dele (fosse para louvá-lo) e que, longe de impedir qualquer comunicação, nos relacionava um ao outro na diferença e às vezes no silêncio da palavra”. Maurice Blanchot, A Amizade.
Tudo nasce, cresce e morre. Esta é a lei de que nada é para sempre. Nem o nosso planeta durará para sempre. Do jeito que nós, indivíduos perenes, estamos tratando mal dele, logo logo se vai.
As pessoas acham que tem controle de suas vidas, mas depois acabam descobrindo que tudo pode mudar num segundo. E por quê? Justamente pela lei de que todos nós partiremos, vamos para o Nada. Ou para o paraíso?
Se formos para o paraíso reforçaremos a hipótese de que tudo é cíclico, tudo se reduz à “chegadas e partidas”. Mas, isto seria muito idealismo. Mas para o Nada também é um tédio. Nada recompensador.
A vida é, às vezes, tão sofrida, temos que nos esforçar tanto para sobrevivermos. Você tem de trabalhar, ganhar dinheiro, senão você não vive no capitalismo. Temos que vender as nossas horas do dia, para poder consumir.
Tudo o que nos cerca são produtos, produtos do capital, no entanto, também produtos culturais. Estamos rodeamos por bens de consumo. Somos materialistas. Damos valor ao objeto, atribuímos fetiches aos objetos, cultuamos.
É engraçado. Apegamos-nos tanto às coisas. Queremos dar valor de eternidade a tudo. Sendo que nem nós somos eternos. Queremos contar, contabilizar, nos agarramos tanto às datas e aos números, parece que estamos em contagem regressiva sempre.
O ser humano é dual, corpo e alma. Vive tentando se explicar, se entender. Nunca houve tanta gente procurando análise, terapia, yoga, pilates, rpg, academia. Cada um na sua “vibe”, mas procurando se compreender.
Compreender: palavra difícil. O ser humano é um ser social. Mas também é um ser egoísta, individualista ao extremo, vaidoso, orgulho. Tem ira e raiva. Tem paixões e ideais. Portanto, como se compreender?
A cada dia queremos superar. Ser melhor é condição de sobrevivência no sistema econômico no qual estamos inseridos. Ser melhor para quê? Para termos mais dinheiro, para termos mais prestígio, para termos fama?
Um dia tudo acaba. E o dinheiro continua a reinar. O seu orgulho partiu junto com você, os seus bens materiais foram divididos (em meio à quase sempre brigas). E logo ninguém mais se lembrará da sua existência.
Temos que realizar as nossas potencialidades de forma sadia e bem humorada. A busca da felicidade não pode se transformar num sonho deixado para o dia de amanhã. Aí você se pergunta: O que é a felicidade?
Cara pálida: eu não sei o que é felicidade, ninguém sabe. Ao menos tente descobrir o que te faz feliz. Cada um tem a sua individualidade – normal, sadia –, e dentro desta individualidade você deve descobrir.
Eu tento ser feliz escrevendo, dando aulas, tentando desmistificar as coisas que nos cercam, mas também tenho consciência de que isso é uma gota mínima no oceano. E um dia tudo isso se vai... ou não.
Para expressar um pouco o meu egoísmo, meu individualismo, e a minha vontade de ir contra a todas as partidas definitivas, cito um trecho do poeta surrealista (que tem um pouco a ver com essa miscelânea de hoje).
“...O puro intervalo que, de mim a esse outrem que é um amigo, mede tudo que há entre nós, a interrupção de ser que não me autoriza jamais a dispor dele, nem de meu saber dele (fosse para louvá-lo) e que, longe de impedir qualquer comunicação, nos relacionava um ao outro na diferença e às vezes no silêncio da palavra”. Maurice Blanchot, A Amizade.
Existe uma alma boa?
Ar condicionado: dá-nos a artificialidade do tempo, da temperatura. Se está frio liga se o aquecedor, se está quente liga se o ar condicionado. Nunca estamos satisfeitos. Fui à São Paulo neste final de semana, o ônibus estava ligado na “Sibéria”, e lá fora o dia estava lindo, com temperatura confortável e agradável. Fui especialmente assistir a peça de Brecht, “A alma boa de Setsuan”, no Tuca.
Não sou especialista em teatro, nem assisti a muitas peças na minha vida, mas esta para mim é especial. Bertolt Brecht foi amigo de Walter Benjamin, teórico crítico, o qual eu dedico meus dias para terminar a infinita dissertação de mestrado.
O teatro brechtiniano tem como peculiaridade o lado didático. Ou seja, “ensinar” as massas, dar ensinamento às massas para que seja possível a tomada de consciência. Outra característica é o “metateatro” (semelhante à metalinguagem) – o teatro dentro do teatro – o recurso no qual o ator dialoga com o público, como se estivesse “fora” da peça. Com este recurso é feita a síntese do pensamento apresentado.
Aqui no Brasil, a peça foi encenada priorizando o humor já apresentado no texto original de Brecht. No entanto, não vemos um humor germânico, mas sim um humor bem característico nosso. Em alguns momentos os clichês e as piadas hodiernas tomam cena, deixando um pouco menor a importância do texto original. Em vários momentos esquece-se que a peça se passa na China antiga. Mas essa pode ter sido a intenção. Trazer ao máximo para os nossos dias. Para que os ensinamentos e sugestões de Brecht pudessem ser ainda mais atuais.
Hoje, ainda temos uma massa que não tem consciência de sua função na esfera social, e cada vez menos ligada aos valores e virtudes necessárias para uma vida em harmonia.
A alma boa, única no mundo, demonstra como está cada vez mais difícil ser um SER HUMANO BOM.
Uma das sugestões que “fica no ar”, é a de que num mundo capitalista o ser humano fica ainda mais tentado a corromper-se pelo caminho do mal. Para poder sobreviver no mundo do capital, da grana, temos que passar por cima de nossos valores e virtudes? Às vezes.
É sempre fácil condenar olhando de fora, mas um vendedor de água, que tem todas as características de uma alma boa, usa uma “canequinha” furada, ou seja, é desonesto. O seu argumento é de que o mundo é cruel, e se ele não proceder assim ele não sobreviverá.
O que eu mais gostei da peça é que a alma boa, que o Santíssimo tanto procura, estava na pele de uma mulher, e ainda por cima, prostituta! Imaginem a repercussão e o sentido de vanguarda (de estar à frente) deste texto!
Muitas são as mensagens deixadas por Brecht. Todos somos iguais, homens e mulheres, todos têm virtudes e vícios. Não é fácil ser “bonzinho” e muitos querem tirar proveito sempre. E posição social não quer dizer, absolutamente, nada!
A alma boa teve que se passar por outra pessoa para não se corromper. E ainda hoje, muitas vezes, temos que se passar por outra pessoa. Nesse mundo, onde a roda gira e você nunca sabe se estará por cima ou por baixo, temos que “vender” os nossos princípios, e nos moldar segundo o ritmo. Mas a que preço? Vale a pena? Acho que não. Sempre vale mais a pena sermos autênticos e conscientes dos nossos valores e papéis na sociedade.
Podemos até sair perdendo alguma grana, mas o que não tem preço é fazer o que na sua consciência você acha o certo. Caro leitor, não se venda, assuma os riscos e multiplique o bem!
Não sou especialista em teatro, nem assisti a muitas peças na minha vida, mas esta para mim é especial. Bertolt Brecht foi amigo de Walter Benjamin, teórico crítico, o qual eu dedico meus dias para terminar a infinita dissertação de mestrado.
O teatro brechtiniano tem como peculiaridade o lado didático. Ou seja, “ensinar” as massas, dar ensinamento às massas para que seja possível a tomada de consciência. Outra característica é o “metateatro” (semelhante à metalinguagem) – o teatro dentro do teatro – o recurso no qual o ator dialoga com o público, como se estivesse “fora” da peça. Com este recurso é feita a síntese do pensamento apresentado.
Aqui no Brasil, a peça foi encenada priorizando o humor já apresentado no texto original de Brecht. No entanto, não vemos um humor germânico, mas sim um humor bem característico nosso. Em alguns momentos os clichês e as piadas hodiernas tomam cena, deixando um pouco menor a importância do texto original. Em vários momentos esquece-se que a peça se passa na China antiga. Mas essa pode ter sido a intenção. Trazer ao máximo para os nossos dias. Para que os ensinamentos e sugestões de Brecht pudessem ser ainda mais atuais.
Hoje, ainda temos uma massa que não tem consciência de sua função na esfera social, e cada vez menos ligada aos valores e virtudes necessárias para uma vida em harmonia.
A alma boa, única no mundo, demonstra como está cada vez mais difícil ser um SER HUMANO BOM.
Uma das sugestões que “fica no ar”, é a de que num mundo capitalista o ser humano fica ainda mais tentado a corromper-se pelo caminho do mal. Para poder sobreviver no mundo do capital, da grana, temos que passar por cima de nossos valores e virtudes? Às vezes.
É sempre fácil condenar olhando de fora, mas um vendedor de água, que tem todas as características de uma alma boa, usa uma “canequinha” furada, ou seja, é desonesto. O seu argumento é de que o mundo é cruel, e se ele não proceder assim ele não sobreviverá.
O que eu mais gostei da peça é que a alma boa, que o Santíssimo tanto procura, estava na pele de uma mulher, e ainda por cima, prostituta! Imaginem a repercussão e o sentido de vanguarda (de estar à frente) deste texto!
Muitas são as mensagens deixadas por Brecht. Todos somos iguais, homens e mulheres, todos têm virtudes e vícios. Não é fácil ser “bonzinho” e muitos querem tirar proveito sempre. E posição social não quer dizer, absolutamente, nada!
A alma boa teve que se passar por outra pessoa para não se corromper. E ainda hoje, muitas vezes, temos que se passar por outra pessoa. Nesse mundo, onde a roda gira e você nunca sabe se estará por cima ou por baixo, temos que “vender” os nossos princípios, e nos moldar segundo o ritmo. Mas a que preço? Vale a pena? Acho que não. Sempre vale mais a pena sermos autênticos e conscientes dos nossos valores e papéis na sociedade.
Podemos até sair perdendo alguma grana, mas o que não tem preço é fazer o que na sua consciência você acha o certo. Caro leitor, não se venda, assuma os riscos e multiplique o bem!
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Pneu furou, acenda o farol, acenda o farol!
Caro leitor, tem dias que tudo parece acontecer com a gente. Sabe, não fatos isolados, mas uma avalanche de coisas. Isso nos dá uma sensação de estar fora do nosso corpo. Como se estivéssemos descolados do próprio corpo e nos projetássemos para fora. Pelo menos eu me sinto assim. Não sei você. Mas, com certeza, você, leitor, deve sentir alguma estranheza especifica quando seu dia está tomado por uma soma desenfreada de coisas.
Não sou dramática, sou realista. Temos muitas coisas para fazer, exigem-se muito de nós. Falo em nós, porque acredito que não estou “nessa” sozinha. Falo em nós, porque acredito que muitos têm esse sentimento. O sentimento de que 24 horas é pouco. O sentimento que o dia passa rápido demais.
A rapidez, a eficiência, a produtividade está sempre em primeiro plano. Temos metas, objetivos. Temos que gerar lucro, sempre. Mesmo no âmbito intelectual, ou até mesmo, artístico temos que seguir estas regras.
Eu vou ser bem sincera, quero mais sossego, uma casa no campo pelo menos por 15 dias no mês seria muito agradável. Sem o barulho dos motores, das buzinas, o caminhão (chatérrimo) do gás, e dos produtos de limpeza, se não me engano, Pamambi.
Quem não assistiu, assista, o clássico sempre atual “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, mesmo nos anos 1930, esse sentimento do rápido, do transitório e do efêmero já fazia parte do universo dos indivíduos. A alienação no trabalho, na vida, no lazer, na produção é fato consumado e permanente – pelo menos nesse sistema econômico.
Desde a revolução industrial estamos caminhando para o colapso do próprio homem, do próprio SER HUMANO. A subjugação do homem pelo próprio homem, ou seja, o domínio do homem por outro homem.
Mas eu estou fugindo do tema que eu propus para mim mesma nesta semana. Eu comecei falando em dias ruins, e acabei deixando no ar que todos os dias podem ser ruins no sistema capitalista, no qual poucos pensam e muitos executam, como na dicotomia execução-produção.
Mas o filosofar tem dessas coisas, a divagação é sempre um risco. Mas foi uma fuga consciente, porque esse tema da alienação e da nossa perda da identidade é realmente mais interessante, do que o meu dia ruim. Só porque no meio da madrugada o pneu do meu carro furou, o estepe estava murcho, e a bateria acabou, não é motivo de fúria e indignação para eu escrever aqui.
Temos que nos indignar sim pela nossa falta de tempo e tolerância, pela venda de nossas horas livres. Porque você sabe né? Nós vendemos a nossa força e nosso tempo para o patrão, quando aceitamos um emprego. E o valor que você vende o seu tempo livre é justo? Está justa a divisão dos lucros?
Eu não tenho aqui – neste pequeno e valioso espaço – pretensão alguma em fazer algum tipo de revolução. O próprio Marx já tinha “se ligado” de que o tempo para se fazer a revolução havia passado, que a tomada de consciência dos operários estava longe de acontecer. O século XX chegou, aumentou a classe média, e todos estavam atrelados em demasia ao sistema econômico ao adquirir bens de consumo. Esse trabalhador já era alienado o suficiente e não se reconhecia mais nos produtos que produzia.
Então, o que nos resta fazer? Cruzar os braços e ver o quanto robóticos nos tornamos?
O poeta Thiago de Mello, em “Os estatutos do homem”, sintetiza o sentimento de indignação que está me consumindo e me entristecendo. Mas neste trecho do Artigo XIII, a esperança de dias melhores me alegra: “Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras”. A esperança é sempre positiva.
Não sou dramática, sou realista. Temos muitas coisas para fazer, exigem-se muito de nós. Falo em nós, porque acredito que não estou “nessa” sozinha. Falo em nós, porque acredito que muitos têm esse sentimento. O sentimento de que 24 horas é pouco. O sentimento que o dia passa rápido demais.
A rapidez, a eficiência, a produtividade está sempre em primeiro plano. Temos metas, objetivos. Temos que gerar lucro, sempre. Mesmo no âmbito intelectual, ou até mesmo, artístico temos que seguir estas regras.
Eu vou ser bem sincera, quero mais sossego, uma casa no campo pelo menos por 15 dias no mês seria muito agradável. Sem o barulho dos motores, das buzinas, o caminhão (chatérrimo) do gás, e dos produtos de limpeza, se não me engano, Pamambi.
Quem não assistiu, assista, o clássico sempre atual “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, mesmo nos anos 1930, esse sentimento do rápido, do transitório e do efêmero já fazia parte do universo dos indivíduos. A alienação no trabalho, na vida, no lazer, na produção é fato consumado e permanente – pelo menos nesse sistema econômico.
Desde a revolução industrial estamos caminhando para o colapso do próprio homem, do próprio SER HUMANO. A subjugação do homem pelo próprio homem, ou seja, o domínio do homem por outro homem.
Mas eu estou fugindo do tema que eu propus para mim mesma nesta semana. Eu comecei falando em dias ruins, e acabei deixando no ar que todos os dias podem ser ruins no sistema capitalista, no qual poucos pensam e muitos executam, como na dicotomia execução-produção.
Mas o filosofar tem dessas coisas, a divagação é sempre um risco. Mas foi uma fuga consciente, porque esse tema da alienação e da nossa perda da identidade é realmente mais interessante, do que o meu dia ruim. Só porque no meio da madrugada o pneu do meu carro furou, o estepe estava murcho, e a bateria acabou, não é motivo de fúria e indignação para eu escrever aqui.
Temos que nos indignar sim pela nossa falta de tempo e tolerância, pela venda de nossas horas livres. Porque você sabe né? Nós vendemos a nossa força e nosso tempo para o patrão, quando aceitamos um emprego. E o valor que você vende o seu tempo livre é justo? Está justa a divisão dos lucros?
Eu não tenho aqui – neste pequeno e valioso espaço – pretensão alguma em fazer algum tipo de revolução. O próprio Marx já tinha “se ligado” de que o tempo para se fazer a revolução havia passado, que a tomada de consciência dos operários estava longe de acontecer. O século XX chegou, aumentou a classe média, e todos estavam atrelados em demasia ao sistema econômico ao adquirir bens de consumo. Esse trabalhador já era alienado o suficiente e não se reconhecia mais nos produtos que produzia.
Então, o que nos resta fazer? Cruzar os braços e ver o quanto robóticos nos tornamos?
O poeta Thiago de Mello, em “Os estatutos do homem”, sintetiza o sentimento de indignação que está me consumindo e me entristecendo. Mas neste trecho do Artigo XIII, a esperança de dias melhores me alegra: “Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras”. A esperança é sempre positiva.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Pôr em prática!
Uma semana em nome da pátria, em nome da independência, da emancipação. Os antagonismos estão sempre presentes em nosso dia a dia. Coreanos são assassinados, roubados, ameaçados e coagidos. Aqui o fim de semana com as cores do arco íris da diversidade. Como a realidade é contraditória, as dualidades estão sempre dando o tom.
Ao mesmo tempo em que avançamos frente ao preconceito, regredimos violentamente em outros momentos.
As pessoas preferem escolher um determinado dia para permitir a diversidade, mas o que deveria, sim, ser regra é a escolha da diversidade todos os dias.
Um dia para comemorar, para festejar a diversidade é pouco diante da realidade de nossa sociedade. Eu acredito que ao escolhermos um determinado dia estamos limitando, determinando. Direitos iguais para todos os seres humanos! Sempre!
O ser humano é engraçado – ironizando para não cair num pessimismo sem fim – abre algumas concessões e se fecha em outras. Mas no caso não o ser humano, mas a humanidade em si, envolvendo todos os seus aspectos e âmbitos históricos.
O terror aplicado aos coreanos em São Paulo, pela “Mooca Chapa Quente” (MCQ), uma gangue com mais de 60 adolescentes e jovens, ilustra o problema principal: do preconceito com as diferenças. O modus operandi da MCQ, segundo o jornal O Globo, “consiste em pichar seus símbolos nas casas de orientais e descendentes para sinalizar que a residência é o próximo alvo. O sinal verde para o assalto também pode ser detectado por um plástico ou pano amarrado no portão da casa. Os criminosos espancam vítimas, ameaçam atear fogo a seus corpos e exibem orgulhosos o dinheiro roubado e o armamento do grupo em sites da internet”. O que mais me assusta é essa necessidade de exibir como um troféu os crimes, a internet tem a função de podium para aquele que mais-violência dissipar.
Portanto vamos refletir, vamos analisar a situação proposta pela semana da diversidade. Temos que ser mais HUMANOS, temos que nos unir, amai uns aos outros, no sentido extremo de amor pleno. Coreanos, gays, deficientes, brancos, negros, índios, todos juntos! Não importa a etnia, o credo ou a opção de vida, nem a condição de vida.
Muitos falam que em Bauru tivemos, no último domingo, a “parada gay”. No entanto, eu acredito que a proposta desta mobilização é muito mais abrangente. Porque o título é “Parada da Diversidade”, no sentido amplo, no sentido de respeitarmos aquilo que a sociedade civil estabeleceu como diferente.
Porque devemos ser de determinada forma? Como estabelecemos os nossos padrões? O que é certo ou errado? Todas as respostas estão calcadas na História, assim mesmo com “H” maiúsculo, uma história da História universal, às vezes, como no caso de Hegel, personificada no Espírito Absoluto. Analisando todo o percurso cultural-histórico temos o preconceito como algo enraizado. Essas barreiras têm que ser vencidas. Temos que pôr em prática a nossa Razão, não uma razão instrumental, tecnificada, mas sim uma Razão que englobe todo o caráter emancipatório do homem. Porque se não focarmos nessa Razão (maior), podemos cair novamente num estado de exceção, onde o fascismo reina. Onde a violência é o motor que une todos num clima de terror.
Não podemos voltar aos tempos da 2ª Guerra Mundial, onde o preconceito pelo diferente trouxe tantas dores. A ordem é amar, sempre. Amar o ser humano em geral, não restringir, não particularizar. Não adianta nos fecharmos em gangues, tribos ou turminhas, temos que nos relacionar com o mundo e com todos!
Ao mesmo tempo em que avançamos frente ao preconceito, regredimos violentamente em outros momentos.
As pessoas preferem escolher um determinado dia para permitir a diversidade, mas o que deveria, sim, ser regra é a escolha da diversidade todos os dias.
Um dia para comemorar, para festejar a diversidade é pouco diante da realidade de nossa sociedade. Eu acredito que ao escolhermos um determinado dia estamos limitando, determinando. Direitos iguais para todos os seres humanos! Sempre!
O ser humano é engraçado – ironizando para não cair num pessimismo sem fim – abre algumas concessões e se fecha em outras. Mas no caso não o ser humano, mas a humanidade em si, envolvendo todos os seus aspectos e âmbitos históricos.
O terror aplicado aos coreanos em São Paulo, pela “Mooca Chapa Quente” (MCQ), uma gangue com mais de 60 adolescentes e jovens, ilustra o problema principal: do preconceito com as diferenças. O modus operandi da MCQ, segundo o jornal O Globo, “consiste em pichar seus símbolos nas casas de orientais e descendentes para sinalizar que a residência é o próximo alvo. O sinal verde para o assalto também pode ser detectado por um plástico ou pano amarrado no portão da casa. Os criminosos espancam vítimas, ameaçam atear fogo a seus corpos e exibem orgulhosos o dinheiro roubado e o armamento do grupo em sites da internet”. O que mais me assusta é essa necessidade de exibir como um troféu os crimes, a internet tem a função de podium para aquele que mais-violência dissipar.
Portanto vamos refletir, vamos analisar a situação proposta pela semana da diversidade. Temos que ser mais HUMANOS, temos que nos unir, amai uns aos outros, no sentido extremo de amor pleno. Coreanos, gays, deficientes, brancos, negros, índios, todos juntos! Não importa a etnia, o credo ou a opção de vida, nem a condição de vida.
Muitos falam que em Bauru tivemos, no último domingo, a “parada gay”. No entanto, eu acredito que a proposta desta mobilização é muito mais abrangente. Porque o título é “Parada da Diversidade”, no sentido amplo, no sentido de respeitarmos aquilo que a sociedade civil estabeleceu como diferente.
Porque devemos ser de determinada forma? Como estabelecemos os nossos padrões? O que é certo ou errado? Todas as respostas estão calcadas na História, assim mesmo com “H” maiúsculo, uma história da História universal, às vezes, como no caso de Hegel, personificada no Espírito Absoluto. Analisando todo o percurso cultural-histórico temos o preconceito como algo enraizado. Essas barreiras têm que ser vencidas. Temos que pôr em prática a nossa Razão, não uma razão instrumental, tecnificada, mas sim uma Razão que englobe todo o caráter emancipatório do homem. Porque se não focarmos nessa Razão (maior), podemos cair novamente num estado de exceção, onde o fascismo reina. Onde a violência é o motor que une todos num clima de terror.
Não podemos voltar aos tempos da 2ª Guerra Mundial, onde o preconceito pelo diferente trouxe tantas dores. A ordem é amar, sempre. Amar o ser humano em geral, não restringir, não particularizar. Não adianta nos fecharmos em gangues, tribos ou turminhas, temos que nos relacionar com o mundo e com todos!
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Lixo: para onde vamos mandá-lo?
Você já parou para pensar para aonde vai todo o lixo que produzimos? Se fossemos ingleses seria fácil esta questão. Era só mandar tudo num container para algum país da América do Sul, mais especificamente, o Brasil. Na verdade não foi apenas um container, mas sim 56! Ou melhor, 900 toneladas de lixo comum. Leia-se camisinhas e fraldas usadas, seringas, restos de comida... Dizem que havia até brinquedos com recados para fossem dados às crianças brasileiras. Simplesmente um absurdo, que só poderia partir de uma monarquia decadente. Vale lembrar que isso parece ser uma prática comum dos países da Europa, que mandam seu lixo para a África e Ásia. E não é só lixo, propriamente dito, que eles andam mandando pra outros países… tem o “lixo” de gente também.
O mundo está inflado, super populoso e, ainda por cima, sem consciência ecológica.
Mas a culpa é de quem?
A culpa é do sistema capitalista de produção, que só sabe incentivar o consumo e a produção desenfreada.
O problema todo teve início quando a burguesia comprou a sua liberdade e saiu por ai desbravando mares, conquistando territórios e ampliando mercados. Com o aumento da produção surgem as fábricas, com as fábricas surgem o proletariado. E toda uma lógica de consumo.
Taylor em seu livro, Princípio de administração científica, propõe a racionalização da produção, com a finalidade da produção em massa. Já Henry Ford introduz a linha de montagem na produção automobilística, que século XX se expande, a partir dos EUA, para todos os ambientes, visando mais eficiência.
O mundo só pensava em produzir para o consumo desenfreado. Sem consciência das agressões ambientais.
Ainda hoje, no século XXI, temos a ilusão de uma consciência ambiental. Separar o lixo ainda é uma luta, as pessoas têm preguiça. Ao invés de consertar um aparelho quebrado preferimos jogar fora (mas aonde é o fora?) e comprar um novo, porque a lógica capitalista afirma que é mais barato comprar um aparelho tecnológico novo, do que consertar. Realmente, arrumar fica caro, é mais vantajoso ter um aparelho novo com nova tecnologia, mas é vantajoso para quem? Aposto que para o nosso planeta e para os técnicos em conserto não.
Há duas semanas uma equipe de cientistas e ambientalistas partiu de São Francisco, nos EUA, em busca do que alguns chamam de "A Ilha do Lixo" – um redemoinho de lixo no Oceano Pacífico formado por mais de seis milhões de toneladas de plástico. O amontoado de lixo flutua à deriva entre a Califórnia e o Japão.
A que ponto chegamos? É como arrastar para debaixo do tapete a sujeira. Não temos aonde por em terra, joga-se no mar.
Segundo o site portaldomeioambiente.org.br, “o redemoinho foi descoberto em 1997 pelo oceanógrafo Charles Moore. Ele ignorou os alertas de não passar pela região, onde faltam ventos e correntes, e acabou descobrindo o acumulado de lixo. Durante a viagem, o oceanógrafo encontrou pedaços de garrafas, sacos plásticos, seringas e uma variedade enorme de outros objetos de plástico em vários estados de conservação, já que, devido à ação do sol e dos ventos, o material se desintegra em fragmentos pequenos que flutuam durante anos, obedecendo às correntes marítimas”.
Só para termos dimensão do lixo que está lá. Ele é duas vezes maior do que a superfície do estado norte-americano do Texas. É muito lixo!
Mais de uma década descoberto e ninguém fez nada para resolver o gigantesco problema. Porque o lixo está em águas internacionais, ou seja, não é do governo de nenhum país. Mas isso não significa que não influencie todos os países do mundo. Peixes estão morrendo, águas são poluídas, e o problema é de quem? Vamos olhar com mais carinho e consciência para o nosso lar, o nosso planeta!
O mundo está inflado, super populoso e, ainda por cima, sem consciência ecológica.
Mas a culpa é de quem?
A culpa é do sistema capitalista de produção, que só sabe incentivar o consumo e a produção desenfreada.
O problema todo teve início quando a burguesia comprou a sua liberdade e saiu por ai desbravando mares, conquistando territórios e ampliando mercados. Com o aumento da produção surgem as fábricas, com as fábricas surgem o proletariado. E toda uma lógica de consumo.
Taylor em seu livro, Princípio de administração científica, propõe a racionalização da produção, com a finalidade da produção em massa. Já Henry Ford introduz a linha de montagem na produção automobilística, que século XX se expande, a partir dos EUA, para todos os ambientes, visando mais eficiência.
O mundo só pensava em produzir para o consumo desenfreado. Sem consciência das agressões ambientais.
Ainda hoje, no século XXI, temos a ilusão de uma consciência ambiental. Separar o lixo ainda é uma luta, as pessoas têm preguiça. Ao invés de consertar um aparelho quebrado preferimos jogar fora (mas aonde é o fora?) e comprar um novo, porque a lógica capitalista afirma que é mais barato comprar um aparelho tecnológico novo, do que consertar. Realmente, arrumar fica caro, é mais vantajoso ter um aparelho novo com nova tecnologia, mas é vantajoso para quem? Aposto que para o nosso planeta e para os técnicos em conserto não.
Há duas semanas uma equipe de cientistas e ambientalistas partiu de São Francisco, nos EUA, em busca do que alguns chamam de "A Ilha do Lixo" – um redemoinho de lixo no Oceano Pacífico formado por mais de seis milhões de toneladas de plástico. O amontoado de lixo flutua à deriva entre a Califórnia e o Japão.
A que ponto chegamos? É como arrastar para debaixo do tapete a sujeira. Não temos aonde por em terra, joga-se no mar.
Segundo o site portaldomeioambiente.org.br, “o redemoinho foi descoberto em 1997 pelo oceanógrafo Charles Moore. Ele ignorou os alertas de não passar pela região, onde faltam ventos e correntes, e acabou descobrindo o acumulado de lixo. Durante a viagem, o oceanógrafo encontrou pedaços de garrafas, sacos plásticos, seringas e uma variedade enorme de outros objetos de plástico em vários estados de conservação, já que, devido à ação do sol e dos ventos, o material se desintegra em fragmentos pequenos que flutuam durante anos, obedecendo às correntes marítimas”.
Só para termos dimensão do lixo que está lá. Ele é duas vezes maior do que a superfície do estado norte-americano do Texas. É muito lixo!
Mais de uma década descoberto e ninguém fez nada para resolver o gigantesco problema. Porque o lixo está em águas internacionais, ou seja, não é do governo de nenhum país. Mas isso não significa que não influencie todos os países do mundo. Peixes estão morrendo, águas são poluídas, e o problema é de quem? Vamos olhar com mais carinho e consciência para o nosso lar, o nosso planeta!
domingo, 30 de agosto de 2009
Tô Só
(Crônica de Hilda Hilst para o "Correio Popular" de Campinas-SP)
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.
* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959.
(Segunda-feira, 16 de agosto de 1993)
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.
* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959.
(Segunda-feira, 16 de agosto de 1993)
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Um quilo de sal
Por que muitas vezes nos sujeitamos às situações que nos causam desconforto? Será falta de personalidade em dizer não a tais situações?
Ela, por muito tempo, não sabia como agir... Segurava o desconforto. Angustiada, tentava não estourar. Mas sempre estourava, porque aquilo não fazia parte do seu universo. Ela não suportava mais o desgaste que ele provocava em sua vida. Não queria assumir que o melhor a fazer era jogar tudo para o alto e o mandar para “o raio que o parta”! Tomar uma atitude sempre é difícil, doloroso. Doloroso para quem toma a atitude, doloroso para quem toma o pé na bunda.
Mas quando a situação é insustentável não se tem muita escolha. Mudar é quase impossível. O mundo se tornou muito individualista, ninguém quer ceder, ninguém quer perder. Nesse grande jogo as regras não são claras, e o coração sempre sai ferido.
O que mais impressiona os sentimentos dela é a falta de sentimentos dele. Ele não tem caráter, não sabe que mentir compulsivamente é uma patologia.
Ela, as vezes estando com ele é triste (mesmo ele afirmando que nunca faz por mal). Está cansada de ouvir que ele é imaturo, parece que todos tentam encobrir o desvio de caráter dele. Ela tenta enxergar coisas boas. Mas as ruins acabam se sobressaindo em alguns momentos.
O que ela pode fazer? Qual atitude tomar em relação a ele?
Seria melhor dar um fim em tudo, seria o mais ajustado, o mais racional. Mas ela sofre, com as coisas do coração não há razão, não “rola” teorizar muito. É paixão, sentimento instintivo, bem-querer. O racional não se aplica ao amor.
A felicidade existe entre eles, apesar de não ser constante, mas o que é constante? O que é certo ou errado? Quem é dono da verdade absoluta para afirmar ou negar com certeza plena? Eles deveriam ser mais unidos em meio a esse mundo de desunião. Eles são jovens – e alguns podem até dizer – que são inexperientes. Mas eles têm esperança em um dia morarem juntos. Acreditam profundamente que a culpa da desunião é a diferença geográfica.
* * *
(Só mais uma taça de vinho, já estou terminando essa história, que pode ser minha como pode ser sua).
* * *
Ela é astuta, ele é de touro. Ele não tem regras, ela é metódica. Ambos são geniosos. E nenhum gosta de café. Mas acreditam que combinam na diferença. O relacionamento é como uma relógio analógico, você tem que conseguir acertar os ponteiros, apesar deles não serem iguais, eles tem que caminhar juntos (tanto os ponteiros como o relacionamento). Ou como um amigo cearense me disse uma vez: “manter um relacionamento é comer um quilo de sal junto!”.
O ser humano é um ser social, por natureza vive em comunidades se relacionando, sempre. Aí notamos como é antinatural o homem querer se individualizar cada vez mais, se isolar, e ficar sem uma parceira, ou parceiro. O caminho é o da compreensão, da tolerância, da partilha, da amizade sincera. Sim, amizade! Porque não existe um relacionamento amoroso sem você ser amiga (o) do seu amado (a). Enfim, companheirismo no sentido pleno da palavra.
Mais uma coisa eu soube por ai, resumindo toda esta história... Ela o ama, e ele a ama também. Morrem de saudades e de ciúmes. Outro dia me falaram que eles planejam se ver, sempre que possível, e continuar juntos.
P.S. 1: Esta é uma história fictícia. Qualquer semelhança é mero acaso.
P.S. 2: Houve um erro de digitação no texto da semana passada, é Aldous e não Adous, “comi” o “l”.
Ela, por muito tempo, não sabia como agir... Segurava o desconforto. Angustiada, tentava não estourar. Mas sempre estourava, porque aquilo não fazia parte do seu universo. Ela não suportava mais o desgaste que ele provocava em sua vida. Não queria assumir que o melhor a fazer era jogar tudo para o alto e o mandar para “o raio que o parta”! Tomar uma atitude sempre é difícil, doloroso. Doloroso para quem toma a atitude, doloroso para quem toma o pé na bunda.
Mas quando a situação é insustentável não se tem muita escolha. Mudar é quase impossível. O mundo se tornou muito individualista, ninguém quer ceder, ninguém quer perder. Nesse grande jogo as regras não são claras, e o coração sempre sai ferido.
O que mais impressiona os sentimentos dela é a falta de sentimentos dele. Ele não tem caráter, não sabe que mentir compulsivamente é uma patologia.
Ela, as vezes estando com ele é triste (mesmo ele afirmando que nunca faz por mal). Está cansada de ouvir que ele é imaturo, parece que todos tentam encobrir o desvio de caráter dele. Ela tenta enxergar coisas boas. Mas as ruins acabam se sobressaindo em alguns momentos.
O que ela pode fazer? Qual atitude tomar em relação a ele?
Seria melhor dar um fim em tudo, seria o mais ajustado, o mais racional. Mas ela sofre, com as coisas do coração não há razão, não “rola” teorizar muito. É paixão, sentimento instintivo, bem-querer. O racional não se aplica ao amor.
A felicidade existe entre eles, apesar de não ser constante, mas o que é constante? O que é certo ou errado? Quem é dono da verdade absoluta para afirmar ou negar com certeza plena? Eles deveriam ser mais unidos em meio a esse mundo de desunião. Eles são jovens – e alguns podem até dizer – que são inexperientes. Mas eles têm esperança em um dia morarem juntos. Acreditam profundamente que a culpa da desunião é a diferença geográfica.
* * *
(Só mais uma taça de vinho, já estou terminando essa história, que pode ser minha como pode ser sua).
* * *
Ela é astuta, ele é de touro. Ele não tem regras, ela é metódica. Ambos são geniosos. E nenhum gosta de café. Mas acreditam que combinam na diferença. O relacionamento é como uma relógio analógico, você tem que conseguir acertar os ponteiros, apesar deles não serem iguais, eles tem que caminhar juntos (tanto os ponteiros como o relacionamento). Ou como um amigo cearense me disse uma vez: “manter um relacionamento é comer um quilo de sal junto!”.
O ser humano é um ser social, por natureza vive em comunidades se relacionando, sempre. Aí notamos como é antinatural o homem querer se individualizar cada vez mais, se isolar, e ficar sem uma parceira, ou parceiro. O caminho é o da compreensão, da tolerância, da partilha, da amizade sincera. Sim, amizade! Porque não existe um relacionamento amoroso sem você ser amiga (o) do seu amado (a). Enfim, companheirismo no sentido pleno da palavra.
Mais uma coisa eu soube por ai, resumindo toda esta história... Ela o ama, e ele a ama também. Morrem de saudades e de ciúmes. Outro dia me falaram que eles planejam se ver, sempre que possível, e continuar juntos.
P.S. 1: Esta é uma história fictícia. Qualquer semelhança é mero acaso.
P.S. 2: Houve um erro de digitação no texto da semana passada, é Aldous e não Adous, “comi” o “l”.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Os admiráveis reality shows
Na reta final, o reality show da Rede Record, A Fazenda, prova que a fórmula de agrupar pessoas reais e não personagens de um enredo ficcional dá certo.
Mas será que o enredo é realmente ficcional? Os cortes e as edições não privilegiam alguns? Há quem diga que o ator, ex-global, cantor (?), Dado Dolabella é o favorito ao prêmio de um milhão de reais. Segundo o jornal Extra On Line, “a família do ator decidiu pagar para pessoas votarem pela permanência dele no programa numa lan house do Rio. Os votos pela web tem o mesmo peso dos feitos por SMS e pelo telefone.” Quando da disputa de Dado com Pedro Leonardo e Danni Carlos.
O engraçado é quando termina o programa ou se é eliminado, o discurso é sempre o mesmo, para todos o importante é participar. Ter uma experiência de vida única num programa televisivo! Mas o que vemos é o interesse pelo dinheiro, e pela fama (que também pode trazer dinheiro).
Mas se você pensa que isso é coisa de 10 anos para cá, está enganado.
O fenômeno dos reality surge nos anos 1970, nos Estados Unidos, quando uma série – An American Family – retrata o divórcio, e a declaração de homossexualismo por parte de um dos filhos. (Já podemos notar como o efeito surpresa, ou melhor, revelação dá o toque especial deste formato). Nos anos 1980 outros programas surgem, como COPS e The Real World (Na real, MTV). Em 1999 John de Mol patenteia o formato Big Brother. E aí a história nós conhecemos... Survivor ou No Limite, é só adaptar para o país e seguir a mesma fórmula! A TV brasileira importou vários reality: Aprendiz, Supernanny, Esquadrão da Moda, Troca de Família, Astros, Ídolos, 10 anos mais jovem... Tem para todos!
E qual é o motivo de tanto sucesso? Faço o mesmo questionamento em relação ao Orkut. Analisado chega-se a conclusão de que o Orkut é um reality com proporções menores, mas o mecanismo de superexposição é o mesmo. Parece-me que as pessoas sentem necessidade, ou até mesmo, carência em suas relações humanas reais. Desta forma projetam-se em um avatar ou em um profile, para suprir necessidades. Com os programas em formato reality é a mesma coisa, há essa projeção, porque os participantes são pessoas reais, que mostram a sua realidade. Fica mais fácil, a partir desta ideologia, prender a atenção do telespectador.
O livro do escritor, hoje considerado cult, Adous Huxley, O Admirável Mundo Novo (1931), retrata através de uma “fábula” futurista uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não há vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos. Hoje a sociedade está organizada e fundamentada em torno dos aparatos tecnológicos, temos câmeras públicas em ruas, estradas, escolas, elevadores. E isso é demonstrado no livro. Então não é de se espantar achemos normal um bando de gente confinada, como gado mesmo, sendo filmada. Porque em nosso dia a dia já estamos sendo monitorados, e dê certa forma, também estamos confinados. A diferença está apenas na dimensão do espaço de confinamento.
Em um mundo no qual as pessoas se preocupam com assuntos alienantes e de pouco conteúdo emancipatório, não é de se assustar que no Top 10 da Internet quem está no topo das buscas é a Mulher samambaia, seguido do resumo das novelas. Do quase reality Edir Macedo e Campeonato Brasileiro. Do sonho: resultado da Mega Sena. Do fetiche: Juliana Paes. Das buscas funcionais como, futebol ao vivo e Climatempo.com.br. E as lanterninhas do Top 10, Ashley Tisdale (nunca tinha ouvido falar, dizem que é cantora) e Madonna (que nas últimas de net está se agarrando ao seu Jesus). Mais uma vez me pergunto e jogo para vocês se questionarem: Qual será o futuro desta sociedade?
Mas será que o enredo é realmente ficcional? Os cortes e as edições não privilegiam alguns? Há quem diga que o ator, ex-global, cantor (?), Dado Dolabella é o favorito ao prêmio de um milhão de reais. Segundo o jornal Extra On Line, “a família do ator decidiu pagar para pessoas votarem pela permanência dele no programa numa lan house do Rio. Os votos pela web tem o mesmo peso dos feitos por SMS e pelo telefone.” Quando da disputa de Dado com Pedro Leonardo e Danni Carlos.
O engraçado é quando termina o programa ou se é eliminado, o discurso é sempre o mesmo, para todos o importante é participar. Ter uma experiência de vida única num programa televisivo! Mas o que vemos é o interesse pelo dinheiro, e pela fama (que também pode trazer dinheiro).
Mas se você pensa que isso é coisa de 10 anos para cá, está enganado.
O fenômeno dos reality surge nos anos 1970, nos Estados Unidos, quando uma série – An American Family – retrata o divórcio, e a declaração de homossexualismo por parte de um dos filhos. (Já podemos notar como o efeito surpresa, ou melhor, revelação dá o toque especial deste formato). Nos anos 1980 outros programas surgem, como COPS e The Real World (Na real, MTV). Em 1999 John de Mol patenteia o formato Big Brother. E aí a história nós conhecemos... Survivor ou No Limite, é só adaptar para o país e seguir a mesma fórmula! A TV brasileira importou vários reality: Aprendiz, Supernanny, Esquadrão da Moda, Troca de Família, Astros, Ídolos, 10 anos mais jovem... Tem para todos!
E qual é o motivo de tanto sucesso? Faço o mesmo questionamento em relação ao Orkut. Analisado chega-se a conclusão de que o Orkut é um reality com proporções menores, mas o mecanismo de superexposição é o mesmo. Parece-me que as pessoas sentem necessidade, ou até mesmo, carência em suas relações humanas reais. Desta forma projetam-se em um avatar ou em um profile, para suprir necessidades. Com os programas em formato reality é a mesma coisa, há essa projeção, porque os participantes são pessoas reais, que mostram a sua realidade. Fica mais fácil, a partir desta ideologia, prender a atenção do telespectador.
O livro do escritor, hoje considerado cult, Adous Huxley, O Admirável Mundo Novo (1931), retrata através de uma “fábula” futurista uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não há vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos. Hoje a sociedade está organizada e fundamentada em torno dos aparatos tecnológicos, temos câmeras públicas em ruas, estradas, escolas, elevadores. E isso é demonstrado no livro. Então não é de se espantar achemos normal um bando de gente confinada, como gado mesmo, sendo filmada. Porque em nosso dia a dia já estamos sendo monitorados, e dê certa forma, também estamos confinados. A diferença está apenas na dimensão do espaço de confinamento.
Em um mundo no qual as pessoas se preocupam com assuntos alienantes e de pouco conteúdo emancipatório, não é de se assustar que no Top 10 da Internet quem está no topo das buscas é a Mulher samambaia, seguido do resumo das novelas. Do quase reality Edir Macedo e Campeonato Brasileiro. Do sonho: resultado da Mega Sena. Do fetiche: Juliana Paes. Das buscas funcionais como, futebol ao vivo e Climatempo.com.br. E as lanterninhas do Top 10, Ashley Tisdale (nunca tinha ouvido falar, dizem que é cantora) e Madonna (que nas últimas de net está se agarrando ao seu Jesus). Mais uma vez me pergunto e jogo para vocês se questionarem: Qual será o futuro desta sociedade?
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Agir intencionalmente bem
Gripe suína, dias dos pais, indulto, volta às aulas, Sarney... O que fazer? Sobre o que falar? O que realmente nos importa? Esta semana assisti em duas emissoras diferentes uma coisa que me chocou – deve ser porque eu tenho muito nojo ou porque é nojento mesmo –, africanos comem ratos, inteiros, tipo espetinho de rato! Por isso repito: o que nos importa?
O sistema econômico mundial não funciona. Muitos têm uma vida digna, milhares não sabem o que é dignidade. O ser humano está se esquecendo da própria humanidade. Não nos importa mais quem é o outro, ou qual é a necessidade do outro.
O filósofo alemão Immanuel Kant no livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes fala da moral, do agir moral, do que é eticamente correto (é claro que não é um livro tipo manual, como agir moralmente bem em cinco minutos). Grosso modo o livro trata destas questões.
Kant acredita que ter boa vontade é a condição de toda a moralidade. Não importa se você saciou a fome de dez pessoas ou de uma, o que importa é a boa intenção. A vontade é boa quando agimos por dever, e não conforme o dever (que pode não ser moralmente boa). Quando uma pessoa age conforme o dever, ela pode estar movida por interesses egoístas. É o caso do vendedor que é honesto com os clientes visando apenas o lucro. Ele não engana, não rouba, não viola as leis. Exteriormente e legalmente a sua ação está dentro daquilo que deve ser feito. Mas o que está por detrás deste ato é promover o seu próprio negócio. Segundo Kant ele não agiu moralmente bem, porque, a sua ação foi apenas um meio para atingir um fim pessoal.
O valor moral de uma ação está sempre na intenção, logo, moralidade e legalidade – para Kant – não são sinônimos. Explicando: se a moralidade são as ações realizadas por dever, a legalidade engloba as ações que estão em conformidade com o dever, e que podem muito bem terem sido realizadas com fins egoístas. Para o filósofo, o que deve determinar o agir é a lei moral. Essa lei moral é constituída pelos nossos valores morais. Não se trata de saber se devo mentir ou não devo. Trata-se de encontrar o que está na base da minha opção pela mentira ou pela honestidade.
"Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal", ou seja, não faça nada que não possa ser adotado como exemplo para o mundo. Assim, a fórmula kantiana não nos diz para agirmos desta ou daquela maneira, não nos dá o conteúdo da lei, apenas nos indica a forma como devemos agir.
Contudo, nos dias atuais notamos que está cada vez mais distante de nossa realidade seguir uma vida moralmente plena. Agir conforme o dever, apenas porque tem que se agir desta forma acaba sendo a regra. Não usamos a nossa Razão, e nos esquecemos dos valores morais.
Infelizmente a maioria das pessoas só se interessa em ajudar o próximo visando um meio para obter algo. Com isso o ser humano acaba sendo instrumentalizado. Ele é um degrau a ser subido para se chegar ao topo, ao tão esperado sucesso.
A regra do dia é ser bem sucedido, ganhar bem, mesmo que para isso precise passar por cima de outras pessoas. Desta forma, não vemos o outro como um ser igual, um ser humano. Vemos como um objeto, uma coisa. Assim, ele acaba coisificado pelo sistema, e ao ser coisificado, vira um número, um dado nas estatísticas.
E qual a solução para este fim terrível? A meu ver, temos que ter uma boa educação e uma boa formação moral, com valores e virtudes bem definidos, para termos condições de identificar as mazelas de nossa sociedade vigente. O começo para a mudança é prestar mais atenção naqueles que estão ao nosso lado, e assim por diante, como em uma corrente.
O sistema econômico mundial não funciona. Muitos têm uma vida digna, milhares não sabem o que é dignidade. O ser humano está se esquecendo da própria humanidade. Não nos importa mais quem é o outro, ou qual é a necessidade do outro.
O filósofo alemão Immanuel Kant no livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes fala da moral, do agir moral, do que é eticamente correto (é claro que não é um livro tipo manual, como agir moralmente bem em cinco minutos). Grosso modo o livro trata destas questões.
Kant acredita que ter boa vontade é a condição de toda a moralidade. Não importa se você saciou a fome de dez pessoas ou de uma, o que importa é a boa intenção. A vontade é boa quando agimos por dever, e não conforme o dever (que pode não ser moralmente boa). Quando uma pessoa age conforme o dever, ela pode estar movida por interesses egoístas. É o caso do vendedor que é honesto com os clientes visando apenas o lucro. Ele não engana, não rouba, não viola as leis. Exteriormente e legalmente a sua ação está dentro daquilo que deve ser feito. Mas o que está por detrás deste ato é promover o seu próprio negócio. Segundo Kant ele não agiu moralmente bem, porque, a sua ação foi apenas um meio para atingir um fim pessoal.
O valor moral de uma ação está sempre na intenção, logo, moralidade e legalidade – para Kant – não são sinônimos. Explicando: se a moralidade são as ações realizadas por dever, a legalidade engloba as ações que estão em conformidade com o dever, e que podem muito bem terem sido realizadas com fins egoístas. Para o filósofo, o que deve determinar o agir é a lei moral. Essa lei moral é constituída pelos nossos valores morais. Não se trata de saber se devo mentir ou não devo. Trata-se de encontrar o que está na base da minha opção pela mentira ou pela honestidade.
"Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal", ou seja, não faça nada que não possa ser adotado como exemplo para o mundo. Assim, a fórmula kantiana não nos diz para agirmos desta ou daquela maneira, não nos dá o conteúdo da lei, apenas nos indica a forma como devemos agir.
Contudo, nos dias atuais notamos que está cada vez mais distante de nossa realidade seguir uma vida moralmente plena. Agir conforme o dever, apenas porque tem que se agir desta forma acaba sendo a regra. Não usamos a nossa Razão, e nos esquecemos dos valores morais.
Infelizmente a maioria das pessoas só se interessa em ajudar o próximo visando um meio para obter algo. Com isso o ser humano acaba sendo instrumentalizado. Ele é um degrau a ser subido para se chegar ao topo, ao tão esperado sucesso.
A regra do dia é ser bem sucedido, ganhar bem, mesmo que para isso precise passar por cima de outras pessoas. Desta forma, não vemos o outro como um ser igual, um ser humano. Vemos como um objeto, uma coisa. Assim, ele acaba coisificado pelo sistema, e ao ser coisificado, vira um número, um dado nas estatísticas.
E qual a solução para este fim terrível? A meu ver, temos que ter uma boa educação e uma boa formação moral, com valores e virtudes bem definidos, para termos condições de identificar as mazelas de nossa sociedade vigente. O começo para a mudança é prestar mais atenção naqueles que estão ao nosso lado, e assim por diante, como em uma corrente.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Ida ao teatro: Obscena Senhora D
Impresso sobre a peça impecável. Boa fotografia, bom resumo. Boas expectativas sobre a peça. Há alguns anos sou fã, se assim pode se dizer, de Hilda Hilst (escritora de Jaú, conhecida mais no mundo do que no Brasil). Seria uma honra ver uma encenação de “Obscena Senhora D”.
Munida do meu ingresso de estudante – sim, ainda sou estudante, mesmo sendo professora – fui ao SESC na última quinta-feira. Gosto do SESC acho que lá as coisas funcionam, uma amiga me transportou (lembrem-se ainda estou me reabilitando), parou na vaga de deficientes para eu não ter que andar tanto. E não é que as coisas lá funcionam mesmo! Logo que descemos as escadas o guardinha correu dizendo que a vaga era para deficientes, eu expliquei o caso, falei do joelho operado e ele disse: Mas e se a polícia passar? O carro não tem adesivo de deficiente! Eu fiquei com isso na cabeça, e cheguei a conclusão de que eu mesma não tenho carro próprio! Então essas vagas são apenas para deficientes com carro próprio? Se uma amiga te leva ela não tem direito de estacionar ali?
Chegamos quinze minutos antes do horário. Como não haviam lugares marcados entrei na fila. Entramos no teatro, aconchegante, com o problema de não ser inclinado, ou seja, quem estava na quarta fileira – meu caso – já não enxergava muita coisa. A Obsecena Senhora D. já estava no palco, mas as luzes ainda estavam acesas. Nisso uma senhora, quase obscena, levanta e faz o seu ato. Dizendo que estava incomodada com o barulho, e que a peça já havia começado (para ela poderia ser). No entanto, a peça não havia começado de fato. Mas a Obscena Senhora D. já provocava o público presente. Isto é o mais legal e interessante do teatro, ele incomoda, provoca, instiga, e o público participa. O ator encena diante do público mesmo, e não diante de um aparato tecnológico, como os atores de cinema e tv.
Apagaram-se as luzes e a peça começou. Todo um frisson tomou conta daquela sala, as pessoas estavam inquietas e não sabiam qual reação ter diante da atriz que encenava Hillé ou Senhora D. Alguns riam, outros ficavam parados. A minha dúvida é se riam porque achava engraçado ou achava que deveria rir. Logo as indagações metafísicas surreais tomaram o tom: "E o que foi a vida? Uma aventura obscena, de tão lúcida". As pessoas presentes se inquietavam nas poltronas, tentavam entender o monólogo que estava diante dos seus olhos. A atriz provocava, estava impecável como a obscena. No vão da escada de sua casa escura, essa obscena Senhora D. nos contempla através dos buracos dos olhos das máscaras. Para falar "dessa coisa que não existe mas é crua e viva, o Tempo", para cuspir em nosso rosto a pequenez, a perdição humana, para dizer que "ninguém está bem, estamos todos morrendo". Enquanto se dissolvem no aquário peixes pardos recortados em papel. O monólogo aguça ainda mais a imaginação do público, temos que montar mentalmente a narrativa e as cenas. Contudo a peça não fica cansativa e nem vulgar, apesar de obscena. Sons, gritos, urros, rouquidões. Impossível aventurar-se no texto de Hilst sem entrega. Inútil munir-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso envolve como águas – às vezes lodosas, às vezes claras – e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo onde tudo pode acontecer. Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. Sempre se pode gostar de porcos. Gostar de gente, também. Espero que depois de terem assistido a essa peça ninguém tenha saído ileso. Como não se sai, afinal, da própria vida.
Munida do meu ingresso de estudante – sim, ainda sou estudante, mesmo sendo professora – fui ao SESC na última quinta-feira. Gosto do SESC acho que lá as coisas funcionam, uma amiga me transportou (lembrem-se ainda estou me reabilitando), parou na vaga de deficientes para eu não ter que andar tanto. E não é que as coisas lá funcionam mesmo! Logo que descemos as escadas o guardinha correu dizendo que a vaga era para deficientes, eu expliquei o caso, falei do joelho operado e ele disse: Mas e se a polícia passar? O carro não tem adesivo de deficiente! Eu fiquei com isso na cabeça, e cheguei a conclusão de que eu mesma não tenho carro próprio! Então essas vagas são apenas para deficientes com carro próprio? Se uma amiga te leva ela não tem direito de estacionar ali?
Chegamos quinze minutos antes do horário. Como não haviam lugares marcados entrei na fila. Entramos no teatro, aconchegante, com o problema de não ser inclinado, ou seja, quem estava na quarta fileira – meu caso – já não enxergava muita coisa. A Obsecena Senhora D. já estava no palco, mas as luzes ainda estavam acesas. Nisso uma senhora, quase obscena, levanta e faz o seu ato. Dizendo que estava incomodada com o barulho, e que a peça já havia começado (para ela poderia ser). No entanto, a peça não havia começado de fato. Mas a Obscena Senhora D. já provocava o público presente. Isto é o mais legal e interessante do teatro, ele incomoda, provoca, instiga, e o público participa. O ator encena diante do público mesmo, e não diante de um aparato tecnológico, como os atores de cinema e tv.
Apagaram-se as luzes e a peça começou. Todo um frisson tomou conta daquela sala, as pessoas estavam inquietas e não sabiam qual reação ter diante da atriz que encenava Hillé ou Senhora D. Alguns riam, outros ficavam parados. A minha dúvida é se riam porque achava engraçado ou achava que deveria rir. Logo as indagações metafísicas surreais tomaram o tom: "E o que foi a vida? Uma aventura obscena, de tão lúcida". As pessoas presentes se inquietavam nas poltronas, tentavam entender o monólogo que estava diante dos seus olhos. A atriz provocava, estava impecável como a obscena. No vão da escada de sua casa escura, essa obscena Senhora D. nos contempla através dos buracos dos olhos das máscaras. Para falar "dessa coisa que não existe mas é crua e viva, o Tempo", para cuspir em nosso rosto a pequenez, a perdição humana, para dizer que "ninguém está bem, estamos todos morrendo". Enquanto se dissolvem no aquário peixes pardos recortados em papel. O monólogo aguça ainda mais a imaginação do público, temos que montar mentalmente a narrativa e as cenas. Contudo a peça não fica cansativa e nem vulgar, apesar de obscena. Sons, gritos, urros, rouquidões. Impossível aventurar-se no texto de Hilst sem entrega. Inútil munir-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso envolve como águas – às vezes lodosas, às vezes claras – e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo onde tudo pode acontecer. Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. Sempre se pode gostar de porcos. Gostar de gente, também. Espero que depois de terem assistido a essa peça ninguém tenha saído ileso. Como não se sai, afinal, da própria vida.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Terapia para todos!
Fazer terapia devia ser direito de todos. Sempre pensei que fazer análise devia ser serviço prestado pelo SUS. Terapia é muito caro, uma sessão custa em média cem reais. Quem pode pagar? Apenas pessoas que ganham razoavelmente bem, ou seja, os mais favorecidos na esfera social. Contudo, há alguns lugares, como universidades, que oferecem esse serviço a preços mais acessíveis (geralmente com estudantes de psicologia).
Outra coisa. Infelizmente em nosso país muitas pessoas (o senso-comum) têm preconceitos enraizados – desde não sei quando – que mistificam a prática de ser analisado. A maioria acredita que quem procura ajuda psíquica ou é louco ou não tem capacidade de resolver os próprios problemas. Mas não é nada disso.
É muito interessante você marcar um horário, posicionar as suas idéias, falar e, principalmente, se escutar. O exercício de escutar a si mesmo é o lance mais importante. Quando paramos e nos escutamos podemos refletir a atitude que tomamos frente a um determinado problema ou situação. Quem nunca fez terapia fica imaginando e geralmente não entende quem faz.
Um alerta importante: se você quiser fazer terapia, procure se informar e pesquisar se o profissional escolhido é capacitado, e se estudou todas as vertentes do comportamento humano. Temos que tomar cuidado para não cair em armadilhas, ou em golpes de pessoas oportunistas.
Aqui no Brasil temos, em linhas gerais, a Psicoterapia Comportamental; a Breve (foca no problema atual); a Psicoterapia Corporal (trabalho com o corpo); a Psicanalística (Freud e seus seguidores) e a Psicoterapia Junguiana (baseada em Jung, dissidente de Freud).
* * *
Neste mundo moderno, no qual a velocidade e as relações inter-pessoais são fragmentadas e interesseiras, a terapia se torna imprescindível. O problema desta velocidade do mundo moderno em relação à terapia é justamente o seu “tempo de tratamento”. Muitos acham um absurdo fazer terapia por anos e anos, é mais fácil tomar um comprimido com ação imediata, dormir e esquecer as suas angustias, ao invés entender o porquê, o motivo que gera a angustia ou o trauma.
Temos temores e inquietações que muitas vezes não sabemos nem de onde surgem. A solidão nos assola mesmo quando estamos no meio da multidão.
A modernidade traz esse sentimento de pequenez diante da grandeza do mundo. Não nos entendemos e nem entendemos o outro. Georg Lukács em seu livro, A teoria do Romance (1916) – mesmo sendo considerado teoria literária – analisa o homem dentro do contexto das suas produções literárias; da epopéia ao romance.
Lukács fala-nos de um tempo em que não havia necessidade de filosofia, porque todas as explicações eram encontradas nos mitos. Esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas. O mundo era um universo fechado. Já o mundo atual ganhou em abrangência e incoerências, e o homem conheceu a solidão. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado.
Cito esse ensaio de Lukács por achar pertinente a discussão, e integrar o lado positivo do tratamento psicológico nos dias de hoje. Porque muitas destas neuroses, ansiedades e angustias que muitos médicos tratam com anti-depressivos (tarja preta) podem ser resolvidas na terapia. Na França é assim, o serviço público de saúde tratam muitas patologias com a terapia. Estudos de lá comprovam a eficácia do tratamento. Fora que reduz custos com medicamentos. O Estado adora redução de custos e de leitos em hospitais, poderia aderir a terapia para todos!
Outra coisa. Infelizmente em nosso país muitas pessoas (o senso-comum) têm preconceitos enraizados – desde não sei quando – que mistificam a prática de ser analisado. A maioria acredita que quem procura ajuda psíquica ou é louco ou não tem capacidade de resolver os próprios problemas. Mas não é nada disso.
É muito interessante você marcar um horário, posicionar as suas idéias, falar e, principalmente, se escutar. O exercício de escutar a si mesmo é o lance mais importante. Quando paramos e nos escutamos podemos refletir a atitude que tomamos frente a um determinado problema ou situação. Quem nunca fez terapia fica imaginando e geralmente não entende quem faz.
Um alerta importante: se você quiser fazer terapia, procure se informar e pesquisar se o profissional escolhido é capacitado, e se estudou todas as vertentes do comportamento humano. Temos que tomar cuidado para não cair em armadilhas, ou em golpes de pessoas oportunistas.
Aqui no Brasil temos, em linhas gerais, a Psicoterapia Comportamental; a Breve (foca no problema atual); a Psicoterapia Corporal (trabalho com o corpo); a Psicanalística (Freud e seus seguidores) e a Psicoterapia Junguiana (baseada em Jung, dissidente de Freud).
* * *
Neste mundo moderno, no qual a velocidade e as relações inter-pessoais são fragmentadas e interesseiras, a terapia se torna imprescindível. O problema desta velocidade do mundo moderno em relação à terapia é justamente o seu “tempo de tratamento”. Muitos acham um absurdo fazer terapia por anos e anos, é mais fácil tomar um comprimido com ação imediata, dormir e esquecer as suas angustias, ao invés entender o porquê, o motivo que gera a angustia ou o trauma.
Temos temores e inquietações que muitas vezes não sabemos nem de onde surgem. A solidão nos assola mesmo quando estamos no meio da multidão.
A modernidade traz esse sentimento de pequenez diante da grandeza do mundo. Não nos entendemos e nem entendemos o outro. Georg Lukács em seu livro, A teoria do Romance (1916) – mesmo sendo considerado teoria literária – analisa o homem dentro do contexto das suas produções literárias; da epopéia ao romance.
Lukács fala-nos de um tempo em que não havia necessidade de filosofia, porque todas as explicações eram encontradas nos mitos. Esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas. O mundo era um universo fechado. Já o mundo atual ganhou em abrangência e incoerências, e o homem conheceu a solidão. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado.
Cito esse ensaio de Lukács por achar pertinente a discussão, e integrar o lado positivo do tratamento psicológico nos dias de hoje. Porque muitas destas neuroses, ansiedades e angustias que muitos médicos tratam com anti-depressivos (tarja preta) podem ser resolvidas na terapia. Na França é assim, o serviço público de saúde tratam muitas patologias com a terapia. Estudos de lá comprovam a eficácia do tratamento. Fora que reduz custos com medicamentos. O Estado adora redução de custos e de leitos em hospitais, poderia aderir a terapia para todos!
domingo, 26 de julho de 2009
Antecedentes: o movimento dadaísta (ou o espírito dadaísta)
O chamado movimento dadaísta era um movimento artístico e literário com um pendor niilista, que surgiu por volta de 1916, em Zurique, acabando por se espalhar por vários países europeus e também pelos Estados Unidos. Embora se aponte 1916 como o ano em que o romeno Tristan Tzara, o alsaciano Hans Arp e os alemães Hugo Ball e Richard Huelsenbeck seguiram novas orientações artísticas. E 1924 como o final desse caminho, a verdade é que há uma discrepância destas datas, quer ao início, quer ao final deste movimento, ou como preferem os seus fundadores, desta “forma de espírito”.
O movimento Dada – os seus fundadores recusam o termo Dadaísmo já que o ismo aponta para um movimento organizado que não é o seu – surge durante e como reação à I Guerra Mundial. Os seus alicerces são os da repugnância por uma civilização que atraiçoou os homens em nome dos símbolos vazios e decadentes.
Este desespero faz com que o grande objetivo dos dadaístas seja fazer tábua rasa de toda a cultura já existente, especialmente da burguesa, substituindo-a pela loucura consciente, ignorando o sistema racional que empurrou o homem para a guerra.
Dada reivindica liberdade total e individual, é anti-regras e ideais, não reconhecendo a validade, nem do subjetivismo, nem da própria linguagem. A sua “nomenclatura” pode ser um exemplo, no qual, Dada, que Tzara diz ter encontrado ao acaso num dicionário e não significa nada. Mas ao não significar nada, significa tudo.
Estes tipos de posições paradoxais e contraditórias são características deste movimento que reclama não ter história, tradição ou método. A sua única lei é uma espécie de anarquia sentimental e intelectual que pretende atingir os dogmas da razão. Cada um dos seus gestos é um ato de polemica, de ironia mordaz, de inconformismo. É necessário ofender e subverter a sociedade. Essa subversão tem dois meios: o primeiro os próprios textos, que embora sejam concebidos como forma de intervenção direta, eram publicados nas revistas do movimento como Der Dada, Die Pleite, Der Gegner ou Der blutige Ernst, entre muitas outras. O segundo, o famoso Cabaret Voltaire, em Zurique, cujas sessões eram consideradas escandalosas pela sociedade da época verificando-se freqüentes insultos, agressões e intervenções policiais.
Não é fácil definir Dada. Os próprios dadaístas contribuem dificultando. As afirmações contraditórias não permitem um consenso já que, enquanto consideram que definir Dada era anti-Dada, tentam constantemente fazê-lo. No primeiro manifesto, Tzara, afirma, que ser contra este manifesto significa ser dadaísta (!), o que confirma a arbitrariedade e a inexistência de cânones e regras neste movimento.
Os Dada procuram dissuadir os críticos, mais do que definir algo. Jean Arp, artista plástico francês ligado ao movimento de Zurique, ridiculariza a metodologia crítica escrevendo, que não era, nem nunca seria credível qualquer história deste movimento já que, para ele não eram importantes as datas, mas sim o espírito que já existia antes do próprio nome. Além disso Tzara afirma ser contra sistemas. O sistema mais aceitável é, por princípio, não ter nenhum.
Eles, também, são conscientemente subversivos. Ridicularizam o gosto convencional e tentam deliberadamente desmantelar as artes para descobrir em que momento a criatividade e a vitalidade começam a divergir: o que é destrutivo e construtivo, frívolo e sério, artístico e anti-artístico.
Embora se tenha espalhado por quase toda a Europa, o movimento Dada tem os núcleos mais importantes em Zurique, Berlim, Colônia e Hanover. Todos eles defendem a abolição dos critérios estéticos, a destruição da cultura burguesa e da subjetividade expressionista reconhecendo, como caminhos a seguir, a dessacralização da arte e a necessidade do artista ser uma criatura do seu tempo, no entanto, há uma evolução diferenciada nestes quatro núcleos.
O núcleo de Zurique – o mais importante durante a guerra – foi muito experimentalista e provocatório, embora um pouco restrito ao círculo do Cabaret Voltaire. Deste núcleo surgem duas das mais importantes inovações dadaístas: o poema simultâneo e o poema fonético. O poema simultâneo consiste na recitação simultânea do mesmo poema em várias línguas; o poema fonético, desenvolvido por Ball, é composto unicamente por sons, com predominância de sons vocálicos. Nesta última composição a semântica é completamente posta de parte. Já que o mundo não faz sentido para os dadaístas, a linguagem também não terá de fazer.
Estes tipos de composições, juntamente com o poema visual, também assente em princípios simultâneos, e a colagem, primeiro utilizada nas artes plásticas, são as grandes inovações formais deste movimento. O grupo de Berlim, mais ativo depois da guerra, está profundamente ligado às condições socio-políticas da época. Ao contrário do núcleo de Zurique realiza intervenções politizantes, próximas da extrema esquerda, do anarquismo e da proletkult (cultura do proletariado). Apesar de tudo, os próprios Dada têm consciência da sua anarquia para aderir a um partido político e que a responsabilidade pública era inconciliável com o espírito dadaísta. Os núcleo de Colônia e Hanover são menos significativos.
Os Dada destacam-se da sociedade em que estão inseridos pela revolta, pelos valores expressos nas suas obras, pelas convicções que defendem e pelas contradições que apresentam, muitas vezes exemplo da vitalidade e humor dos criadores.
O movimento tornou-se muito popular em Paris, para onde Tzara vive depois da guerra. Na capital francesa, ao contrário de Berlim e Nova Iorque, desenvolve-se bastante no campo literário. Esta ligação foi muito importante para a gênese do surrealismo que acaba por absorver o movimento no início da década de vinte, do século XX.
As fronteiras entre os movimentos Dada e surrealista são tênues, embora se oponham. O surrealismo mergulha as suas raízes no simbolismo, enquanto Dada se aproxima mais do romantismo. O primeiro é nitidamente politizado, enquanto o segundo é, na generalidade apolítico (com exceção do grupo de Berlim).
*Este é um trecho da minha - quase lendária - dissertação de mestrado em Filosofia.
O movimento Dada – os seus fundadores recusam o termo Dadaísmo já que o ismo aponta para um movimento organizado que não é o seu – surge durante e como reação à I Guerra Mundial. Os seus alicerces são os da repugnância por uma civilização que atraiçoou os homens em nome dos símbolos vazios e decadentes.
Este desespero faz com que o grande objetivo dos dadaístas seja fazer tábua rasa de toda a cultura já existente, especialmente da burguesa, substituindo-a pela loucura consciente, ignorando o sistema racional que empurrou o homem para a guerra.
Dada reivindica liberdade total e individual, é anti-regras e ideais, não reconhecendo a validade, nem do subjetivismo, nem da própria linguagem. A sua “nomenclatura” pode ser um exemplo, no qual, Dada, que Tzara diz ter encontrado ao acaso num dicionário e não significa nada. Mas ao não significar nada, significa tudo.
Estes tipos de posições paradoxais e contraditórias são características deste movimento que reclama não ter história, tradição ou método. A sua única lei é uma espécie de anarquia sentimental e intelectual que pretende atingir os dogmas da razão. Cada um dos seus gestos é um ato de polemica, de ironia mordaz, de inconformismo. É necessário ofender e subverter a sociedade. Essa subversão tem dois meios: o primeiro os próprios textos, que embora sejam concebidos como forma de intervenção direta, eram publicados nas revistas do movimento como Der Dada, Die Pleite, Der Gegner ou Der blutige Ernst, entre muitas outras. O segundo, o famoso Cabaret Voltaire, em Zurique, cujas sessões eram consideradas escandalosas pela sociedade da época verificando-se freqüentes insultos, agressões e intervenções policiais.
Não é fácil definir Dada. Os próprios dadaístas contribuem dificultando. As afirmações contraditórias não permitem um consenso já que, enquanto consideram que definir Dada era anti-Dada, tentam constantemente fazê-lo. No primeiro manifesto, Tzara, afirma, que ser contra este manifesto significa ser dadaísta (!), o que confirma a arbitrariedade e a inexistência de cânones e regras neste movimento.
Os Dada procuram dissuadir os críticos, mais do que definir algo. Jean Arp, artista plástico francês ligado ao movimento de Zurique, ridiculariza a metodologia crítica escrevendo, que não era, nem nunca seria credível qualquer história deste movimento já que, para ele não eram importantes as datas, mas sim o espírito que já existia antes do próprio nome. Além disso Tzara afirma ser contra sistemas. O sistema mais aceitável é, por princípio, não ter nenhum.
Eles, também, são conscientemente subversivos. Ridicularizam o gosto convencional e tentam deliberadamente desmantelar as artes para descobrir em que momento a criatividade e a vitalidade começam a divergir: o que é destrutivo e construtivo, frívolo e sério, artístico e anti-artístico.
Embora se tenha espalhado por quase toda a Europa, o movimento Dada tem os núcleos mais importantes em Zurique, Berlim, Colônia e Hanover. Todos eles defendem a abolição dos critérios estéticos, a destruição da cultura burguesa e da subjetividade expressionista reconhecendo, como caminhos a seguir, a dessacralização da arte e a necessidade do artista ser uma criatura do seu tempo, no entanto, há uma evolução diferenciada nestes quatro núcleos.
O núcleo de Zurique – o mais importante durante a guerra – foi muito experimentalista e provocatório, embora um pouco restrito ao círculo do Cabaret Voltaire. Deste núcleo surgem duas das mais importantes inovações dadaístas: o poema simultâneo e o poema fonético. O poema simultâneo consiste na recitação simultânea do mesmo poema em várias línguas; o poema fonético, desenvolvido por Ball, é composto unicamente por sons, com predominância de sons vocálicos. Nesta última composição a semântica é completamente posta de parte. Já que o mundo não faz sentido para os dadaístas, a linguagem também não terá de fazer.
Estes tipos de composições, juntamente com o poema visual, também assente em princípios simultâneos, e a colagem, primeiro utilizada nas artes plásticas, são as grandes inovações formais deste movimento. O grupo de Berlim, mais ativo depois da guerra, está profundamente ligado às condições socio-políticas da época. Ao contrário do núcleo de Zurique realiza intervenções politizantes, próximas da extrema esquerda, do anarquismo e da proletkult (cultura do proletariado). Apesar de tudo, os próprios Dada têm consciência da sua anarquia para aderir a um partido político e que a responsabilidade pública era inconciliável com o espírito dadaísta. Os núcleo de Colônia e Hanover são menos significativos.
Os Dada destacam-se da sociedade em que estão inseridos pela revolta, pelos valores expressos nas suas obras, pelas convicções que defendem e pelas contradições que apresentam, muitas vezes exemplo da vitalidade e humor dos criadores.
O movimento tornou-se muito popular em Paris, para onde Tzara vive depois da guerra. Na capital francesa, ao contrário de Berlim e Nova Iorque, desenvolve-se bastante no campo literário. Esta ligação foi muito importante para a gênese do surrealismo que acaba por absorver o movimento no início da década de vinte, do século XX.
As fronteiras entre os movimentos Dada e surrealista são tênues, embora se oponham. O surrealismo mergulha as suas raízes no simbolismo, enquanto Dada se aproxima mais do romantismo. O primeiro é nitidamente politizado, enquanto o segundo é, na generalidade apolítico (com exceção do grupo de Berlim).
*Este é um trecho da minha - quase lendária - dissertação de mestrado em Filosofia.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
motivar
Estou muito bem hoje, acordei com vontade de mudar e motivar.
A mudaça já começou e, com certeza, irá transformar a minha vida substancialmente.
* * *
O limite é importante, não existe vida social sem limites. Ao transpor limites esbarramos na subjetividade do outro. E temos o risco de magoar.
* * *
Respeito e cuidado são virtudes.
A mudaça já começou e, com certeza, irá transformar a minha vida substancialmente.
* * *
O limite é importante, não existe vida social sem limites. Ao transpor limites esbarramos na subjetividade do outro. E temos o risco de magoar.
* * *
Respeito e cuidado são virtudes.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Experiência empírica
Estava pensando no decorrer destes dias no que escrever. O que seria interessante e ao mesmo tempo enriquecedor? De sexta para cá estive zanzando por ai e acabei encontrando o meu tema.
Como eu já disse em um texto anterior, “estou meio paradinha”, por causa de uma cirurgia no joelho que eu me submeti há quase 30 dias. Desta forma, sou uma “deficiente” temporária (já posso circular por aí com a minha muletinha).
Mas aonde eu quero chegar contando a vocês sobre a minha vida pessoal? Chegarei lá.
Na última sexta-feira, fui com a nossa colunista Camila à casa noturna Santa Madalena prestigiar a banda bauruense Move Over. Achei que seria moleza. Logo na entrada fui surpreendida com o primeiro obstáculo: uma escada!
Subi com a ajuda da minha fiel muleta e com a paciência da Camila.
O segundo obstáculo era cruzar o bar rumo ao camarim da banda.
Na minha cabeça as pessoas iriam ver que eu estava de muleta e abririam caminho. Tolice. Tinha que parar e cutucar as pessoas para poder abrir caminho.
No fim da noite fomos pagar os cartões de consumo, e uma garota pediu para passar na minha frente, eu deixei, a Camila ficou indignada com a falta de bom senso da menina.
No dia seguinte fiquei pensando sobre a minha aventura. E cheguei à triste conclusão de que um cadeirante, logo de cara, já não poderia assistir ao show da Move Over. A casa noturna, como muitas outras – para não falar todas – não tem acesso para deficientes. Uma pessoa que é impossibilitada de subir escadas teria que ser carregada para ter acesso ao palco. Na minha opinião, seria um tipo de humilhação depender de alguém para entrar em uma balada. Seria muito mais justo e humano ter acesso facilitado.
Conversando com um amigo advogado, ele afirmou que casas noturnas, bares, enfim, lugares que as pessoas freqüentam, só terão obrigatoriedade por lei em facilitar o acesso em 2013. Até lá as pessoas portadoras de necessidades especiais ficam sem ir à esses lugares?
No domingo tive outra experiência, que seria normal e corriqueira: fui ao supermercado. Como ainda não posso dirigir fui com a minha mãe. Falei para ela parar na vaga de deficientes. Justo, já que tenho certa dificuldade em caminhar. O supermercado Confiança Max possui duas vagas para deficientes ao lado do quiosque do MacDonald’s, o que leva a maioria das pessoas pensarem que são vagas que ninguém usa, e não há mal nenhum em estacionar ali. No lado oposto do estacionamento há vagas para idosos, e eu vi muitos não-idosos estacionados ali.
Essas atitudes me levam a crer que as pessoas não têm bom-senso. O bom-senso nos dias de hoje é uma postura tão cara, que se configura como uma Virtude.
Enfim, entrei no mercado e fiz a compra. Só que no decorrer me deu vontade de ir ao banheiro (coisa mais normal do mundo): outro transtorno.
Estava perto das bebidas e entrei no banheiro mais próximo, e era para deficientes. Claro que estava trancado à chave (nada pode ser fácil nesta vida). Pedi ao funcionário a chave, que mais parecia um bem precioso guardado em cofre. Cinco minutos depois ele aparece (contei no relógio). Numa dessas se estivesse muito apertada...
Achei que a missão “banheiro” já estava concluída quando olhei para o vaso sanitário e estava totalmente sujo (eu sei que não é legal falar sobre isso). Usem a criatividade e imaginem o “sujo”. A missão foi abortada por motivos óbvios.
Muitos podem pensar: O que essa menina quer saindo por ai? Por que não fica em casa? Ela está doente, não pode sair. Mas a verdade é que não estou doente, estou me recuperando, e parte da minha reabilitação é ter uma vida normal. O problema é que a configuração da mentalidade da nossa sociedade dificulta ainda mais o que já é difícil.
Vamos tentar ser menos egoístas, porque não sabemos o que nos aguarda no futuro.
Como eu já disse em um texto anterior, “estou meio paradinha”, por causa de uma cirurgia no joelho que eu me submeti há quase 30 dias. Desta forma, sou uma “deficiente” temporária (já posso circular por aí com a minha muletinha).
Mas aonde eu quero chegar contando a vocês sobre a minha vida pessoal? Chegarei lá.
Na última sexta-feira, fui com a nossa colunista Camila à casa noturna Santa Madalena prestigiar a banda bauruense Move Over. Achei que seria moleza. Logo na entrada fui surpreendida com o primeiro obstáculo: uma escada!
Subi com a ajuda da minha fiel muleta e com a paciência da Camila.
O segundo obstáculo era cruzar o bar rumo ao camarim da banda.
Na minha cabeça as pessoas iriam ver que eu estava de muleta e abririam caminho. Tolice. Tinha que parar e cutucar as pessoas para poder abrir caminho.
No fim da noite fomos pagar os cartões de consumo, e uma garota pediu para passar na minha frente, eu deixei, a Camila ficou indignada com a falta de bom senso da menina.
No dia seguinte fiquei pensando sobre a minha aventura. E cheguei à triste conclusão de que um cadeirante, logo de cara, já não poderia assistir ao show da Move Over. A casa noturna, como muitas outras – para não falar todas – não tem acesso para deficientes. Uma pessoa que é impossibilitada de subir escadas teria que ser carregada para ter acesso ao palco. Na minha opinião, seria um tipo de humilhação depender de alguém para entrar em uma balada. Seria muito mais justo e humano ter acesso facilitado.
Conversando com um amigo advogado, ele afirmou que casas noturnas, bares, enfim, lugares que as pessoas freqüentam, só terão obrigatoriedade por lei em facilitar o acesso em 2013. Até lá as pessoas portadoras de necessidades especiais ficam sem ir à esses lugares?
No domingo tive outra experiência, que seria normal e corriqueira: fui ao supermercado. Como ainda não posso dirigir fui com a minha mãe. Falei para ela parar na vaga de deficientes. Justo, já que tenho certa dificuldade em caminhar. O supermercado Confiança Max possui duas vagas para deficientes ao lado do quiosque do MacDonald’s, o que leva a maioria das pessoas pensarem que são vagas que ninguém usa, e não há mal nenhum em estacionar ali. No lado oposto do estacionamento há vagas para idosos, e eu vi muitos não-idosos estacionados ali.
Essas atitudes me levam a crer que as pessoas não têm bom-senso. O bom-senso nos dias de hoje é uma postura tão cara, que se configura como uma Virtude.
Enfim, entrei no mercado e fiz a compra. Só que no decorrer me deu vontade de ir ao banheiro (coisa mais normal do mundo): outro transtorno.
Estava perto das bebidas e entrei no banheiro mais próximo, e era para deficientes. Claro que estava trancado à chave (nada pode ser fácil nesta vida). Pedi ao funcionário a chave, que mais parecia um bem precioso guardado em cofre. Cinco minutos depois ele aparece (contei no relógio). Numa dessas se estivesse muito apertada...
Achei que a missão “banheiro” já estava concluída quando olhei para o vaso sanitário e estava totalmente sujo (eu sei que não é legal falar sobre isso). Usem a criatividade e imaginem o “sujo”. A missão foi abortada por motivos óbvios.
Muitos podem pensar: O que essa menina quer saindo por ai? Por que não fica em casa? Ela está doente, não pode sair. Mas a verdade é que não estou doente, estou me recuperando, e parte da minha reabilitação é ter uma vida normal. O problema é que a configuração da mentalidade da nossa sociedade dificulta ainda mais o que já é difícil.
Vamos tentar ser menos egoístas, porque não sabemos o que nos aguarda no futuro.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
divagações...
é tão ruim ficar parado.
o tédio,
a tristeza,
estão me consumindo.
queria carinho, o seu.
mas quem é você?
pode me oferecer aquilo que eu busco?
estou a sua espera,
não demore...
o tédio,
a tristeza,
estão me consumindo.
queria carinho, o seu.
mas quem é você?
pode me oferecer aquilo que eu busco?
estou a sua espera,
não demore...
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Preguiça das relações
Hoje em dia temos – nitidamente – preguiça em nos relacionarmos com as pessoas. É muito mais fácil ficarmos reclusos no mesmo “grupinho” e não nos aventurarmos em novas relações pessoais (reais).
Um dos fatores que elevam o índice das pessoas não se interessarem mais no conhecer, no relacionar-se é a Internet. Mas aí você pode dizer: Mas com a Internet podemos conhecer pessoas, mandar e-mails, bater-papo. Sim, podemos fazer tudo isso e muito mais. Contudo as relações são superficiais.
Não há o contato, a troca de olhares ou a cumplicidade de uma relação mutua entre as pessoas. Esse contato verdadeiro, não virtual, está cada vez mais escasso, as pessoas se limitam, e essa limitação é confortável. Se não queremos falar com determinada pessoa, ao invés de resolvermos o nosso problema com ela, simplesmente, a bloqueamos ou deletamos.
A Internet é uma ferramenta, e não uma condição para nos inter-relacionarmos uns com os outros. Ela limita e corrompe. Porque o que fazemos no mundo virtual queremos transpor para a realidade. A realidade, que deve ser tomada como verdade, está sendo subjugada pela virtualidade.
Outro problema do mundo virtual está ligado à criminalidade. A maioria das pessoas acredita que as leis do mundo real não se aplicam ao mundo virtual. Criam um avatar, um fake, e podem tudo. Estão legalmente protegidos em suas casas diante do aparato tecnológico. É a partir desta mentalidade que casos de pedofilia cresceram tanto. A pedofilia sempre existiu no mundo, esse tipo de perversão é antiguíssimo. Mas com as possibilidades oferecidas pela virtualidade, a pedofilia, aumentou. Em uma reportagem do programa CQC (exibido às segundas, pela Band), na qual simulavam o quarto de uma adolescente de 15 anos, numa sala de bate-papo, vários homens maduros procuravam falar com a menina, e o único assunto era sexo e a exibição do órgão genital para sexo virtual. No mínimo asqueroso.
A meu ver isso é resultado dessa preguiça das relações, é muito mais fácil sexo virtual do que real, para pessoas sem conteúdo e com esse grau de perversão.
Os e-mails, por exemplo, são uma ótima ferramenta. Não apenas para nos comunicarmos, mas para divulgarmos eventos também. O perigo é o de se tornar uma forma para não se indispor com as pessoas, como nos bate-papos. Como assim? Ao invéz de solucionarmos uma situação frente-a-frente, mandamos um e-mail. É uma forma rápida de não ignorar o outro e ao mesmo tempo se livrar da situação indesejada. O perigo é se instaurar uma frieza, comparada ao fascismo.
As pessoas preferem dizer, “melhor não”, do que serem autênticos e sinceros. Acreditam que seja melhor falar por meias verdades do que na totalidade da verdade. Isso demonstra um traço de falta de personalidade. É mais fácil agir desta forma, porque conviver é difícil.
Viver em sociedade é comprometer-se. Fundamentalmente se comprometer com o outro, porque ninguém, por mais que queira, consegue viver sozinho e isolado completamente.
Nos dias de hoje esse comprometer-se é substituído de forma “higiênica”, pelos aparatos tecnológicos. E também, por causa do alto índice de criminalidade nos fechamos ainda mais. Não damos mais as mãos com medo de que nos levem o braço. Contudo, se pensarmos desta forma ficaremos sem nos relacionarmos. Como na letra exemplar de rap, A vida é desafio, dos Racionais Mc’s: “mundo moderno, as pessoas não se falam, ao contrário, se calam, se pisam, se traem, se matam”. Temos que mudar essa realidade, antes que nos tornemos seres não humanos.
Um dos fatores que elevam o índice das pessoas não se interessarem mais no conhecer, no relacionar-se é a Internet. Mas aí você pode dizer: Mas com a Internet podemos conhecer pessoas, mandar e-mails, bater-papo. Sim, podemos fazer tudo isso e muito mais. Contudo as relações são superficiais.
Não há o contato, a troca de olhares ou a cumplicidade de uma relação mutua entre as pessoas. Esse contato verdadeiro, não virtual, está cada vez mais escasso, as pessoas se limitam, e essa limitação é confortável. Se não queremos falar com determinada pessoa, ao invés de resolvermos o nosso problema com ela, simplesmente, a bloqueamos ou deletamos.
A Internet é uma ferramenta, e não uma condição para nos inter-relacionarmos uns com os outros. Ela limita e corrompe. Porque o que fazemos no mundo virtual queremos transpor para a realidade. A realidade, que deve ser tomada como verdade, está sendo subjugada pela virtualidade.
Outro problema do mundo virtual está ligado à criminalidade. A maioria das pessoas acredita que as leis do mundo real não se aplicam ao mundo virtual. Criam um avatar, um fake, e podem tudo. Estão legalmente protegidos em suas casas diante do aparato tecnológico. É a partir desta mentalidade que casos de pedofilia cresceram tanto. A pedofilia sempre existiu no mundo, esse tipo de perversão é antiguíssimo. Mas com as possibilidades oferecidas pela virtualidade, a pedofilia, aumentou. Em uma reportagem do programa CQC (exibido às segundas, pela Band), na qual simulavam o quarto de uma adolescente de 15 anos, numa sala de bate-papo, vários homens maduros procuravam falar com a menina, e o único assunto era sexo e a exibição do órgão genital para sexo virtual. No mínimo asqueroso.
A meu ver isso é resultado dessa preguiça das relações, é muito mais fácil sexo virtual do que real, para pessoas sem conteúdo e com esse grau de perversão.
Os e-mails, por exemplo, são uma ótima ferramenta. Não apenas para nos comunicarmos, mas para divulgarmos eventos também. O perigo é o de se tornar uma forma para não se indispor com as pessoas, como nos bate-papos. Como assim? Ao invéz de solucionarmos uma situação frente-a-frente, mandamos um e-mail. É uma forma rápida de não ignorar o outro e ao mesmo tempo se livrar da situação indesejada. O perigo é se instaurar uma frieza, comparada ao fascismo.
As pessoas preferem dizer, “melhor não”, do que serem autênticos e sinceros. Acreditam que seja melhor falar por meias verdades do que na totalidade da verdade. Isso demonstra um traço de falta de personalidade. É mais fácil agir desta forma, porque conviver é difícil.
Viver em sociedade é comprometer-se. Fundamentalmente se comprometer com o outro, porque ninguém, por mais que queira, consegue viver sozinho e isolado completamente.
Nos dias de hoje esse comprometer-se é substituído de forma “higiênica”, pelos aparatos tecnológicos. E também, por causa do alto índice de criminalidade nos fechamos ainda mais. Não damos mais as mãos com medo de que nos levem o braço. Contudo, se pensarmos desta forma ficaremos sem nos relacionarmos. Como na letra exemplar de rap, A vida é desafio, dos Racionais Mc’s: “mundo moderno, as pessoas não se falam, ao contrário, se calam, se pisam, se traem, se matam”. Temos que mudar essa realidade, antes que nos tornemos seres não humanos.
domingo, 12 de julho de 2009
ciclos
mais uma vez recomeço.
é duro cair na real de que aquilo que idealizamos como o ideal, desmorone.
há ruinas.
há cacos.
as vezes temos que renunciar mesmo gostando, mesmo amando.
não é sempre que amar é sinonimo de felicidade.
é duro cair na real de que aquilo que idealizamos como o ideal, desmorone.
há ruinas.
há cacos.
as vezes temos que renunciar mesmo gostando, mesmo amando.
não é sempre que amar é sinonimo de felicidade.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Qual o valor?
Há algum tempo estou lendo um livro do Dostoievski, Os Demônios. Digo algum tempo remetendo um longo período, coisa que não é da minha preferência. Gosto de começar e terminar rapidamente as minhas leituras. Contudo, com tantas coisas e “prioridades” o livro não ficou nem em segundo, mas em décimo plano.
Como algumas pessoas que me cercam já sabem, estou paradinha – literalmente parada – por conta de uma cirurgia. Aí que a leitura volta a ter um destaque.
Enfim, pela manhã, lendo, encontrei uma passagem muito sugestiva para os nossos dias, que demonstra toda a atualidade e genialidade profética de Dostoievski (um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos). A passagem é a seguinte:
“Toda a dúvida está apenas em saber: o que é mais belo, Shakespeare ou um par de botas, Rafael ou o petróleo?”
A frase me deixou, literalmente, de orelha em pé.
A título de esclarecimento, o livro Os demônios foi escrito através da motivação de um episódio verídico: o assassinato do estudante russo I. I. Ivanov pelo grupo niilista (em linhas gerais é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”) liderado por S. G. Nietcháiev em 1869. Um ano depois o livro foi concebido, com fins assumidamente panfletários.
O autor analisando o crime cometido pelo grupo niilista profetiza o que acontecerá posteriormente no século 20. Ele consegue vislumbrar os cruéis fanatismos de Hitler e Stálin. Desta forma, os demônios do título do livro são traduzidos como a violência, a ignorância, o terrorismo e a impostura ideológica. Estes demônios alegóricos mesmo no nosso século, o 21, continuam vivos sob novos disfarces.
Mas e a frase que eu escolhi? Por que me deixou de orelha em pé?
Em minha opinião ela retrata não só o que se passava nas pessoas, ditas práticas, do final do século 19. Mas ainda em nosso tempo muitos pensam: o que é mais importante, uma obra de arte ou um barril de petróleo?
O belo, o moralmente belo, está há muito tempo em decadência. Muitos – e muitos que eu digo podem se dizer muitos povos – se importam muito mais com as cifras e o poder do capital, do que com a beleza.
Shakespeare não tem a mesma utilidade – e ser útil é muito importante – de um par de botas. O importante é o valor de uso, de uso literal. Assim muitos podem achar mais importante um par de botas do que ler e entender, efetivamente, Shakespeare.
Mas por qual motivo deixamos de acreditar no abstrato em nome do útil?
Passamos a dar mais valor àquilo que é útil, na medida em que o capital se tornou essencial. Quando passamos a nos sentir bem consumindo um produto concreto. Ou seja, um produto que podemos mostrar às outras pessoas. A sociedade capitalista tornou-se exibicionista e arrogante.
Seguindo essa linha, não podemos mostrar, de fato, o livro de Shakespeare que acabamos de ler. Mas podemos mostrar o carro zero km., financiado em várias parcelas. É isso o que realmente importa, infelizmente, em nossa sociedade. Mesmo se você não tenha dinheiro para pagar todas as parcelas do financiamento, quem se importa? Mas você está figurando pelas ruas com o seu carro zero.
Na sociedade contemporânea capitalista é assim. Já afirmava Guy Debord no seu livro A sociedade do espetáculo (1967), a mercadoria virou espetáculo. A arte e a beleza não cumprem mais o seu papel conciliador na sociedade.
Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens e as mercadorias de tudo o que lhes falta em sua existência real. Fica a reflexão: Como mudar algo já estabelecido e consentido por todos?
Como algumas pessoas que me cercam já sabem, estou paradinha – literalmente parada – por conta de uma cirurgia. Aí que a leitura volta a ter um destaque.
Enfim, pela manhã, lendo, encontrei uma passagem muito sugestiva para os nossos dias, que demonstra toda a atualidade e genialidade profética de Dostoievski (um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos). A passagem é a seguinte:
“Toda a dúvida está apenas em saber: o que é mais belo, Shakespeare ou um par de botas, Rafael ou o petróleo?”
A frase me deixou, literalmente, de orelha em pé.
A título de esclarecimento, o livro Os demônios foi escrito através da motivação de um episódio verídico: o assassinato do estudante russo I. I. Ivanov pelo grupo niilista (em linhas gerais é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”) liderado por S. G. Nietcháiev em 1869. Um ano depois o livro foi concebido, com fins assumidamente panfletários.
O autor analisando o crime cometido pelo grupo niilista profetiza o que acontecerá posteriormente no século 20. Ele consegue vislumbrar os cruéis fanatismos de Hitler e Stálin. Desta forma, os demônios do título do livro são traduzidos como a violência, a ignorância, o terrorismo e a impostura ideológica. Estes demônios alegóricos mesmo no nosso século, o 21, continuam vivos sob novos disfarces.
Mas e a frase que eu escolhi? Por que me deixou de orelha em pé?
Em minha opinião ela retrata não só o que se passava nas pessoas, ditas práticas, do final do século 19. Mas ainda em nosso tempo muitos pensam: o que é mais importante, uma obra de arte ou um barril de petróleo?
O belo, o moralmente belo, está há muito tempo em decadência. Muitos – e muitos que eu digo podem se dizer muitos povos – se importam muito mais com as cifras e o poder do capital, do que com a beleza.
Shakespeare não tem a mesma utilidade – e ser útil é muito importante – de um par de botas. O importante é o valor de uso, de uso literal. Assim muitos podem achar mais importante um par de botas do que ler e entender, efetivamente, Shakespeare.
Mas por qual motivo deixamos de acreditar no abstrato em nome do útil?
Passamos a dar mais valor àquilo que é útil, na medida em que o capital se tornou essencial. Quando passamos a nos sentir bem consumindo um produto concreto. Ou seja, um produto que podemos mostrar às outras pessoas. A sociedade capitalista tornou-se exibicionista e arrogante.
Seguindo essa linha, não podemos mostrar, de fato, o livro de Shakespeare que acabamos de ler. Mas podemos mostrar o carro zero km., financiado em várias parcelas. É isso o que realmente importa, infelizmente, em nossa sociedade. Mesmo se você não tenha dinheiro para pagar todas as parcelas do financiamento, quem se importa? Mas você está figurando pelas ruas com o seu carro zero.
Na sociedade contemporânea capitalista é assim. Já afirmava Guy Debord no seu livro A sociedade do espetáculo (1967), a mercadoria virou espetáculo. A arte e a beleza não cumprem mais o seu papel conciliador na sociedade.
Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens e as mercadorias de tudo o que lhes falta em sua existência real. Fica a reflexão: Como mudar algo já estabelecido e consentido por todos?
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Os Movimentos Feministas: resistências verbais e não verbais
Sim, movimentos no plural. Descobri que não existe apenas um movimento feminista. Ao longo da história podemos notar várias manifestações pela igualdade das mulheres, configurando, assim, no plural.
Na Grécia Antiga a importância das mulheres era equivalente a dos escravos. Porque cidadão mesmo era só do sexo masculino e nascido por lá. Somente estes podiam participar da chamada democracia ateniense e ter a palavra na ágora (praça principal símbolo da democracia direta). Ou seja, para as mulheres nada.
Já na Roma Antiga elas eram consideradas perigosas. Principalmente quando tentavam reverter a situação vigente. Como no caso do uso dos transportes públicos. Porque os transportes públicos daquela época eram restritos aos homens-cidadãos. Mulher não era cidadã, logo, não podia usar esse serviço. Para todo lugar que a mulher romana queria se locomover tinha que ser a pé. Revoltadas marcaram hora com o Senado. Expuseram a situação. Mas não deu em nada. Continuaram a pé. O Senado Romano achou perigoso demais deixarem as mulheres se locomoverem usando os meios de transportes públicos, pois se abrissem essa exceção logo elas reivindicariam outras melhorias.
No longo período da Idade Média, ao contrário do que muitos podem pensar, o espaço de atuação política da mulher era maior. Elas atuavam em quase todas as profissões, e algumas freqüentavam universidades. Infelizmente na Renascença houve retrocesso e a caça às bruxas – milhares de mulheres foram queimadas vivas. Quem não se lembra de Joana d`Arc?
Todas essas primeiras vozes de contestação feminina que a história moderna registra se dirigem justamente contra a desigualdade sexual no acesso à educação e ao trabalho. As mulheres não queriam nada de extraordinário, não queriam tomar o poder de ninguém, apenas queriam e querem ser iguais.
Uma das formas de resistência e contestação feminina, não verbal, se configura quanto ao vestuário. É curioso notarmos que hoje as nossas roupas derivam, em parte, do estilo adotado pelas mulheres das classes média e operária do século 19, cujo comportamento não correspondia ao ideal feminino vitoriano da época.
Até no jeito de nos vestirmos tivemos que ir à luta!
As mulheres do século 19 romperam com o estilo dominante de vestuário – eficiente para manter fronteiras de gênero – quando começaram a trabalhar: as roupas tiveram que ser ágeis para facilitar os movimentos dentro do escritório, por exemplo.
Esse novo estilo, barato e descomplicado, cruzou as fronteiras de classe. Incorporava peças de roupa masculinas à vestimenta feminina (mas era distinto do cross-dressing), representava, consciente ou inconscientemente, uma forma de resistência ao estilo do vestuário dominante.
Representou uma espécie de inversão simbólica da mensagem dominante do vestuário feminino ao associá-lo ao masculino. Itens ligados à indumentária masculina ganharam novos significados. A tão esperada independência feminina estava a caminho. Contudo, o grau de controle social, na forma de hostilidade e zombaria que elas encontravam nos espaços públicos, tornou preferível uma forma amena de subversão simbólica: paletós e gravatas eram combinados com saias em vez de calças.
Somente na segunda metade do século 20 que as mulheres puderam usar calças. Graças às feministas lésbicas. As feministas dos anos 60 e 70 opunham-se às roupas da moda. Simone de Beauvoir definia a visão de moda das feministas, e criticava os discursos manipuladores sobre feminilidades latentes nos estilos de vestuário.
A primeira manifestação de massa do movimento de liberação feminina foi dirigida contra o concurso de Miss América em 1968, mais especificamente contra o estereótipo do corpo feminino como objeto sexual representado pelo concurso.
De lá para cá estamos em constante luta para a nossa igualdade.
Na Grécia Antiga a importância das mulheres era equivalente a dos escravos. Porque cidadão mesmo era só do sexo masculino e nascido por lá. Somente estes podiam participar da chamada democracia ateniense e ter a palavra na ágora (praça principal símbolo da democracia direta). Ou seja, para as mulheres nada.
Já na Roma Antiga elas eram consideradas perigosas. Principalmente quando tentavam reverter a situação vigente. Como no caso do uso dos transportes públicos. Porque os transportes públicos daquela época eram restritos aos homens-cidadãos. Mulher não era cidadã, logo, não podia usar esse serviço. Para todo lugar que a mulher romana queria se locomover tinha que ser a pé. Revoltadas marcaram hora com o Senado. Expuseram a situação. Mas não deu em nada. Continuaram a pé. O Senado Romano achou perigoso demais deixarem as mulheres se locomoverem usando os meios de transportes públicos, pois se abrissem essa exceção logo elas reivindicariam outras melhorias.
No longo período da Idade Média, ao contrário do que muitos podem pensar, o espaço de atuação política da mulher era maior. Elas atuavam em quase todas as profissões, e algumas freqüentavam universidades. Infelizmente na Renascença houve retrocesso e a caça às bruxas – milhares de mulheres foram queimadas vivas. Quem não se lembra de Joana d`Arc?
Todas essas primeiras vozes de contestação feminina que a história moderna registra se dirigem justamente contra a desigualdade sexual no acesso à educação e ao trabalho. As mulheres não queriam nada de extraordinário, não queriam tomar o poder de ninguém, apenas queriam e querem ser iguais.
Uma das formas de resistência e contestação feminina, não verbal, se configura quanto ao vestuário. É curioso notarmos que hoje as nossas roupas derivam, em parte, do estilo adotado pelas mulheres das classes média e operária do século 19, cujo comportamento não correspondia ao ideal feminino vitoriano da época.
Até no jeito de nos vestirmos tivemos que ir à luta!
As mulheres do século 19 romperam com o estilo dominante de vestuário – eficiente para manter fronteiras de gênero – quando começaram a trabalhar: as roupas tiveram que ser ágeis para facilitar os movimentos dentro do escritório, por exemplo.
Esse novo estilo, barato e descomplicado, cruzou as fronteiras de classe. Incorporava peças de roupa masculinas à vestimenta feminina (mas era distinto do cross-dressing), representava, consciente ou inconscientemente, uma forma de resistência ao estilo do vestuário dominante.
Representou uma espécie de inversão simbólica da mensagem dominante do vestuário feminino ao associá-lo ao masculino. Itens ligados à indumentária masculina ganharam novos significados. A tão esperada independência feminina estava a caminho. Contudo, o grau de controle social, na forma de hostilidade e zombaria que elas encontravam nos espaços públicos, tornou preferível uma forma amena de subversão simbólica: paletós e gravatas eram combinados com saias em vez de calças.
Somente na segunda metade do século 20 que as mulheres puderam usar calças. Graças às feministas lésbicas. As feministas dos anos 60 e 70 opunham-se às roupas da moda. Simone de Beauvoir definia a visão de moda das feministas, e criticava os discursos manipuladores sobre feminilidades latentes nos estilos de vestuário.
A primeira manifestação de massa do movimento de liberação feminina foi dirigida contra o concurso de Miss América em 1968, mais especificamente contra o estereótipo do corpo feminino como objeto sexual representado pelo concurso.
De lá para cá estamos em constante luta para a nossa igualdade.
sábado, 27 de junho de 2009
Acreditar é preciso
Acreditar em sonhos, e sonhar, é imprescindível para mantermos a esperança de vivermos buscando sempre a felicidade, porque ela nos mantém vivos. Quando o tempo fecha, não podemos nos abater, temos que ter coragem para seguirmos sempre em frente. Um dos pilares que solidificam as nossas bases para termos coragem é a família, fonte de amor. O amor é a única verdade universal, mantém a fé.
Estamos a cada dia nos esquecendo dos verdadeiros valores e virtudes dos seres humanos. E, desta forma, nos esquecendo de cultivar nas crianças – na educação – a idéia de pensar no futuro, ou seja, à longo prazo. Desde o nascimento as crianças não sentem nem ódio e nem ganância, a sociedade que acaba moldando esses valores e corrompendo. Já dizia o filosófico: “O homem por natureza é bom, a sociedade que o corrompe”. Se continuarmos nesse ritmo até as crianças serão corrompidas, desde muito pequenas, por esse mundo que só preza o consumo, o material e a aparência.
Quem tem muito quer ter mais, quem não tem nada quer ter algo. Esse ter, adquirir, possuir, é sempre o capital: o dinheiro. Hoje em dia, mais do que em qualquer outro tempo, em qualquer outra época, o dinheiro tornou-se o regulador moral das pessoas, da índole das pessoas.
Nessa busca sem valores pela felicidade esses indivíduos se perdem no caminho de suas vidas: “O rico teme perder a fortuna, o desempregado se afunda”. Os fracos se viciam nos entorpecentes, nos jogos e na banalidade. A ambição cega. O caminho da vida acaba sendo totalmente incerto.
As pessoas não falam mais a língua do amor, só a da ambição e da falsa união. Passam por cima uns dos outros se esquecendo que somos iguais, pares, irmãos. Nesse mundo da velocidade, infelizmente, o que vale é ser como um carro desgovernado, como aquele que não vê nada à sua frente. As pessoas se esbarram e se olham com agressividade, com preconceito, com soberba. Na maioria das cidades é assim, você espera um afeto e só vem preconceito, hostilidade e pressa, muita pressa. No fundo as pessoas, no seu íntimo, sonham com a liberdade, em ficar longe da maldade.
Não existe classe social para sonhar com justiça, honradez e felicidade. Quem mora num barraco de um cômodo, com uma janela, também tem os mesmos direitos. (infelizmente não é isso que acontece na realidade). Na real quem mora num barraco é sempre marginalizado. Não adianta se esforçar, será sempre um excluído. O futuro de quem mora num barraco será ser jogador de futebol, lutador de boxe ou laranja do tráfico. Nem o sonho lhe é de direito. E quando sonha não consegue ir muito além de sua realidade: sonha com uma medalha, com uma garota bonita, com o almejado lugar ao sol. Sonha com essas coisas porque não tem estudo, não tem educação.
Há mais de 500 anos o Brasil nutre esse formato socioeconômico, no qual ricos permanecem ricos e pobres permanecem pobres, e a população média flutua neste universo.
Contudo, a vida não pode ser encarada como um obstáculo incessante, e sim como uma lição a ser vencida e aprendida a cada dia.
A criminalidade não pode ser desculpa para as mazelas do nosso país. É claro que com essa realidade é bem mais fácil roubar do que estudar, mas ninguém disse que vencer e ter virtudes é algo fácil. Ser uma pessoa moralmente boa é dever, um dever ser. Uma lei moral a ser seguida, para vivermos em harmonia.
A vida é aprendizado, temos que ser persistentes para podermos alcançar as metas estabelecidas através dos nossos sonhos.
Estamos a cada dia nos esquecendo dos verdadeiros valores e virtudes dos seres humanos. E, desta forma, nos esquecendo de cultivar nas crianças – na educação – a idéia de pensar no futuro, ou seja, à longo prazo. Desde o nascimento as crianças não sentem nem ódio e nem ganância, a sociedade que acaba moldando esses valores e corrompendo. Já dizia o filosófico: “O homem por natureza é bom, a sociedade que o corrompe”. Se continuarmos nesse ritmo até as crianças serão corrompidas, desde muito pequenas, por esse mundo que só preza o consumo, o material e a aparência.
Quem tem muito quer ter mais, quem não tem nada quer ter algo. Esse ter, adquirir, possuir, é sempre o capital: o dinheiro. Hoje em dia, mais do que em qualquer outro tempo, em qualquer outra época, o dinheiro tornou-se o regulador moral das pessoas, da índole das pessoas.
Nessa busca sem valores pela felicidade esses indivíduos se perdem no caminho de suas vidas: “O rico teme perder a fortuna, o desempregado se afunda”. Os fracos se viciam nos entorpecentes, nos jogos e na banalidade. A ambição cega. O caminho da vida acaba sendo totalmente incerto.
As pessoas não falam mais a língua do amor, só a da ambição e da falsa união. Passam por cima uns dos outros se esquecendo que somos iguais, pares, irmãos. Nesse mundo da velocidade, infelizmente, o que vale é ser como um carro desgovernado, como aquele que não vê nada à sua frente. As pessoas se esbarram e se olham com agressividade, com preconceito, com soberba. Na maioria das cidades é assim, você espera um afeto e só vem preconceito, hostilidade e pressa, muita pressa. No fundo as pessoas, no seu íntimo, sonham com a liberdade, em ficar longe da maldade.
Não existe classe social para sonhar com justiça, honradez e felicidade. Quem mora num barraco de um cômodo, com uma janela, também tem os mesmos direitos. (infelizmente não é isso que acontece na realidade). Na real quem mora num barraco é sempre marginalizado. Não adianta se esforçar, será sempre um excluído. O futuro de quem mora num barraco será ser jogador de futebol, lutador de boxe ou laranja do tráfico. Nem o sonho lhe é de direito. E quando sonha não consegue ir muito além de sua realidade: sonha com uma medalha, com uma garota bonita, com o almejado lugar ao sol. Sonha com essas coisas porque não tem estudo, não tem educação.
Há mais de 500 anos o Brasil nutre esse formato socioeconômico, no qual ricos permanecem ricos e pobres permanecem pobres, e a população média flutua neste universo.
Contudo, a vida não pode ser encarada como um obstáculo incessante, e sim como uma lição a ser vencida e aprendida a cada dia.
A criminalidade não pode ser desculpa para as mazelas do nosso país. É claro que com essa realidade é bem mais fácil roubar do que estudar, mas ninguém disse que vencer e ter virtudes é algo fácil. Ser uma pessoa moralmente boa é dever, um dever ser. Uma lei moral a ser seguida, para vivermos em harmonia.
A vida é aprendizado, temos que ser persistentes para podermos alcançar as metas estabelecidas através dos nossos sonhos.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Ilusão mágica
Mágica do teatro. Pensando bem. Não só do teatro, mas também a do circo, de todas as apresentações que você tem contato com o todo do que está acontecendo. No cinema isso não ocorre. Na sala escura, gelada com a temperatura regulada pelo ar condicionado, o que vemos são reproduções. A mágica se perde quando a reprodução em série se instaura. Desde a xilogravura a arte(sanal) se reproduz. Mas a reprodução ainda não é em série. A imprensa se desenvolve e se multiplica. A fotografia surge. Com isso o pintor não precisa mais ir até o lugar que deseja pintar. Ele manda fotografar. Da fotografia sai o quadro. Ponto para a reprodução fotográfica. O sujeito-artista se enclausura. Ele não precisa mais sair de casa e se relacionar com o mundo para pintar o seu quadro, a sua interpretação da realidade. A verdade do quadro advém de uma (in)verdade, advém de uma representação captada pelo olho de alguém. E se ela é uma representação captada pelo olho de alguém ela já sofreu interferência. Já é interpretação. Portanto, o quadro pintado a partir de uma fotografia, mesmo que encomendada, é uma interpretação da interpretação. A foto se desenvolveu, ganhou movimento. O cinema surge. O século XX é o século do cinema. A arte é democratizada. As massas, à noitinha, no final do expediente vão para as filas dos cinemas. As massas, pela primeira vez, têm participação na arte. Porque agora, reproduzidas em películas são mais acessíveis. Não são como uma grande ópera. Onde somente a elite pode ter acesso. Outra coisa. O cinema, além de entreter também tem função terapêutica. Há quem diga que a função terapêutica se dá como nas vacinas. Mas como funcionam as vacinas? Quando após a aplicação a vacina atinge a corrente sangüínea. Lá o vírus ou a bactéria chamará a atenção das células de defesa. Produzirão um anticorpo contra o invasor. Depois de liquidar o falso inimigo, as células defensoras memorizam seu perfil e ensinam outras integrantes do sistema imunológico a atacá-lo. Se o organismo entrar em contato com o legítimo vírus ou bactéria, já terá todo o esquema armado para reconhecê-lo depressa. Quando corre o risco de se esquecer da estratégia, doses de reforço servem de treinamento. O cinema funciona exatamente da mesma maneira. Quando a noitinha os trabalhadores pegavam os seus bilhetes e rumavam às suas poltronas. Assistiam ao filme. O filme os preparava para viver na modernidade. Com todos os planos de seqüências, montagens, cortes nós nos acostumamos à rapidez da máquina que agora se insere no nosso dia-a-dia. Reza a lenda que em uma pequena cidade européia foram passar um filme. Na película, um trem desgovernado seguia em direção à tela. Como se fosse sair da tela. Num plano diagonal. Os espectadores, aterrorizados, saíram correndo do cinema. Acreditaram que o trem ia literalmente sair da tela. Seria uma tragédia, se não fosse ilusão. Essa ilusão do cinema, como nas vacinas, que nos prepara para a vida moderna. O cinema estimula o nosso inconsciente óptico. Através dele memorizamos os golpes de imagens e dos “absurdos mágicos”, dos efeitos especiais. Evitamos às neuroses. Esse é o valor terapêutico do cinema. Hoje precisamos de cinema 3D para sentir algo a mais na nossa imaginação. Dê preferência os bem trash. Que exploram o grotesco. Como um que eu assisti há alguns meses no cimema,Dia dos namorados sangrento (My bloddy Valentine). Filme que explora apenas a tecnologia 3D, e se esquece de todo o resto. A poesia foi esquecida em nome de uma racionalidade técnica.
Dia dos Namorados ou mais uma data do comércio?
O psicanalista e teórico crítico, Erich Fromm, já afirmava: “O amor é a única resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana”. Mas qual amor? Amor entre pais e filhos? Entre os familiares? Entre os irmãos de credo? Entre os povos? Ou entre os objetos de amor? No quais esses podem se tornar fetiches, que podem amenizar dores e suprirem carências.
A desintegração do amor na sociedade ocidental contemporânea tem íntima relação com o enfraquecimento dos vínculos pessoais. Hoje, por exemplo, nos relacionamos muito mais com os aparatos tecnológicos do que com as pessoas. Usamos a tecnologia como mediadora dos nossos relacionamentos.
Quando relacionamos o amor, com a data Dia dos Namorados, notamos o esquecimento do sentimento único, verdadeiro e transcendental para nos lembrarmos das compras, de não repetir o presente, de ser criativo (?). Propagandas televisivas de lojas locais apelam: “Neste mês dos namorados não dê vexames, dê presentes”. A Tela Quente exibiu a tosca comédia romântica de 2006, “Minha super ex-namorada”. A mídia também explora a sua fatia. A televisão abusa do tema e agradece pela data, porque a falta de criatividade das programações é grande!
E o sentimento? O verdadeiro laço sentimental é explorado, desenvolvido? A data criada para celebrar as uniões pelo amor só interessa aos donos de lojas que ficam abertas até às 22 horas na quarta, véspera de outra data, o feriado cristão de Corpus Christi (não muito “explorado”). Os funcionários, na sua quase totalidade, trabalham sem comissão adicional, ou seja, ganhando o mesmo que se fizesse expediente normal. Assim, como é de praxe, somente a figura emblemática do patrão é quem realmente lucra.
No macro universo virtual da Internet notamos portais como o Yahoo! Em destaque: “É o Amor! Yahoo! Lança site de Dia dos Namorados”. Lá podemos encontrar de tudo, desde dicas bacanas de presentes até motéis e restaurantes. O enunciado é dos mais cafonas: “Presente, jantar, troca de olhares, declarações e uma noite de amor para fechar com chave de ouro esta data. Vale a pena gastar um pouquinho mais e ter momentos felizes depois para recordar. Veja algumas sugestões de motéis para esquentar ainda mais o clima”, segue na seqüência a listagem dos motéis por ordem de preço ($$ - $$$- $$$$). Temos ainda que adequar o nosso gosto ao bolso. É a economia.
O pior ainda está por vir... Se você não tem namorado, tudo bem. Logo na “primeira página” do site encontramos a “janelinha” Yahoo encontros!, também com um enunciado: “Não tem ninguém para comemorar o Dia dos Namorados? Encontre seu futuro amor aqui!”.
Como assim? O meu futuro amor pode ser um encalhado que confia o seu próprio destino num site criado às pressas para estar na onda da data comemorativa? É muita pretensão de mercado.
O mais ridículo é o link: “Jogos para eles e elas”. Esse link dá raiva porque quando clicamos nele, pensamos que são jogos picantes para um momento a dois. Quando abre o link vemos que são jogos comuns do Yahoo!Games. Mais uma vez ponto para o item de site criado às pressas com sensacionalismo para prender a nossa atenção.
Infelizmente nos preocupamos com esses temas tão menores das nossas vidas. Liberamos muito tempo de nossas vidas com essas coisas, porque caso não fosse assim não teriam tantas matérias sobre esse assunto.
As pessoas ainda gostam de ler sobre “como apresentar um namorado à família”. A matéria intitulada: “Prazer em conhecer? Conheça alguns macetes para evitar constrangimentos na hora de levar seu affair em casa”. Esse é um exemplo de temas que concernem à moral e aos bons costumes de uma sociedade moralista. Ainda estão em alta.
A nós cabe apenas a reflexão de que se o amor seria uma arte?
A desintegração do amor na sociedade ocidental contemporânea tem íntima relação com o enfraquecimento dos vínculos pessoais. Hoje, por exemplo, nos relacionamos muito mais com os aparatos tecnológicos do que com as pessoas. Usamos a tecnologia como mediadora dos nossos relacionamentos.
Quando relacionamos o amor, com a data Dia dos Namorados, notamos o esquecimento do sentimento único, verdadeiro e transcendental para nos lembrarmos das compras, de não repetir o presente, de ser criativo (?). Propagandas televisivas de lojas locais apelam: “Neste mês dos namorados não dê vexames, dê presentes”. A Tela Quente exibiu a tosca comédia romântica de 2006, “Minha super ex-namorada”. A mídia também explora a sua fatia. A televisão abusa do tema e agradece pela data, porque a falta de criatividade das programações é grande!
E o sentimento? O verdadeiro laço sentimental é explorado, desenvolvido? A data criada para celebrar as uniões pelo amor só interessa aos donos de lojas que ficam abertas até às 22 horas na quarta, véspera de outra data, o feriado cristão de Corpus Christi (não muito “explorado”). Os funcionários, na sua quase totalidade, trabalham sem comissão adicional, ou seja, ganhando o mesmo que se fizesse expediente normal. Assim, como é de praxe, somente a figura emblemática do patrão é quem realmente lucra.
No macro universo virtual da Internet notamos portais como o Yahoo! Em destaque: “É o Amor! Yahoo! Lança site de Dia dos Namorados”. Lá podemos encontrar de tudo, desde dicas bacanas de presentes até motéis e restaurantes. O enunciado é dos mais cafonas: “Presente, jantar, troca de olhares, declarações e uma noite de amor para fechar com chave de ouro esta data. Vale a pena gastar um pouquinho mais e ter momentos felizes depois para recordar. Veja algumas sugestões de motéis para esquentar ainda mais o clima”, segue na seqüência a listagem dos motéis por ordem de preço ($$ - $$$- $$$$). Temos ainda que adequar o nosso gosto ao bolso. É a economia.
O pior ainda está por vir... Se você não tem namorado, tudo bem. Logo na “primeira página” do site encontramos a “janelinha” Yahoo encontros!, também com um enunciado: “Não tem ninguém para comemorar o Dia dos Namorados? Encontre seu futuro amor aqui!”.
Como assim? O meu futuro amor pode ser um encalhado que confia o seu próprio destino num site criado às pressas para estar na onda da data comemorativa? É muita pretensão de mercado.
O mais ridículo é o link: “Jogos para eles e elas”. Esse link dá raiva porque quando clicamos nele, pensamos que são jogos picantes para um momento a dois. Quando abre o link vemos que são jogos comuns do Yahoo!Games. Mais uma vez ponto para o item de site criado às pressas com sensacionalismo para prender a nossa atenção.
Infelizmente nos preocupamos com esses temas tão menores das nossas vidas. Liberamos muito tempo de nossas vidas com essas coisas, porque caso não fosse assim não teriam tantas matérias sobre esse assunto.
As pessoas ainda gostam de ler sobre “como apresentar um namorado à família”. A matéria intitulada: “Prazer em conhecer? Conheça alguns macetes para evitar constrangimentos na hora de levar seu affair em casa”. Esse é um exemplo de temas que concernem à moral e aos bons costumes de uma sociedade moralista. Ainda estão em alta.
A nós cabe apenas a reflexão de que se o amor seria uma arte?
segunda-feira, 8 de junho de 2009
caminho da felicidade
A felicidade estava a solta.
Mas estava a solta longe...longe...
Esses dias ele me encontrou novamente.
Olhei para ela, a encarei...
Pensei: não a deixarei ir para tão longe.
Mas estava a solta longe...longe...
Esses dias ele me encontrou novamente.
Olhei para ela, a encarei...
Pensei: não a deixarei ir para tão longe.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
À margem dos marginalizados
Os temas “exclusão e minorias”, “pedofilia” e “abusos” se apresenta nesta narrativa de maneira assustadora. Mesclada numa rede, peculiar e organizada, de mutações em série. Estão envolvidas crianças ultra-carentes e traficantes de menores. São vários os problemas que se entrelaçam: o tráfico de seres humanos, a modificação do corpo alheio, a escravização (sexual), a mais-valia (o lucro a qualquer preço).
A carência em todas as esferas empurra, invariavelmente, para as atitudes radicais, impensadas e desastrosas. A falta de educação, também, é um problema recorrente.
O caso, aqui, envolve hormônios femininos e adolescentes trazidos para São Paulo já travestidos.
Esses adolescentes com tendências homossexuais e paupérrimos se transformam em vítimas de procedimentos cirúrgicos arriscados. Como o caso de um menino do Pará de 17 anos, que morreu após terem injetado silicone industrial. A 2 anos a mãe tenta juntar migalhas e vir para São Paulo buscar o corpo do filho, que foi aliciado por essa rede.
Há lei contra isso? Sancionada pelo Presidente Lula, a lei 240/241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê prisão de 8 anos para quem facilita, entrega ou vende esses jovens para cafetões guadrilheiros.
Existe, neste caso, 2 tipos. Os cafetões que foram possivelmente abusados quando crianças e agora são abusadores. E outros são cafetões que vivem exclusivamente da miséria destas crianças, são aqueles exploradores que se interessam friamente apenas com o lucro que esses jovens travestis vão arrecadar nas ruas. 70% do lucro semanal vão para os cafetões, lucram de 100 a 1000 reais por semana em cima de cada travesti.
Antes destes meninos chegarem às ruas dos grandes centros para a prostituição-quase-escrava, eles são levados para festas. Nestas festas as crianças – como já disse pobres e carentes – começam a receber presentes. Ganham um guaraná, um lanche... Em troca, entregam a sua confiança, e principalmente a esperança de uma vida melhor, mais digna. Depois os aliciadores oferecem bebidas alcoólicas e os hormônios. Dos hormônios para as intervenções cirúrgicas é um pulo. Principalmente o uso freqüente do famoso silicone pelo corpo, dos botox nos lábios e bochechas, os apliques para cabelos. E, finalmente, chegam às ruas.
Muitos garotos se arrependem da mutação, mas o fizeram de forma inconsciente. Sofriam preconceito por ter traços femininos, trejeitos, e achavam que iriam amenizar o preconceito se fossem quase-mulheres. Esse é o argumento base desses aliciadores. Contudo, esses jovens travestis descobrem que a vida não será mais fácil se eles parecerem com mulheres. O preconceito está enraizado no interior de nossa sociedade. Infelizmente o mal está feito, e agora esse travesti terá que pagar pelas modificações corpóreas, e se não pagar em dinheiro pagará com a própria vida.
Essa grande rede nos assusta pela sua organização e pelo tipo exploratório, porque não deixa de ser exploração sexual praticamente escrava, visto que a grande parte do “salário” vai para os cafetões.
Mas, apenas cafetões e aliciadores estão envolvidos? Claro que não. Estão também envolvidos médicos, enfermeiras, farmacêuticos e, de certa forma, os pais (quando estes sabem e omitem a verdade). Todos só pensam no lucro. Esses jovens homossexuais, em potencia, se tornam fontes de renda, deixam de se configurarem como seres humanos. Os Direitos Humanos não existem para eles. E os Direitos Humanos se cumprem nestes lugarejos miseráveis do nosso país?
Portanto, especificamente o que é mais assustador são as condições patológicas de nossa sociedade que possibilita o surgimento dessas bizarrices, e se há uma comercialização exploratória destes seres humanos é porque há procura.
A carência em todas as esferas empurra, invariavelmente, para as atitudes radicais, impensadas e desastrosas. A falta de educação, também, é um problema recorrente.
O caso, aqui, envolve hormônios femininos e adolescentes trazidos para São Paulo já travestidos.
Esses adolescentes com tendências homossexuais e paupérrimos se transformam em vítimas de procedimentos cirúrgicos arriscados. Como o caso de um menino do Pará de 17 anos, que morreu após terem injetado silicone industrial. A 2 anos a mãe tenta juntar migalhas e vir para São Paulo buscar o corpo do filho, que foi aliciado por essa rede.
Há lei contra isso? Sancionada pelo Presidente Lula, a lei 240/241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê prisão de 8 anos para quem facilita, entrega ou vende esses jovens para cafetões guadrilheiros.
Existe, neste caso, 2 tipos. Os cafetões que foram possivelmente abusados quando crianças e agora são abusadores. E outros são cafetões que vivem exclusivamente da miséria destas crianças, são aqueles exploradores que se interessam friamente apenas com o lucro que esses jovens travestis vão arrecadar nas ruas. 70% do lucro semanal vão para os cafetões, lucram de 100 a 1000 reais por semana em cima de cada travesti.
Antes destes meninos chegarem às ruas dos grandes centros para a prostituição-quase-escrava, eles são levados para festas. Nestas festas as crianças – como já disse pobres e carentes – começam a receber presentes. Ganham um guaraná, um lanche... Em troca, entregam a sua confiança, e principalmente a esperança de uma vida melhor, mais digna. Depois os aliciadores oferecem bebidas alcoólicas e os hormônios. Dos hormônios para as intervenções cirúrgicas é um pulo. Principalmente o uso freqüente do famoso silicone pelo corpo, dos botox nos lábios e bochechas, os apliques para cabelos. E, finalmente, chegam às ruas.
Muitos garotos se arrependem da mutação, mas o fizeram de forma inconsciente. Sofriam preconceito por ter traços femininos, trejeitos, e achavam que iriam amenizar o preconceito se fossem quase-mulheres. Esse é o argumento base desses aliciadores. Contudo, esses jovens travestis descobrem que a vida não será mais fácil se eles parecerem com mulheres. O preconceito está enraizado no interior de nossa sociedade. Infelizmente o mal está feito, e agora esse travesti terá que pagar pelas modificações corpóreas, e se não pagar em dinheiro pagará com a própria vida.
Essa grande rede nos assusta pela sua organização e pelo tipo exploratório, porque não deixa de ser exploração sexual praticamente escrava, visto que a grande parte do “salário” vai para os cafetões.
Mas, apenas cafetões e aliciadores estão envolvidos? Claro que não. Estão também envolvidos médicos, enfermeiras, farmacêuticos e, de certa forma, os pais (quando estes sabem e omitem a verdade). Todos só pensam no lucro. Esses jovens homossexuais, em potencia, se tornam fontes de renda, deixam de se configurarem como seres humanos. Os Direitos Humanos não existem para eles. E os Direitos Humanos se cumprem nestes lugarejos miseráveis do nosso país?
Portanto, especificamente o que é mais assustador são as condições patológicas de nossa sociedade que possibilita o surgimento dessas bizarrices, e se há uma comercialização exploratória destes seres humanos é porque há procura.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Teoria Crítica, sociedade e Indústria Cultural
Nesta semana decidi falar especificamente de Filosofia, em especial, de uma “ramificação filosófica” contemporânea que discute temas relativos às condições de produção e recepção dos bens culturais sob a regência do capitalismo tardio, sobretudo, após a segunda metade dos anos 1930.
Esta “ramificação filosófica” – que no Brasil ficou conhecida como Escola de Frankfurt (nome da cidade alemã que abrigava o instituto) – era formulada pelos teóricos críticos que integravam o Instituto de Pesquisas Sociais. Horkheimer (então diretor do Instituto) inovou propondo uma “Filosofia Social”. Adorno que teorizou também sobre música. Herbert Marcuse, conhecido como “o filósofo”. Os “companheiros de viagem”, ou seja, aqueles que participaram de forma incisiva, porém não oficial: Walter Benjamin e Erich Fromm (entre outros).
Poderia me remeter a várias ramificações deste pensamento filosófico, aqui ressaltarei o lado estético, ou melhor, a nova guinada estética que ocorre nos anos 1930 e que ainda hoje tem influência na vida intelectual, traduzindo o clima criado pelo nascimento da arte moderna e pela irrupção dos movimentos de vanguarda.
Contextualizando. Todos esses pensadores abasteceram-se nas mesmas fontes filosóficas: no Idealismo e no Romantismo Alemão, de Kant, Hegel, Fichte e Schopenhauer. Todos naquela época lêem Marx, Nietzsche e Freud. Todos são afetados pelos temas do declínio, da decadência das crises que concernem tanto às ciências, ao conhecimento, aos valores tradicionais e às antigas certezas, quanto às artes e à cultura.
Neste mesmo período alguns filósofos dataram o início da decadência numa perversão da razão nascida a partir do século das Luzes, porém, encontram os primeiros sintomas da doença inerentes à racionalidade de Homero. É neste clima que surge o livro emblemático e multidisciplinarmente conhecido: A Dialética do Esclarecimento (1947).
Redigido por Adorno e Horkheimer nos EUA (quando estavam exilados por conta do nazismo na Alemanha), constitui-se como uma das obras fundamentais e mais citadas da Teoria Crítica. Nela os autores interrogam-se sobre o devir da arte e da cultura em geral na sociedade moderna.
Nos Estados Unidos os dois filósofos assistem ao prodigioso desenvolvimento das mídias, do cinema, da imprensa, do disco, da publicidade. A democratização cultural instaura o controle de uma nova forma de racionalidade, a da economia.
É neste livro que os autores forjam a famosa expressão de “Indústria Cultural”, para designar o aparecimento de uma cultura estandardizada, condicionada e comercializada segundo os modelos de bens de consumo. Caracteriza-se pela distribuição dos bens culturais, no qual o conceito de Cultura é rebaixado e é consolidada a cultura de massa.
Assim, o cinema e o rádio não passam de negócios, não são arte. Adorno e Horkheimer afirmam que “os automóveis, as bombas e o cinema mantém coeso o todo”. Portanto, a lógica da indústria cultural é tão necessária quanto a lógica econômica e bélica.
A Indústria Cultural, ainda nos dias de hoje, demonstra claramente que permanecemos neste nível cultural, massificado e industrialmente distribuído pelos estúdios de cinema, pelas emissoras de televisão, pelo rádio – e agora pela internet.
Após 62 anos da publicação deste texto a nossa sociedade continua atrelada moralmente à indústria do entretenimento. Nada escapa a essa indústria. Dos vídeos do You Tube aos filmes cults iranianos. De Hollywood à Bollywood.
O que nos resta é fazer crítica séria e tentar uma emancipação. A crítica deve ser imanente, feita dentro da própria estrutura capitalista, para sairmos dessa planificada cultura.
Esta “ramificação filosófica” – que no Brasil ficou conhecida como Escola de Frankfurt (nome da cidade alemã que abrigava o instituto) – era formulada pelos teóricos críticos que integravam o Instituto de Pesquisas Sociais. Horkheimer (então diretor do Instituto) inovou propondo uma “Filosofia Social”. Adorno que teorizou também sobre música. Herbert Marcuse, conhecido como “o filósofo”. Os “companheiros de viagem”, ou seja, aqueles que participaram de forma incisiva, porém não oficial: Walter Benjamin e Erich Fromm (entre outros).
Poderia me remeter a várias ramificações deste pensamento filosófico, aqui ressaltarei o lado estético, ou melhor, a nova guinada estética que ocorre nos anos 1930 e que ainda hoje tem influência na vida intelectual, traduzindo o clima criado pelo nascimento da arte moderna e pela irrupção dos movimentos de vanguarda.
Contextualizando. Todos esses pensadores abasteceram-se nas mesmas fontes filosóficas: no Idealismo e no Romantismo Alemão, de Kant, Hegel, Fichte e Schopenhauer. Todos naquela época lêem Marx, Nietzsche e Freud. Todos são afetados pelos temas do declínio, da decadência das crises que concernem tanto às ciências, ao conhecimento, aos valores tradicionais e às antigas certezas, quanto às artes e à cultura.
Neste mesmo período alguns filósofos dataram o início da decadência numa perversão da razão nascida a partir do século das Luzes, porém, encontram os primeiros sintomas da doença inerentes à racionalidade de Homero. É neste clima que surge o livro emblemático e multidisciplinarmente conhecido: A Dialética do Esclarecimento (1947).
Redigido por Adorno e Horkheimer nos EUA (quando estavam exilados por conta do nazismo na Alemanha), constitui-se como uma das obras fundamentais e mais citadas da Teoria Crítica. Nela os autores interrogam-se sobre o devir da arte e da cultura em geral na sociedade moderna.
Nos Estados Unidos os dois filósofos assistem ao prodigioso desenvolvimento das mídias, do cinema, da imprensa, do disco, da publicidade. A democratização cultural instaura o controle de uma nova forma de racionalidade, a da economia.
É neste livro que os autores forjam a famosa expressão de “Indústria Cultural”, para designar o aparecimento de uma cultura estandardizada, condicionada e comercializada segundo os modelos de bens de consumo. Caracteriza-se pela distribuição dos bens culturais, no qual o conceito de Cultura é rebaixado e é consolidada a cultura de massa.
Assim, o cinema e o rádio não passam de negócios, não são arte. Adorno e Horkheimer afirmam que “os automóveis, as bombas e o cinema mantém coeso o todo”. Portanto, a lógica da indústria cultural é tão necessária quanto a lógica econômica e bélica.
A Indústria Cultural, ainda nos dias de hoje, demonstra claramente que permanecemos neste nível cultural, massificado e industrialmente distribuído pelos estúdios de cinema, pelas emissoras de televisão, pelo rádio – e agora pela internet.
Após 62 anos da publicação deste texto a nossa sociedade continua atrelada moralmente à indústria do entretenimento. Nada escapa a essa indústria. Dos vídeos do You Tube aos filmes cults iranianos. De Hollywood à Bollywood.
O que nos resta é fazer crítica séria e tentar uma emancipação. A crítica deve ser imanente, feita dentro da própria estrutura capitalista, para sairmos dessa planificada cultura.
domingo, 24 de maio de 2009
Ponte
Nos conhecemos no Bosque.
No bosque havia um lindo parque, com castelo, ponte, e jardins.
Um dia. Na ponte. Ele me olhou sob o luar. Era tarde já.
Na ponte nos beijamos (pela primeira vez).
O beijo foi arrebatador.
Ainda hoje tenho vontade de repetir.
E repito sempre,
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Combina
Excita
Direito de rever o voto
O ilustre deputado, fidalgo e bem criado, Fernando Ribas Carli Filho (PSB), não se atentou para as boas maneiras do trânsito. Acabou no último dia 7 de Maio, ceifando vidas inocentes – Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, e Gilmar Yared Filho, de 26 anos. Agora é esperado, ao menos, que seu partido político mostre para a sociedade que o parlamentar não é digno da legenda, expulsando-o do partido. Com a assembléia cassando seu mandato, indo a júri popular. Sendo condenado e preso, bem como a justiça cível condenando-o por danos materiais e morais. Mas a realidade nem sempre é tão justa, estamos caminhando.
Vamos voltar um pouco.
De início, a família e os amigos tentaram abafar a gravidade do acidente e suas circunstâncias. Chegaram a ponto de se valerem das relações políticas que mantém. O caso ficou restrito a um mero acidente com duas mortes, estando o motorista causador entre a vida e a morte.
A pressão veio por toda parte, fundamentalmente, das partes dos familiares dos dois cidadãos de bem. Cansados de impunidade utilizaram a internet para mobilizar os seus iguais.
A internet se tornou uma importante ferramenta na participação ativa da política, e desta forma, da justiça. Neste caso foi usada para difundir a realidade.
Desde que o fato foi noticiado, uma saraivada de e-mails foi disparada, inclusive para a mídia nacional. O bloqueio foi furado (mas ainda há resistência).
Começaram a surgir elementos essenciais do caso, tais como: a habilitação cassada do parlamentar, 130 pontos na carteira, suas 30 multas dos últimos 6 anos, 23 multas por excesso de velocidade, as quatro garrafas de vinho no restaurante antes de pegar o carro e coisas do gênero.
Eu mesma recebi um e-mail no dia 17. Tal e-mail, intitulado “Homenagem à Gilmar Yared Filho”, tem como propósito arrecadar pelo menos mil assinaturas digitais para serem enviadas à Assembléia Legislativa do Paraná.
É lá que estão providenciando os procedimentos legais que serão adotados para analisar o pedido de cassação do mandato do deputado. O documento cobrando a perda de mandato por quebra de decoro parlamentar, já foi protocolado na Assembléia pelo advogado da família de Gilmar Yared Filho.
Pesquisei na internet sobre essa notícia. Encontrei a carta de Gilmar Yared, pai de uma das vítimas. Ele critica a TV paranaense, por ter editado o material gravado, beneficiando o deputado, amenizando os fatos. Indignado, afirma que o Poder Público está à disposição do deputado. E ainda, que no hospital, enfermeiros comentaram “que foi encontrado cocaína em seu sangue e tudo sendo escondido pelas autoridades, médicos e imprensa”.
Ainda na carta, Gilmar, relata coisas ainda mais obscuras neste caso, que despercebido pode parecer com mais um acidente de transito. O seu irmão, apresentador da TV Educativa, foi afastado de seu programa. Prossegue, “na CBN colegas jornalistas estão indignados com o cerceamento de informações”.
É assustador imaginar perder um filho, e ainda por cima, ter a sua vida de seus familiares modificadas para sempre.
Para que esse Estado de terror não seja imposto, para que o povo mantenha os seus direitos, é importante todos se juntarem a essa campanha e encaminharem e-mails para os seus contatos. É só acrescentar nomes e enviar, quando chegarem a mil nomes, para o corregedor-geral da Assembléia Legislativa, Deputado Luiz Accorsi (PSDB), para o Ministério da Justiça e para o Presidente da República.
O importante agora é provar que as mesmas pessoas que elegem um deputado, também têm consciência para saber o que é melhor para a sociedade.
Vamos voltar um pouco.
De início, a família e os amigos tentaram abafar a gravidade do acidente e suas circunstâncias. Chegaram a ponto de se valerem das relações políticas que mantém. O caso ficou restrito a um mero acidente com duas mortes, estando o motorista causador entre a vida e a morte.
A pressão veio por toda parte, fundamentalmente, das partes dos familiares dos dois cidadãos de bem. Cansados de impunidade utilizaram a internet para mobilizar os seus iguais.
A internet se tornou uma importante ferramenta na participação ativa da política, e desta forma, da justiça. Neste caso foi usada para difundir a realidade.
Desde que o fato foi noticiado, uma saraivada de e-mails foi disparada, inclusive para a mídia nacional. O bloqueio foi furado (mas ainda há resistência).
Começaram a surgir elementos essenciais do caso, tais como: a habilitação cassada do parlamentar, 130 pontos na carteira, suas 30 multas dos últimos 6 anos, 23 multas por excesso de velocidade, as quatro garrafas de vinho no restaurante antes de pegar o carro e coisas do gênero.
Eu mesma recebi um e-mail no dia 17. Tal e-mail, intitulado “Homenagem à Gilmar Yared Filho”, tem como propósito arrecadar pelo menos mil assinaturas digitais para serem enviadas à Assembléia Legislativa do Paraná.
É lá que estão providenciando os procedimentos legais que serão adotados para analisar o pedido de cassação do mandato do deputado. O documento cobrando a perda de mandato por quebra de decoro parlamentar, já foi protocolado na Assembléia pelo advogado da família de Gilmar Yared Filho.
Pesquisei na internet sobre essa notícia. Encontrei a carta de Gilmar Yared, pai de uma das vítimas. Ele critica a TV paranaense, por ter editado o material gravado, beneficiando o deputado, amenizando os fatos. Indignado, afirma que o Poder Público está à disposição do deputado. E ainda, que no hospital, enfermeiros comentaram “que foi encontrado cocaína em seu sangue e tudo sendo escondido pelas autoridades, médicos e imprensa”.
Ainda na carta, Gilmar, relata coisas ainda mais obscuras neste caso, que despercebido pode parecer com mais um acidente de transito. O seu irmão, apresentador da TV Educativa, foi afastado de seu programa. Prossegue, “na CBN colegas jornalistas estão indignados com o cerceamento de informações”.
É assustador imaginar perder um filho, e ainda por cima, ter a sua vida de seus familiares modificadas para sempre.
Para que esse Estado de terror não seja imposto, para que o povo mantenha os seus direitos, é importante todos se juntarem a essa campanha e encaminharem e-mails para os seus contatos. É só acrescentar nomes e enviar, quando chegarem a mil nomes, para o corregedor-geral da Assembléia Legislativa, Deputado Luiz Accorsi (PSDB), para o Ministério da Justiça e para o Presidente da República.
O importante agora é provar que as mesmas pessoas que elegem um deputado, também têm consciência para saber o que é melhor para a sociedade.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Absurdos Inesperados
Estava pensando sobre o que escrever nesta semana, e eis que na quarta-feira à noite eu recebo um panfleto de um grupo de alunas da USC, elas apresentavam um seminário sobre ética do embrião. Resumindo, esse panfleto era do Hemonúcleo do Hospital de Base de Bauru, em parceria com a IESB, sobre como se tornar um doador de sangue. Tudo normal. Tudo nos padrões.
Comecei a ler e notei algo estranho, na verdade, bem estranho. Havia um tópico que dizia: “não ter hábitos homossexuais e bissexuais”. Grifei. E esperei. Fui para casa e, inconformada, fui pesquisar no “grande oráculo” moderno, o Google. Descobri que essa mesma frase maldosa, criminosa e preconceituosa está em vários sites, matérias de jornais e informativos de todo o país. Do Acre ao Rio Grande do Sul.
Me pergunto: quando este informativo foi escrito? Quem o fez? Será que ninguém se atentou para o fato de que esta frase enraíza o preconceito? Em vez de esclarecer, esse tipo de material – que segue a linha: “O que você deve saber antes de doar sangue” – serve para mitificar ainda mais a sociedade. Simplesmente porque essa informação não expressa a verdade. Ela é falsa.
Analisando. Como um governo democrático não tomou conhecimento da circulação desta informação? Acho que por falta de atenção. Não há diferença biológica entre gays, lésbicas ou simpatizantes. Heterossexuais não têm sangue “melhor”. Sangue é sangue. Na hora que você está em um leito de hospital, precisando receber sangue, certamente não perguntará se aquele sangue é de algum gay.
Só para constar, não existem mais os “grupos de risco”. Hoje em dia, todos nós estamos em risco. Na porcentagem, mulheres casadas com mais de cinqüenta anos estão entre os novos portadores do vírus do HIV.
Ainda analisando. Como assim ter “hábitos” homossexuais e bissexuais? Então podemos concluir que ser gay é um hábito? Nós temos o hábito de dormir tarde, temos o hábito de usar jeans, o hábito de não comer nada pela manhã. Agora, a orientação sexual não pode ser um hábito, tem que ser, no mínimo, uma escolha.
Concluindo. Frases como essas só servem para emburrecer o povo, isso é mitificar. É pegar um conceito já desmistificado e inserir um novo mito. Uma informação falsa como essa faz o mito do preconceito ganhar forças, e se instaura para sempre em nossa sociedade. Ele apenas se mutaciona. O preconceito pode vir, historicamente, de forma escancarada, como aconteceu na Alemanha nazista. A higienização de raças inferiores pelas superiores. Reflito sobre a Alemanha para ressaltar que não só judeus foram para os campos de concentração, mas também, ciganos e homossexuais (entre outros).
Essa foi a pior parte do informativo, a mais repulsiva e mentirosa. Mas não parava por ai. Nos tópicos seguiam: “Não ter hábitos promíscuos” e “não ser usuário de drogas”. Moralmente e legalmente condenáveis. Contudo, hábitos promíscuos remetem a “mocinha (o) que sai com todo mundo”. Ok. O que deveria ser explícito, no entanto, era a importância do uso de preservativo em TODAS as relações sexuais. Não importa se você transa com um homem e você é um homem. Não importa se é uma garota que gosta de transar com um monte de homens. O que importa é se nessas transas você está usando preservativo.
O mesmo com acontece com o tópico “não ser usuário de drogas”. É obvio que o uso de drogas não é algo bom, e nem legalmente permitido. Mas seguindo a linha de desmistificação, seria importante ressaltar neste tópico: “não compartilhar seringas”. Porque o objetivo do informativo é pré-selecionar o sangue coletado. Pensando assim, não só usuários de drogas que compartilham seringas terão o sangue descartado, mas também, aqueles pit-boys que compartilham seringas ao auto-injetar substâncias anabolizantes. O esclarecimento tem que prevalecer em uma sociedade democrática. Toda a forma de preconceito é repulsiva, não podemos permitir a propagação deste material impunemente, pois no governo do povo, o povo deve agir.
Comecei a ler e notei algo estranho, na verdade, bem estranho. Havia um tópico que dizia: “não ter hábitos homossexuais e bissexuais”. Grifei. E esperei. Fui para casa e, inconformada, fui pesquisar no “grande oráculo” moderno, o Google. Descobri que essa mesma frase maldosa, criminosa e preconceituosa está em vários sites, matérias de jornais e informativos de todo o país. Do Acre ao Rio Grande do Sul.
Me pergunto: quando este informativo foi escrito? Quem o fez? Será que ninguém se atentou para o fato de que esta frase enraíza o preconceito? Em vez de esclarecer, esse tipo de material – que segue a linha: “O que você deve saber antes de doar sangue” – serve para mitificar ainda mais a sociedade. Simplesmente porque essa informação não expressa a verdade. Ela é falsa.
Analisando. Como um governo democrático não tomou conhecimento da circulação desta informação? Acho que por falta de atenção. Não há diferença biológica entre gays, lésbicas ou simpatizantes. Heterossexuais não têm sangue “melhor”. Sangue é sangue. Na hora que você está em um leito de hospital, precisando receber sangue, certamente não perguntará se aquele sangue é de algum gay.
Só para constar, não existem mais os “grupos de risco”. Hoje em dia, todos nós estamos em risco. Na porcentagem, mulheres casadas com mais de cinqüenta anos estão entre os novos portadores do vírus do HIV.
Ainda analisando. Como assim ter “hábitos” homossexuais e bissexuais? Então podemos concluir que ser gay é um hábito? Nós temos o hábito de dormir tarde, temos o hábito de usar jeans, o hábito de não comer nada pela manhã. Agora, a orientação sexual não pode ser um hábito, tem que ser, no mínimo, uma escolha.
Concluindo. Frases como essas só servem para emburrecer o povo, isso é mitificar. É pegar um conceito já desmistificado e inserir um novo mito. Uma informação falsa como essa faz o mito do preconceito ganhar forças, e se instaura para sempre em nossa sociedade. Ele apenas se mutaciona. O preconceito pode vir, historicamente, de forma escancarada, como aconteceu na Alemanha nazista. A higienização de raças inferiores pelas superiores. Reflito sobre a Alemanha para ressaltar que não só judeus foram para os campos de concentração, mas também, ciganos e homossexuais (entre outros).
Essa foi a pior parte do informativo, a mais repulsiva e mentirosa. Mas não parava por ai. Nos tópicos seguiam: “Não ter hábitos promíscuos” e “não ser usuário de drogas”. Moralmente e legalmente condenáveis. Contudo, hábitos promíscuos remetem a “mocinha (o) que sai com todo mundo”. Ok. O que deveria ser explícito, no entanto, era a importância do uso de preservativo em TODAS as relações sexuais. Não importa se você transa com um homem e você é um homem. Não importa se é uma garota que gosta de transar com um monte de homens. O que importa é se nessas transas você está usando preservativo.
O mesmo com acontece com o tópico “não ser usuário de drogas”. É obvio que o uso de drogas não é algo bom, e nem legalmente permitido. Mas seguindo a linha de desmistificação, seria importante ressaltar neste tópico: “não compartilhar seringas”. Porque o objetivo do informativo é pré-selecionar o sangue coletado. Pensando assim, não só usuários de drogas que compartilham seringas terão o sangue descartado, mas também, aqueles pit-boys que compartilham seringas ao auto-injetar substâncias anabolizantes. O esclarecimento tem que prevalecer em uma sociedade democrática. Toda a forma de preconceito é repulsiva, não podemos permitir a propagação deste material impunemente, pois no governo do povo, o povo deve agir.
Moda: democratização e controle social
Outro dia estava pensando um pouco como as nossas roupas podem influenciar as nossas vidas, e cheguei a conclusão de que o nosso vestuário, o jeito como nos vestimos, pode ser considerado tanto como um instrumento de realce de si mesmo quanto uma forma de controle social. Porque as roupas da moda, antigamente e ainda hoje, podem ser usadas para elevar o capital social do indivíduo ou para limitar as suas funções sociais.
Durante o século XIX as roupas da moda eram acessíveis principalmente às classes média e alta, hoje em dia, com a democratização da moda isso se expandiu para todas as classes sociais, a moda está em todos os lugares, basta ter o chamado estilo e compor o seu look.
É claro que a moda como conceito é acessível a todos, mas qualitativamente não, sabemos que as roupas feitas em larga escala não possuem a mesma qualidade de uma peça única, porque há por trás o interesse “nobre” no lucro. E se usam tecidos de qualidade não sobra tanta margem para lucro. Marx já falara muito bem sobre isso no livro O Capital.
As tecnologias também desempenham o seu papel quando o assunto é democratização da moda, já que simplificam a produção de roupas, tanto em casa como em fábricas. Um exemplo deste fenômeno tecnológico são as máquinas de costura modernas que começaram a ser comercializadas (quase sempre financiadas) nos Estados Unidos no final do século XIX, e as mulheres puderam fazer as suas próprias roupas usando moldes oferecidos pelas próprias empresas que fabricavam essas máquinas de costura. Esse foi um fator decisivo e contribuiu para a democratização final das roupas. Todo esse empenho da mulher do século XIX em se parecer socialmente de uma classe mais elevada demonstra a importância simbólica do vestuário e como ele pode ser uma ferramenta de realce de si mesmo, ainda nos dias de hoje.
Outro ponto de destaque é o uso de uniformes, que desde o século XIX representa um instrumento de controle social, imposto principalmente aos trabalhadores provenientes da classe operária. Os uniformes servem como lembretes úteis de que o conteúdo da comunicação interpessoal nos locais em que são usados deveria limitar-se a informações sobre a tarefa desempenhada, reforçando a separação entre classes sociais e mesmo entre empregador e empregado numa mesma casa.
Muitas empresas especializadas em uniformes utilizam slogans para mistificar o uso de uniformes como sendo algo enaltecedor, o que não o é. Facilmente podemos encontrar por aí empresas que dizem: “Usar uniformes significa mais do que praticidade. É também vestir a camisa da empresa e valorizar o local de trabalho, aumentando a motivação e a auto-estima da equipe, melhorando o seu rendimento”. Rendimento! Claro, o que importa é a imagem da empresa somada ao rendimento da empresa, sempre o que importa são os números.
Agora, eu não consigo entender como os uniformes motivam a auto-estima da equipe. Eu não me sentiria motivada em trabalhar em uma empresa em que todos se vestem iguais, e são iguais, como robôs. É claro que em certas profissões o uso de uniformes é necessário para sinalizar a sua função, como no caso de bombeiros e de policiais. Mas expandir o uso de uniformes para todos os âmbitos da linha de produção e acreditar em slogans como “Muito mais do que uniformes: uma opção para quem gosta do que faz”. Aí já é sacanagem! Desde quando usar o uniforme da empresa é uma opção? É na verdade uma imposição.
Os códigos de vestuário constituem um meio sutil de recordar aos trabalhadores a necessidade de se conformar às normas e aos valores das culturas organizacionais. Ou seja, esses códigos de vestuário são normas implícitas, que rapidamente são assimiladas pela sociedade. Baseia-se na idéia de que estar bem-vestido é uma indicação de respeitabilidade, de status.
Assim, moda e sociedade andam juntas e discutem política, e nós, reles mortais, mais uma vez somos marionetes de um jogo social muito maior.
Durante o século XIX as roupas da moda eram acessíveis principalmente às classes média e alta, hoje em dia, com a democratização da moda isso se expandiu para todas as classes sociais, a moda está em todos os lugares, basta ter o chamado estilo e compor o seu look.
É claro que a moda como conceito é acessível a todos, mas qualitativamente não, sabemos que as roupas feitas em larga escala não possuem a mesma qualidade de uma peça única, porque há por trás o interesse “nobre” no lucro. E se usam tecidos de qualidade não sobra tanta margem para lucro. Marx já falara muito bem sobre isso no livro O Capital.
As tecnologias também desempenham o seu papel quando o assunto é democratização da moda, já que simplificam a produção de roupas, tanto em casa como em fábricas. Um exemplo deste fenômeno tecnológico são as máquinas de costura modernas que começaram a ser comercializadas (quase sempre financiadas) nos Estados Unidos no final do século XIX, e as mulheres puderam fazer as suas próprias roupas usando moldes oferecidos pelas próprias empresas que fabricavam essas máquinas de costura. Esse foi um fator decisivo e contribuiu para a democratização final das roupas. Todo esse empenho da mulher do século XIX em se parecer socialmente de uma classe mais elevada demonstra a importância simbólica do vestuário e como ele pode ser uma ferramenta de realce de si mesmo, ainda nos dias de hoje.
Outro ponto de destaque é o uso de uniformes, que desde o século XIX representa um instrumento de controle social, imposto principalmente aos trabalhadores provenientes da classe operária. Os uniformes servem como lembretes úteis de que o conteúdo da comunicação interpessoal nos locais em que são usados deveria limitar-se a informações sobre a tarefa desempenhada, reforçando a separação entre classes sociais e mesmo entre empregador e empregado numa mesma casa.
Muitas empresas especializadas em uniformes utilizam slogans para mistificar o uso de uniformes como sendo algo enaltecedor, o que não o é. Facilmente podemos encontrar por aí empresas que dizem: “Usar uniformes significa mais do que praticidade. É também vestir a camisa da empresa e valorizar o local de trabalho, aumentando a motivação e a auto-estima da equipe, melhorando o seu rendimento”. Rendimento! Claro, o que importa é a imagem da empresa somada ao rendimento da empresa, sempre o que importa são os números.
Agora, eu não consigo entender como os uniformes motivam a auto-estima da equipe. Eu não me sentiria motivada em trabalhar em uma empresa em que todos se vestem iguais, e são iguais, como robôs. É claro que em certas profissões o uso de uniformes é necessário para sinalizar a sua função, como no caso de bombeiros e de policiais. Mas expandir o uso de uniformes para todos os âmbitos da linha de produção e acreditar em slogans como “Muito mais do que uniformes: uma opção para quem gosta do que faz”. Aí já é sacanagem! Desde quando usar o uniforme da empresa é uma opção? É na verdade uma imposição.
Os códigos de vestuário constituem um meio sutil de recordar aos trabalhadores a necessidade de se conformar às normas e aos valores das culturas organizacionais. Ou seja, esses códigos de vestuário são normas implícitas, que rapidamente são assimiladas pela sociedade. Baseia-se na idéia de que estar bem-vestido é uma indicação de respeitabilidade, de status.
Assim, moda e sociedade andam juntas e discutem política, e nós, reles mortais, mais uma vez somos marionetes de um jogo social muito maior.
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